O avião tocou o solo do Galeão e meu coração bateu mais forte. Não era medo. Nem ansiedade. Era uma mistura agridoce de saudade e certeza. Eu estava voltando. Voltando pra minha cidade, pra minha gente, pra minha realidade. Mas já não era a mesma Hadassa que partiu.
O táxi seguia pela Avenida Brasil enquanto eu olhava pela janela, reconhecendo cada pedaço daquela cidade que tanto me moldou. Asfalto rachado, viaduto pichado, sinal fechado cheio de vendedor ambulante. Tudo tão igual… e ao mesmo tempo, eu tão diferente.
Chegar na Vila Kennedy foi como pisar em solo sagrado.
Eu não quis passar em casa.
Não quis ir nas lojas.
Fui direto pra casa da minha mãe.
Sabia que ia encontrar todo mundo lá — era segunda, as lojas não abrem hoje. E Hadassa tinha feito uma boomerang de todo mundo distraído na sala da minha mãe, até meu irmão tava.
O carro parou na porta da casa. Meu coração disparou.
O motorista me ajudou com as malas. Paguei ele e agradeci. Portão da minha mãe tava encostado como sempre. Abri devagar e fui entrando com as malas no quintal. sentia o cheiro de alho refogado que escapava pela janela da cozinha.
Lá dentro, ouvi a voz da minha mãe:
Leandra: Hyurica, vê se o arroz não tá queimando! E olha a cachorra que tá roendo o pé do banquinho aí, Wendel.
Tive que rir.
Entrei pela porta da sala em silêncio. Ninguém notou de primeira. Estavam todos ocupados demais com a rotina comum de uma segunda-feira.
Até que Kiara me viu.
Ela travou. Depois correu em minha direção com o rabo abanando freneticamente e um latido curto de felicidade. A correria dela chamou a atenção da sala inteira.
Hyurica, de costas, virou devagar.
Quando me viu… os olhos arregalaram.
Hyurica: NÃO ACREDITO!
Hadassa: Surpresa. — falei, com um sorriso tímido. Peguei minha bebê no colo e dei muitos beijos e cheiros nela. Ele ficou tão emocionada que fez xixi em mim.
Até meu irmão que não é muito carinhoso me abraçou e disse que estava com saudades. Fui muito bem recebida com amor e carinho da minha família. Minha mãe chorou e tudo dizendo pra eu não fazer mais isso. Tive que tomar um banho e trocar de roupa, né. Cachorra danada. Estava um calor do caralho aqui no Rio, principalmente em Bangu. Coloquei um short largo cintura baixa e um top. Nossa, minha barriga dava pra notar mesmo. Parece que minha ficha tá realmente caindo agora. Agora eu não sei o que fazer. Não sei se conto pro pai da criança ou deixo pra lá, eu realmente agora não sei o que fazer. Parece que agora que voltei pra realidade o desespero tá começando a bater. Nunca tive vontade de ter filho, nunca mesmo. Agora tô esperando um bebê de um homem casado, meu Deus. Tô com medo do que vai vim. Sai do banheiro e voltei pra sala chorando. Minha mãe foi a primeira ver meu estado.
Leandra: O que houve minha... - então o olhar dela parou na minha barriga. - Hadassa, você tá grávida? - assenti e comecei a chorar mais ainda.
Leandra: Minha filha... - veio na minha direção e me abraçou. Não tem abraço melhor que esse. E ali eu desabei.
Hyurica: Eu. Tô. Chocada. - ouvi ela dizer.
Wendel: Pô, vou fazer um filho também. Mas vem cá, quem é o pai? Foi algum bahiano lá da Bahia?

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✨Hadassa✨
Short Story✨Que o destino traçou Que não me deixa em paz Sou eu sua doença Você minha cura...✨