**Capítulo 35**

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Maratona 01/03

Fui subindo aquela favela na maior animação. Andava devagar pra poder ver e reparar naquela favela do caralho, que eu nasci e cresci.

Tinha algumas coisas diferentes, mas estava quase como antigamente. Até os mercados, lojas, e tudo mais estavam no mesmo lugar com as mesmas pessoas ali na frente de cada bagulho.

Estava feliz demais, pô, que isso...
Ninguém tinha noção da parada boa que eu estava sentindo naquele momento, só de estar alí e saber que já vou ver minha mãe depois de anos trancado lá.

Não sei se ela sabe que tive uma saída, mas na moral, acho que não, porque pelo o que eu conheço da velha, ela já estaria em cima de mim, chorando igual doida.

Neguinho: Acho que tua mãe nem vai te reconhecer direito, pô, na boa mesmo...tu mudou demais, Sinistro.

Sinistro: Lógico, pô, última vez que ela me viu eu tinha 19, agora já sou velhão com 32 nas costas.

Neguinho: Tua mãe também mudou, com 54 anos tá boa demais. Os caras tudo tenta cair em cima, mas ela nem da bola não.

Sinistro: Ih, pô, normal isso daí. Sempre caíram em cima dela, só não quero que minha mãe se envolva com vagabundo. - fiz careta, e ele riu.

Subimos alguns escadões até chegar na rua de casa. Ali do começo já dava pra ver minha casa, e ela continuava do mesmo jeito de quando eu fui preso.

Fui caminhando rápido na direção de lá, e quando parei na frente dela, parecia que não era real, que era um sonho me iludindo outra vez, que eu já iria acordar e me frustrar por ainda estar trancado em uma cela.

Fiquei um bom tempo parado ali na frente, até o Neguinho me tirar do transe, me puxando pra dentro da casa.

Por fora estava tudo igual, mas por dentro já era outra pegada. Parecia que a casa estava maior, ou era impressão minha mesmo.

Os móveis eram diferentes e a cor da parede também. Tava tudo mudado ali dentro, mas eu ainda sentia aquele bagulho de finalmente estar em casa outra vez.

Fiquei que nem besta olhando tudo, prestando a atenção em cada detalhe, até sentir alguma parada dura batendo com tudo na minha cabeça.

Comecei a xingar baixo, e já me virei puto achando que era o Neguinho, mas vi uma mina baixinha, branquinha, com cara de uns 14 anos. O rosto dela me lembrava a minha mãe quando era mais nova, então eu já estranhei legal aquilo ali.

- Que...quem é você?

Antes que eu pudesse falar algo, ela começou a gritar 'mãe', e eu ali ainda sem entender porra nenhuma.

Ouvi um grito vindo lá do fim do corredor que tinha ali, e só sorri de lado ao reconhecer a voz da minha mãe.

A velha saiu do corredor com maior cara de brava, e olhou seria pra menina, logo levando seu olhar até mim.

Ela me olhou confusa, e ficou maior tempão me encarando calada, acho que tentando me reconhecer, sei lá.

Ana: Rafael? - perguntou baixo, ainda com a cara de confusa.

Sinistro: Sou eu, mãe, pô...

A mulher ficou me olhando por mais um tempo e do nada ela arregalou os olhos, colocando a mão no peito.

Ana: Não...mentira! Isso é um sonho! Meu Deus...calma...

Ela fechou os olhos por alguns momentos e logo abriu me olhando de novo.

Neguinho: É ele aí mermo, tia...tu não usou droga não, relaxa.

Só vi as lágrimas caindo dos olhos dela, e ela logo correndo até mim, me abraçando.

Eu abracei ela de volta, apertando a mesma, só sentindo as lágrimas dela molharem minha camiseta.

Ana: Caralho Rafael... não acredito que você finalmente saiu daquela porra de cadeia...

Sinistro: Relaxa mãe, só foi uma saidinha, já já tenho que voltar pra lá.

Ana: Isso...isso não importa...meu Deus! Você tá aqui! - segurou meu rosto com as duas mãos, olhando pra mim. - Você mudou tanto...

Sinistro: 15 anos sem ver tu, né mãe?!

Eu dei um beijo na testa dela, abraçando ela novamente. Dona Ana encostou a cabeça em meu peito chorando cada vez mais.

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now