✨Hadassa✨

51✨

O sol já batia forte, mas o quintal da casa nova — ou melhor, da casa bem montada, toda no capricho — tava protegido pela cobertura de vidro blindex, que deixava a luz entrar na medida certa. Eu olhava ao redor, impressionada, mesmo sendo meu: móveis todos novos, o sofá de canto com tecido aveludado, mesa de jantar que parecia vitrine de loja, parede texturizada, teto todo rebaixado no gesso com luminária embutida. Um luxo! Aí eu amo um conforto.
Hyurica: Cê tá estourada, hein, Hadassa! — soltou Hyurica, passando a mão no gesso e dando aquele assovio de quem aprovou.
Hadassa: Aqui é só conforto, bebê! — respondi dando aquela risada confiante, jogando os cabelos pra trás.
Leandra: Vem comer, meus amores! — chamou ela, colocando o último prato na mesa, com aquele jeitão de quem manda e desmanda.
Não era à toa: dona de várias casas alugadas ali na Vila Kennedy, respeitada, conhecida e, claro, toda falada — mas só pelas invejosas. Quem era da favela sabia: ali, ela tinha moral.
Hadassa: Olha, só tô aqui de favor — brinquei, sentando à mesa, já pegando o garfo de inox brilhando.
Leandra: Que favor, menina… Essa casa é sua, e tá mais bonita que a minha! — respondeu a mãe, sorrindo, mas orgulhosa.
Hyurica: A minha então.... E olha _ apontou o garfo pra mim, estava sentada na minha frente. _ o que ela fez por você aqui, não faz um terço pra mim, não nenhum copo na minha casa.
Leandra: É, vagabunda? Então você pague alguém pra olhar seus filhos quando você ir pra putaria, ingrata. E eu faço nada na sua casa mesmo não, vive o dia todo coçando xereca. _ e como sempre as duas começaram a bater boca e eu só ria.
Wendel: Caralho, vocês cansam não? _ disse entrando na cozinha. Agora ele estava sem aqueles trecos na cintura.
Leandra: Se mete não.
Wendel: Se acostuma em, irmã. Isso é sempre, Deus me livre. - arrastou uma cadeira e se sentou.
E nosso almoço foi assim...muita conversa, muita risada, muitas lembranças, cerveja no copo, pagode no fundo e meu sobrinho brincando de bola no quintal.