**Capítulo 15**

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São Paulo, dia 22 de fevereiro, de 2016.
10 hrs da manhã.

Sai daquela cela bufando, e os caras apertaram mais as algemas. Um me levava praticamente me empurrando, e o outro vinha mais atrás com a AK mirando na minha cabeça caso eu fizesse algo ele já me matar de uma vez.

Fui caminhando, sendo mais empurrado que tudo em direção a sala daquela loira dos infernos.

Já tava ficando puto, querendo empurrar maneiro esse guardinha, mas nem teria chance, o cara de trás só meteria um tiro na minha cabeça, e eu já iria cair morto no chão, sem chance alguma nessa porra!

Assim que chegamos na frente da porta, eles abriram a mesma e me empurraram ali. Entrei naquela sala, e meu olhar já bateu nela.

Os caras fecharam a porta, e eu me sentei na cadeira, encarando aquela mulher serinho.

Jade: Bom dia.

Sinistro: Bom dia, Jadezinha...

Ela me olhou estranho na hora, e acho que ela já pegou no ar a parada toda, ou é burra mesmo.

Jade: Só meu pai me chamava assim...- falou baixo, ainda me olhando estranho.

Sinistro: Tô ligado, pô, tô ligado! - suspirei alto, disposto a jogar a real tudo hoje.

Jade: Como...como que tu sabe disso, Sinistro? - cruzou os braços, se encostando na cadeira.

Sinistro: Conheci teu pai no Carandiru, pô. Inclusive, conheci tu lá também. - já falei tudo logo, sem enrolação.

Ela ficou me encarando por um tempo, acho que tentando processar tudo. Não sei se a mina tava lembrando do dia que nós se conheceu, a mais de 15 anos atrás, mas eu nem disse mais nada, só esperei ela abrir a boca logo.

Jade: Você...eu lembro de você! - olhou bem nos meus olhos e eu sustentei. - Te conheci no dia que fui visitar meu pai na cadeia com a minha mãe!

Sinistro: Eu sei pô, também lembro de tu. - fiz careta.

Jade: Cara...eu não sei o que dizer! - sorriu de lado, passando a mão no rosto.

Sinistro: Então não fala nada, porra. - neguei com a cabeça, e ela me olhou de cara fechada na hora. - Na noite que mataram teu pai, ele deixou uma parada comigo, pra entregar pra tu quando eu saísse de lá.

Mesmo com as mãos algemadas eu tirei a carta de baixo da camisa, e joguei na mesa, na direção dela.

Jade: O que é isso?

Sinistro: Abre que tu vai ver, carai. - bufei, negando com a cabeça.

Ela abriu o envelope e tirou a carta dali. Me encostei na cadeira só olhando pra ela. A mina começou a ler, e não demorou nada pra começar a chorar igual louca ali.

Fiquei sem reação na hora, mas nem disse nada, só fiquei observando. Isso era um momento e um bagulho dela com o pai dela, que escreveu aquela carta pra mina, então eu nem tinha que falar nada, só ficar na minha mesmo.

Ela ficou mais uma cota ali lendo, e chorando cada vez mais. Quando eu acho que ela terminou, ela soltou o papel na mesa, e colocou as mãos na cabeça.

Jade: Ele...ele já sabia que ia morrer naquela porra...- disse bem baixinho, e eu suspirei alto.

Sinistro: A uktima conversa que eu tive com ele, ele tava se despedindo, e pedindo pra eu entregar essa carta pra tu. De alguma maneira ele sentia que não ia passar daquela noite.

Ela negou com a cabeça limpando as lágrimas, e guardou a carta no meio dos papéis que ela tinha trazido ali.

O resto do tempo ali nós dois ficou calados, e o único som ali era o barulho do choro dela.

Depois de umas meia hora de silêncio, os caras bateram na porta falando que já era a minha hora de voltar pra cela.

Jade: Sinistro! - me chamou, e eu olhei pra ela. - Obrigada! De verdade mesmo.

Sinistro: Tá de boa, só fiz o que teu pai me pediu.

Fui saindo dali, mas ela me chamou de novo. Já olhei pra trás sem paciência e ela riu baixo.

Jade: E por favor, não me chame mais de Jadezinha, isso é um bagulho do meu pai.

Sinistro: Pode pá, Jadeane...

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now