**Capítulo 63**

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Fiquei acho que uns dois dias ali na solitária, tendo apenas uma refeição no dia, e uma garrafa de água.

Nem tava reclamando não, tava de bom tamanho isso tudo já. Tem gente que nem beber uma água limpa consegue, pô.

Bagulho foda. Não vou reclamar de eu estar pelo menos comendo uma vez no dia, sabendo que tem muitas pessoas que não comem porra nenhuma por dias, e até por semanas.

Só agradeço por ter o que comer aqui mesmo.

Quando os guardas vieram me buscar, me algemaram e percebi que eles não estavam me levando pra cela, e sim na direção dos banheiros coletivos.

Finalmente iria tomar banho, pô. Depois de dois dias trancado naquela porra, merecia um banho mesmo.

Aqui o banheiro era coletivo, vinha uma turma de uma cela de cada vez tomar banho, já outros presos preferiam sempre tomar na cela mesmo.

Tomei um banho maneirinho ali, me esfregando todo pra ficar limpo mesmo. Depois de me secar, vesti um outro uniforme limpo, e deixei o sujo ali para os manos da lavanderia pegarem.

Ai, nada melhor do que um banho geladinho nesse calor dos infernos, pô, na moral mermo.

Os caras me algemaram outra vez, e sabia que ia direto para a sala da loira dos infernos, que agora não é mais loira.

Me deixaram dentro ali da salinha, e assim que eles fecharam a porta, eu olhei pra Jade, que estava sentada na cadeira, mexendo em alguns papéis ali.

Sinistro: E aí...qual foi, pô? - me aproximei dela.

Jade: Oi. - levantou o olhar na minha direção, e sorriu.

Ela se levantou, tirando as chaves do bolso daquele macacão enorme que ela sempre tinha que usar, e veio na minha direção, logo tirando as algemas de mim.

Jade: Tá bem? Como foi esses dias lá na solitária?

Sinistro: Solitário, pô...

Ela deu uma risada alta na hora, negando com a cabeça, e eu apenas sorri de lado.

Jade: Não diga, Sinistro. - me olhou. - Mas é sério, eles tentaram fazer algo de ruim contigo outra vez?

Sinistro: Não, pô. Foi suave mesmo. - sentei na cadeira, me encostando na mesma.

Jade: Que bom, né?! - suspirou. - Mas enfim, ontem eu tive consulta outra vez com o GG, e pelo o que eu menos esperava, ele me tratou super bem.

Já fechei a cara na hora, cruzando os braços. Não gostava desse mano de jeito nenhum, e essa porra sabia, mas mesmo assim tocava no nome dele.

Sinistro: Idai, caralho? Fode se esse cara, mano.

Jade: Ele falou de você...

Na mesma hora eu olhei pra ela, serinho mesmo, esperando ela abrir a boca de uma vez.

Jade: Ele começou a falar uns bagulhos estranhos, sobre um tal de Ronaldo dentro do PCC, e depois tocou no seu nome, falando que você seria cobrado da pior forma assim que saísse daqui, e que seria pela pessoa que você menos esperasse.

Sinistro: Ronaldo? - perguntei pra ter certeza, e ela confirmou com a cabeça. - Puta que pariu!

Jade: Quem é esse?

Eu ignorei ela, passando a mão por meu rosto, já ficando puto, pensando em altas paradas em relação ao arrombado do Ronaldo.

Já tinha passado pela minha cabeça que ele poderia ter se juntado com outra facção, assim que foi expulso da CDL, mas não logo com o caralho do PCC.

Mermão, se isso for verdade mesmo, os caras da CDL assim que souberem dessa parada, vão ficar loucos atrás do Ronaldo.

E sinceramente, ele vai estar fudido se os manos pegarem ele.

Mas também não podia já pensar nessa parada sem ter a certeza de que o GG estava falando do mesmo Ronaldo que eu estava pensando, o meu irmão!

Jade: Quem é esse, Sinistro? - insitiu, e eu bufei.

Sinistro: Ninguém pô, um mano qualquer aí. - dei de ombros, e ela fez careta, com certeza não acreditando nessa minha desculpa.

Jade: Ok. Então, queria falar contigo sobre os trabalhos daqui da cadeia...

Sinistro: Ih Jadeane, nem vem com essa parada, pô. Quero saber não. - já fechei a cara, e ela bufou.

Jade: Rafael, será que você não pensa, caralho? Você trabalhando em qualquer área daqui, poderia diminuir sua pena, e você iria sair daqui mais rápido pra finalmente poder ficar com a tua família.

Sinistro: Tu ainda não entendeu que eu quero cumprir a pena certinha que o Juiz passou, pra eu finalmente tirar esse peso das minhas costas que eu levo por conta dos crimes que cometi?  - ela ficou quieta. - Caralho mermã, já disse isso pá tu, então nem volta nesse assunto de novo.

Jade: Ok. - ela engoliu em seco, já abrindo aquele caderno dela.

E ela ficou lá, com a cara enfiada naquela desgraça daquele caderno mais uma vez, ignorando completamente minha presença ali.

Essa mulher realmente ficava "abalada" com qualquer coisa que saia da minha boca.

Da não, pô.

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now