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Comprimento os menor que estavam na esquina e sento em uma cadeira que tava ali jogada. Olho pro lado e meus seguranças sempre presentes na contenção. Pego o meu iPhone 16, pai aqui é chato e só gosta dos últimos lançamentos. E me pego procurando as redes sociais daquela mandada de novo, a mulher sumiu, que isso. Número de celular não existe mais e whatsapp piorou, não tem mais, aparece convidar contato. Que isso cara, que covardia sumir assim sem mais e nem menos. Me bloquear não me bloqueou, pois já tentei procurar ela em outro Instagram e mesmo assim não achei. Eu tô um tempão sem brotar na vk, então não tem como nem eu saber de alguma parada e pá. Se um dia eu bater de frente com a irmã ou o irmão, eu pergunto do qual foi que a mina sumiu.

Cheguei na laje da contenção, puxei o radinho e chamei:
Henrique: “Confirmado, a carga tá chegando?”
A resposta veio rápida, meio chiada:
— “Já tá subindo, chefe. Cinco minutos.”
Olhei pros cria que tavam ali comigo.
Henrique: “Postura. Sem vacilo.”
Todo mundo já sabe o procedimento. Um fica na entrada do beco, outro no alto, de olho na rua, e o terceiro na contenção comigo, pra ajudar a descarregar e organizar.
O tempo parece que anda mais devagar nesses momentos. Cada moto que passa, cada carro que para lá embaixo, o coração dá aquela acelerada. Não é medo, não. É foco. É sobrevivência.
Do alto, vi a moto vindo: dois parceiros de confiança, capacete fechado, mochila preta nas costas. Quando dobraram a esquina e começaram a subir, já dei o papo no radinho:
Henrique : “Liberado. Sem movimento estranho.”
A moto parou bem na nossa entrada. Um dos parceiros desceu, tirou a mochila e me cumprimentou:
— “Tudo certo, Henrique.”
Henrique: “Tranquilo. Deixa aqui.”
Peguei a mochila, pesada. Já sabia o que tinha: material de qualidade, do tipo que gira rápido no fluxo. Não abro na rua, não sou moleque.
Levei até o barraco da contenção, travei a porta, abri com calma. Pó, maconha, uns frascos. Tudo lacrado, separado. Como tem que ser.
Henrique: “Fez a rota certa?” — perguntei, enquanto conferia.
— “Sem erro. Nenhuma viatura no caminho.”
Dei aquele suspiro. Mais uma missão cumprida. Mas a cabeça já trabalha no próximo passo: separar, embalar, distribuir pros pontos certos.
Chamei o moleque que cuida da distribuição:
Henrique :“Ó, se liga… tem que descer essa parte pro ponto da viela e outra pro final da linha. O resto fica aqui. Só movimenta quando eu autorizar.”
— “Pode deixar, chefe.”
Assim que saíram, fechei a mochila vazia, escondi onde sempre guardo, e voltei pra laje.
Lá de cima, olhei a favela outra vez. Nem parecia que, enquanto o povo acorda, toma café, pega ônibus… aqui em cima a gente já rodou o esquema, já fez o dinheiro girar, já garantiu o sustento do morro todo.
É mais um dia no corre. Sem glamour, sem folga. Só correria.

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✨Hadassa✨Where stories live. Discover now