**Capítulo 4**

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São Paulo, dia 4 de Agosto, de 2001.
14 horas da tarde.

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Ratatatá mais um metrô vai passar, com gente de bem apressada, católica, lendo jornal, satisfeita, hipócrita, com raiva por dentro, a caminho do centro. Olhando pra cá curiosos, é lógico, não, não é não, não é o zoológico.

Olhei mais uma vez o povo descendo do metrô, e olhando pra cá, alguns até paravam pra ficar observando, mas não dava em nada.

O sol estava queimando lá fora, e um calor do caralho aqui dentro da cela. Suava pra cacete, mesmo sem camiseta, e só queria uma água limpa pra beber, mas nem isso aqui tinha.

A pia que tinha aqui era podre, nojenta pra caralho, por que aqui nem limpeza nas celas tem, e eu que não tomo água naquela porra. É, prefiro passar cede mesmo.

Pô, nós tá aqui por que fomos filhos da puta e cometemos vários crimes, erramos pra caralho lá fora, mas nós também não merece ser tratados igual bicho, os manos aqui dentro são seres humanos também, porra.

Mas tu liga pra isso ai? Por que a desgraça do governo tá pouco se fodendo pra nós, querem mais que a gente morra mermo.

Ladrão sangue bom tem moral na quebrada, mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens que custam trezentos reais por mês cada.

Marcão: Jéferson do corretor de baixo mandou o papo que mataram o 213 lá. - murmurou, e eu encarei ele. - Arregaçaram o cara mermo pô, sem dó, e depois esquartejaram o mano.

Sinistro: Bem feito pô, esses filhos da puta tem é que queimar no inferno mermo.

Murílio: Cara que faz isso não dura muito tempo aqui nesse mundão não. Ou morre na cadeia, ou morre lá fora nas mãos dos fortes.

Túlio: Um primo meu ai já estuprou uma pá de novinha, e os caras da CDL queimaram o mano no matagal, depois de cortarem ele em partes. Minha tia ficou putona, e foi atrás, mas quase morreu também, mó otaria.

Sinistro: Foda é que ainda tem muita gente que passa a mão na cabeça desses filhos da puta, acha essa porra "normal". - fiz aspas com os dedos. - Normal é meu caralho pra esses arrombados.

Na boa, me sobe até um ódio quando falo dessas paradas. Gosto não, pô. Mó vacilo.

Sinistro: Se a porra desse país fosse bom, tinha pena de morte pra esses cuzões.

Marcão: Ala, tu acha mermo que eles fariam essa lei? Se liga Sinistro, tá na Disney não.

Cruzei os braços, e me calei, fiquei no meu canto o dia todo. Falar desses bagulhos me deixava puto demais. Qualé...

Enquanto era livre, vi vários caras da CDL matando filhos da puta que estupravam. Era maior parada, bom demais de se ver.

A CDL – Comando Democrático da Liberdade é uma das facções que predomina nas cadeias, em busca dos direitos dos manos aqui dentro, tentando parar com as torturas, opressões e várias outras paradas que acontecem nos presídios daqui de São Paulo.

Eu quando era livre trabalhava pra essa Facção, os manos sempre ajudaram eu a minha família pô, pra caralho mesmo.

Quando cai aqui, pagaram advogado e os caralhos tudo pra tentar me tirar, mas não adiantou não, fui preso em flagrante e deu nisso, mais 19 anos dentro dessa porra.

É né, cometi pecado pra caralho, e agora eu tô tentando pagar eles do modo mais suave.

Diário de um Detentoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن