**Capítulo 79**

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Depois de andar pra caralho naquela porra fedida, eu finalmente comecei a ouvir o barulho dos carros em cima de mim, e já fiquei como? Felizão mané.

Fui até a primeira tampa de um bueiro que vi ali, e comecei a tentar abrir. Empurrava com força pra cima, e quando consegui abrir, coloquei só um pouco da cabeça para fora, mas fechei os olhos com força assim que uma luz forte bateu na minha cara.

Fechei aquela tampa na hora, apertando os olhos que estavam ardendo um pouco por conta da luz.

Deveria ser farol de algum carro.

Fiquei ali embaixo até meus olhos pararem de arder, e quando abri o bueiro outra vez, vi aquela avenida vazia, com nenhum carro passando.

Com isso, arrastei a tampa para o lado, e pulei pra fora, me apoiando no chão.

Quando finalmente sai daquela porra, arrumei a tampa do bueiro no lugar, e sai correndo atrás de um carro azul.

Corri pra porra mesmo, e já ia passando reto por alguns carros ali, até um piscar os faróis pra mim.

Fui até o mesmo, e vi o Marcinho no volante. Cara sorriu pra mim, e saiu do carro, vindo fazer um toque comigo.

Marcinho: Quanto tempo em...

Sinistro: É pô, mas agora tô na rua, soltinho mesmo.

Marcinho: Se tivesse colaborado antes, estaria na rua a tempos já.

Sinistro: Ih, qual foi? Euem. - fiz careta pra ele. - Abre a porra do porta malas logo, pô.

Ele nem disse mais nada, só foi fazer o que eu mandei. Iria no porta malas mesmo, sem muito risco de me verem dentro do carro. Seria melhor mesmo, pô!

Entrei ali, e ele fechou. Me ajeitei ali dentro, e fiquei de boa. Estava meio apertado, mas já era muito melhor que dentro daquela cadeia.

******

Fiquei acho que horas ali dentro, mas tava felizão mesmo. Finalmente tinha saído daquela porra lá, tava aguentando mais não.

Liberdade tá cantando! Que isso... só fé aqui fora pra mim mesmo, pô.

Assim que o carro parou, e eu percebi que ele desligou o motor, já fiquei meio assim.

O cara abriu o porta malas, e já percebi que estava amanhecendo. Sai dali de dentro, percebendo que já estávamos na favela.

Ai, na moral, senti maior parada boa, que isso menor. Uma sensação estranhona mesmo. Tava nem entendendo.

Já saí como, no pique. Os caras estavam tudo ali, e quando me viram, já vieram fazendo toque comigo.

Maior tempão que não via esses crias, mas também nem tava sentindo falta, tudo vacilão mesmo. Mas agora, tava até feliz vendo eles longe daquele presídio.

Falei com todo mundo mermo, com os caras importantes tudinho da CDL.

Vi o Neguinho de longe, e o cara já veio correndo na minha direção assim que me viu.

Ele nem disse nada, só se aproximou mais de mim, e me abraçou apertado. Abracei ele de volta, dando uma risada baixa.

Neguinho: Tá fedendo em, parceiro...- se afastou de mim, fazendo uma careta.

Sinistro: Ala, tomar no cu em. Tive que passar pelo esgoto pra poder sair daquela porra lá. Passei maior sufoco mesmo.

Neguinho: Tô ligado...mas e aí, cadê teu amigo? O tal do Magrão.

Sinistro: Não quis vir...- suspirei alto, já pensando na falta que aquele menor faria na minha vida. - Preferiu cumprir a pena toda, já que não tem mais ninguém aqui fora por ele.

Ele balançou a cabeça, e já foi trocando de assunto. Fomos descendo a favela, indo na direção da casa da minha mãe.

Maior saudades da velha, pô.

Sabia que a essa hora, quando o sol já estivesse nascido, ela estaria levantando pra ir pra loja dela arrumar as paradas.

Já cheguei em casa como? Fazendo maior auê. Minha mãe que estava na sala, sentada no sofá assistindo o jornal, tomou maior susto, que até ficou branca.

Colocou a mão no peito, e ficou me olhando calada, com uma cara estranha.

Ana: Que? O que...o que você tá fazendo aqui, Rafael? - perguntou baixo, se levantando do sofá.

Sinistro: Fugi daquele presídio, mãe...

Parece que na mesma hora que eu disse aquilo, ela saiu do transe, e veio pra cima de mim igual doida, metendo vários tapões em mim.

Ala, doidona mesmo.

Ana: Seu filho de uma puta, porque fez isso? - gritou, enquanto ainda me batia.

Sinistro: Para mãe...para caralho! - gritei, e ela me bateu mais. - Não estava aguentando mais lá não...da pra parar de me bater? Qual foi, pô...

Ana: Porra Rafael, queria que tu cumprisse tudo, véi. - bufou, parando de me bater. - Que ódio da tua cara, moleque.

Eu dei risada, e puxei ela para um abraço. Mulher mesmo na marra, me abraçou de volta, logo começando a chorar.

Sabia que ela iria surtar legal para o meu lado por eu não cumprir a pena toda como eu prometi pra ela. Só que ela tinha que entender a parada seria que tava rolando, que não daria mais para eu continuar lá dentro.

Rafaelly: Aí não...tu voltou? Aff. - ouvi a voz da peste, e me separei da minha mãe, olhando pra ela serinho.

Sinistro: Vai ter que me aguentar por longos dias, peste!

Ela cruzou os braços bufando, e negou com a cabeça. Fui pra abraçar a garota, mesmo não querendo muito, e ela ficou toda cheia de mimimi pra cima de mim por conta do fedor, e scabou que nem abraço dei nela, ignorei mesmo.

Não fiquei puto, ou pelo menos tentei, até porque hoje era um dia felizão pra mim. Estava finalmente livre daquela porra!

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now