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Viviane narrando...
Estava sentada na sala mexendo no celular. Rael estava pulando enquanto via desenho na televisão. Ele só via desenho assim, pulando. Mas ele fica quietinho, ele e o mundinho dele.
Tem dia que eu acordo e só queria mais cinco minutos de paz. Só cinco. Mas a vida não dá. Desde que o Rael nasceu, eu aprendi que sossego é luxo. Ele tem quatro anos agora… e tem o jeitinho dele. O mundo dele. Às vezes eu olho pra ele brincando ali no tapete, enfileirando carrinhos por cor e tamanho, e penso: 'Caraca, é tão pequeno… e tão forte ao mesmo tempo.
Nem todo mundo entende, né? Muita gente olha torto, faz cara feia quando a gente tá no mercado e ele tem uma crise porque o barulho é demais, ou porque alguém passou muito perto e ele não gostou. Já cansei de ouvir: 'Ah, é falta de educação.' Não é, não. É o jeito dele sentir o mundo. E eu? Eu só respiro fundo, abraço ele apertado e sigo. Porque se eu parar, quem vai segurar a onda?
Eu não vou mentir pra ninguém: o Henrique sempre foi um puta de um pai. Pro rael, ele é herói. Chega em casa com aquele jeitão marrento, mas quando vê o menino… derrete. Ajoelha no chão, abraça, beija, brinca, traz presente… é um amor que não dá nem pra explicar. O Rael se ilumina quando vê ele.
Só que... como marido, ele foi ficando cada vez mais distante. O crime foi sugando ele. Hoje é gerente aqui da favela, vive na correria, cercado de arma, de perigo. Tem vez que some dias, não atende, não avisa. Eu sei como é. Sei que tem mulherada em volta. Sei que quando tá lá em cima no poder, elas aparecem de monte. Não sou burra. Mas também não sou mais aquela mulher boba que ficava esperando.
O que pesa mesmo é quando o Rael sente. Ele não entende porque o pai às vezes passa três, quatro dias sem vir. Não é qualquer criança… ele é autista, precisa de rotina, de estabilidade. Quando o pai promete e não vem, o mundo do Rael desaba. Tem crise, tem choro, tem noite sem dormir. E aí sou eu… eu que tenho que catar os cacos, acalmar, explicar de um jeito que ele entenda — sendo que nem eu entendo às vezes.
Mesmo assim… eu não vou negar. O Henrique ama o filho. Nunca deixou faltar nada, sempre banca tudo, paga as terapias, os médicos, até mais do que eu peço. Só que dinheiro não compra presença. Não compra aquele abraço na hora certa. Não compra o olhar no fim do dia.
Às vezes eu me pego pensando… se ele largasse tudo, mudasse de vida. Mas quem sou eu pra mudar homem feito? Ele já tentou, já prometeu. Mas sempre volta pro mesmo. Eu sei que no fundo ele acha que isso é o jeito que tem pra garantir o futuro do Rael… mas que futuro é esse, se ele pode cair a qualquer momento?
Eu não consigo mais viver de promessa. Não posso. Hoje minha vida é o Rael. O resto… eu deixo pra depois.
Henrique tinha mandado mensagem que hoje e amanhã iria ficar em casa. Já fiz marquinha, já fui no salão. Vou chamar hoje meu marido pra irmos na pizzaria com o Rael.
Estava no Instagram até que uma loja de roupa me chamou a atenção... Fui fuxicar. Era na vk e cada roupa bonita, diferente. Segui, me interessei. Vi que tinha o @ da dona e quando entrei no perfil, reconheci de cara. Foi a mona que dei de cara aqui no bronze. Trocamos olhares babado, entendi nem nada. Fuxicando o insta dela e fui ver a fileira do dia da inauguração da loja, estava na legenda. A última foto era ela segurando um buquê da Florence. já ganhei tanto buquês dessa marca. Admito, a mona é linda! Segui o perfil dela pessoal também.

✨Hadassa✨Où les histoires vivent. Découvrez maintenant