Assim que pisei fora do aeroporto, um bafo quente e úmido bateu no meu rosto. Era o tipo de calor que grudava na pele, mas não incomodava. Era um calor que envolvia, quase como um abraço da própria Bahia dizendo: “Você tá em casa, minha filha.” O motorista do carro por aplicativo era um senhor simpático, falante, de boné do Bahia e com um rádio antigo tocando Axé 90 Graus. — Primeira vez aqui, moça? - ele perguntou, puxando conversa. Hadassa: Primeira vez que eu me permito descansar.- respondi com um meio sorriso e observando as ruas por onde passavamos. — Pois se achegue! Aqui tem mar, tem festa, tem paz... Mas o melhor da Bahia é o tempo. Aqui ninguém corre, não. Tudo no seu tempo. Aquilo ficou na minha cabeça: tudo no seu tempo. O carro dobrou a última curva da orla, abri o vidro pra sentir o vento do litoral bater no rosto. O cheiro do mar, da maresia salgada, vinha como um bálsamo, como se a própria Bahia a estivesse recebendo com braços abertos e um recado: "Você fez certo em vir." Quando o veículo parou, tirei os óculos escuros devagar. O hotel… era simplesmente deslumbrante. Um casarão restaurado no estilo colonial, paredes brancas com detalhes em azul anil, janelas amplas com varandas floridas e palmeiras contornando a entrada principal. O nome era singelo: “Encanto do Mar”, mas o lugar fazia jus. A recepção era arejada, decorada com peças artesanais, quadros coloridos de artistas locais e uma escultura de Iemanjá logo na entrada, com flores frescas e velas acesas ao redor. — Seja muito bem-vinda, dona Hadassa — disse a recepcionista sorridente, com sotaque arrastado e acolhedor. — Seu quarto já tá pronto. Vista pro mar, conforme pediu. O elevador era de vidro e ia revelando aos poucos o azul sem fim do Atlântico. Ao chegar no terceiro andar, a porta do quarto abriu, e parei por um instante. A vista tirava o fôlego. Uma parede inteira de vidro, cortinas de linho branco balançando com a brisa, e além delas… o mar. Um azul vivo, infinito, onde as ondas vinham e iam num ritmo que parecia massagear a alma. Havia uma rede pendurada na varanda, uma banheira ao lado da janela e uma cama enorme com lençóis brancos e almofadas azuis como o céu. Larguei a mala no canto, tirei os chinelos e fui direto pra varanda. Me joguei na rede, senti a brisa bater no rosto, fechei os olhos e deixei o som do mar invadir tudo. Nenhum barulho de moto, de tiro, de discussão. Nenhuma preocupação com loja, com favela, com homem. Só eu. Ali, naquele quarto de hotel de frente pro mar da Bahia, senti pela primeira vez em muito tempo que estava exatamente onde deveria estar. Não era fuga, era reencontro. Peguei o celular, fez um story com a legenda: “Esse lugar tem cheiro de cura.” Sem marcar ninguém. Sem explicações. Quem souber, entendeu. Quem perdeu, vai sentir. E eu? Ia viver.
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