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Henrique tava na laje da 48, camisa regata branca e bermudão, olhando a movimentação lá embaixo enquanto fumava um cigarro e tomava um café já frio. O rádio apitou. Era o Baiano na frequência.
Baiano: desce aí. Assunto sério.
Henrique desceu sem pressa, mas já com a mente ligada. Quando Baiano chama com aquela voz seca, não é coisa leve.
Lá embaixo, dentro da casa que servia de base deles, Baiano tava sentado no sofá, com o semblante sério, o boné puxado pra frente e o isqueiro girando nos dedos. O cheiro de maconha no ar, mas o clima era mais denso que a fumaça.
Baiano: O bagulho mudou. -  Baiano foi direto. - sombrão caiu. Pegaram ele ontem de noite saindo da vk, bagulho foi dado, já jogaram ele pro Bangu 3.
Henrique franziu a testa.
Henrique: E aí? Quem vai segurar a VK agora? Tchatcha?
Baiano largou o isqueiro na mesa e olhou fixo nos olhos de Henrique.
Baiano: Nós
Silêncio. Henrique piscou devagar.
Henrique: papo é esse? Nós? E os gerentes de lá? Tchatcha não é o segundo homem?
Baiano: tchatcha manda só em uma parte, sombrão é o cara da hierarquia. Papo veio hoje lá da cadeia. Ele quer e eu devo uma a ele. Tu vai pegar teus melhores e hoje de madrugada tu vai atravessar pra vk. Vk é a mina do dinheiro e tu tá ligado nisso. Nós tem que botar o bagulho pra andar mais ainda.
Henrique deu uma risada curta, quase sem humor.
Henrique: VK, logo VK.
Baiano: Dono caiu, e tão com sede de poder. Se a gente não chega com força, os urubu vão voar em cima.
Baiano acendeu outro baseado, deu um trago fundo e olhou de canto pra Henrique, que tava calado, encarando o chão como se processasse tudo ainda. O clima tava mais tenso que antes. O tipo de silêncio que só vem antes de pergunta atravessada.
Baiano: E tua família? - Baiano soltou, direto. - Vai contigo pra VK ou vai manter na 48?
Henrique levantou o olhar, sério. Ficou um tempo sem responder. Era daquelas perguntas que não tinham resposta fácil, ainda mais vindo dele.
Henrique: Viviane e meu filho tão firmes na 48.-  ele respondeu, olhando pro fundo do copo de café - O moleque tem rotina com terapeuta, escola... não quero bagunçar a cabeça dele com mudança agora.
Baiano assentiu com a cabeça, tragando de novo.
Baiano: Justo... Mas tu sabe que se tu se dividir demais entre uma e outra, vai dar merda, né?
Henrique soltou um riso seco.
Henrique: Nunca fui de me dividir. Onde eu tiver que tá, eu vou tá por inteiro. VK é missão. Mas minha cria não vai sair da base dele. E Viviane... ela já tá mais mulher de casa do que mulher de rua. Vai entender.
Baiano coçou a barba, analisando a resposta.
Baiano: Só cuidado pra isso não ser brecha, hein. VK tem olho em tudo. Tu sabe que tu chegando lá, tu vai virar vitrine. E onde tem vitrine, tem pedra querendo quebrar.
Henrique deu de ombros, frio:
Henrique: Deixa tentar. Eu sei quem eu sou, e quem é meu. VK vai entender rápido o nome que tá chegando. - Vk é uma favela diferente da 48. 48 é uma favela pequena e fechada de Bangu. Já vk não... Vk é a maior favela do comando de Bangu. Comércio grande, quadra de samba localizada em frente Av Brasil, bocas de fumo com acesso perto da Brasil e ainda o décimo quarto batalhão. Porém a gestão da vk já não estava muito boa, lá é muita mancada e vacilão que deixam pra lá e até roubo anda tendo em algumas partes. Então lá você tem que botar a cara firme e bater no peito qualquer ko.
— Então se prepara, irmão. Porque de madrugada nós pisa na VK como quem fixa bandeira. Sem dúvida, sem fraqueza. E sem olhar pra trás.
Henrique só balançou a cabeça. Mas por dentro… ele sabia um problema enorme que espera ele na vk E tinha nome, perfume, e um olhar que ainda desestabilizava geral: Hadassa.

✨Hadassa✨Where stories live. Discover now