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Henrique...

Tô bebendo mais. Fumando mais também. O dia começa com um baseado, termina com três long neck e um copo de uísque. Tem noite que nem volto pra casa, fico rodando a favela feito alma penada. Às vezes encosto no alto da laje e fico ali, olhando pro nada, enquanto a brisa bate na cara e o peito arde… daquele jeito que só arde quando a gente sabe que perdeu o que era de verdade.
Tentei me enganar, juro. Tentei.
Saí umas noites dessas aí, peguei umas mina depois do baile.
Mas foi tudo mentira.
No meio da transa, eu fechava os olhos e vi ela. O cheiro não era igual. O gosto não era igual. O toque, então... nem se compara. Se as coisas entre eu e Viviane já não estavam boas antes, agora então piorou. Estou mais frio, mais distante, pra mim tanto faz e tanto fez. Todo dia tô com meu filho. Levo e busco na escola, levo na pracinha, dou rolê de moto, brinco... Mas agora as coisas com a mãe dele não tá maneiro, não tô com saco mais.
Tentei apagar ela em outros corpos.
Mas Hadassa não é daquelas que se apaga, não. Ela gruda. Fica.
Tatuou em mim sem agulha.
Todo canto dessa favela me lembra ela.
A loja, o portão, a pracinha onde a gente parava o carro pra conversar.
E agora?
Ela lá, na Bahia. Postando foto de pôr do sol, de rede, de mar, de sorriso solto.
E eu aqui, preso.
Preso nessa favela, nesse corre, nessa carcaça de homem que todo mundo respeita, mas que por dentro… tá quebrado.
Porque Hadassa não era só a minha amante.
Ela era o meu alívio.
Era o meu refúgio.
Era a única mulher que me fazia esquecer do mundo, dos inimigo, da responsa.
E agora… ela me esqueceu.
Me olho no espelho e nem me reconheço.
Barba por fazer, olho fundo, cheiro de cigarro e cachaça no corpo.
Foda-se se os outros acham que tá tudo normal.
Por dentro, eu tô um caco.
E se me perguntarem quem foi a mulher que virou minha cabeça,
Que fez o bandido se apaixonar,
Que fez o gerente da VK virar um moleque cheio de saudade…
Eu respondo sem medo:
“Hadassa. Foi ela. É ela. Sempre vai ser ela.”
Estava na boca jogando conversa fiada com os caras. Na boca tinha uma JBL de alguém daqui, estava tocando Vitinho e me lembrava ela.
"Eu tô bebendo mais do que o normal
Dormindo pouco e sem comer
Saudade se mudou aqui pra casa
Pior que ela só fala de você
O meu sonho é ver você entrar por essa porta
Não pra pegar as suas coisas
Pra dizer que tá de volta
Diz que ao menos vai considerar
Talvez pensar
Eu não me vejo sem você
Me diz que a mágoa vai passar
Não tenho dom pra ser teu ex
Eu nunca vou me acostumar
Eu não me vejo sem você
Saudade do nosso calor
O coração tá quase embolorado
Ficou no armário e mais ninguém tocou
Tá no cantinho que você deixou"

✨Hadassa✨Where stories live. Discover now