**Capítulo 54**

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No domingo, dia de visita, o Neguinho veio aí, como sempre trazendo as comidas que minha mãe fazia, e meus cigarros.

Assim que vi ele de longe, já estranhei a cara dele. O mano nem tava sorridente, como sempre estava nas outras visitas, tava com a cara fechada e uma expressão estranha pra caralho.

Já fiquei meio assim.

Ele sentou na minha frente, colocando as sacolas em cima da mesa, e nem se quer me olhou.

Neguinho: Eai, como tu tá? - perguntou baixo, e me olhou.

Sinistro: Tô bem, na moralzinha mesmo, e tu? - cruzei os braços, e ele balançou a cabeça.

Abri as sacolas, tirando as comidas e comecei a comer. Ali já estranhei mais ainda o Neguinho, sempre quando vinha não fechava a boca e mal deixava eu comer com os bagulhos que ele falava, mas hoje, o mano tava caladão.

Terminei de comer ali, no maior silêncio entre nós dois. Só dava pra escutar os caras falando e gritando ali no pátio.

Sinistro: Ala Neguinho, qual foi, pô? Abre logo a boca, mermão. - bufei.

Neguinho: É uma parada complicada...- suspirou alto, e me olhou. - Eu vou ser pai, mano...

Arregalei os olhos na mesma hora que ele disse, e fiquei sem saber o que falar mesmo.

Wellington nunca quis saber pai, sempre disse que se cuidava pra caralho na hora dos sexos pra não ter cria, e agora tá aí, nessa situação.

Neguinho: A mina chegou do nada em mim falando que tava grávida de dois meses e os caralhos tudo. Tem chance de eu não ser o pai, mas no exame de sangue mostra de quantas semanas ela tá, e as datas bate certinho no dia que eu peguei ela, e eu burro não usei a merda da camisinha.

Sinistro: Burro mesmo, burro ela caralho tu. Tu tá fodido, Neguinho. Tu nessa vida aí não é fácil de criar filho não, com risco de morrer ou ser preso a qualquer momento. - neguei com a cabeça, e ele bufou.

Neguinho: Eu tô ligado, mas vou assumir né. A mina até disse em abortar, mas eu fiquei meio assim, tá ligado?  - fez careta. - Mas eu disse que o corpo é dela, e ela faz o que ela quiser, posso falar nada não! Se ela quiser abortar, vou ter que ajudar, né!?

Sinistro: Ah mano, se fosse eu não iria querer abortar não, mó parada feiona fazer isso aí, na minha opinião mermo, mas como tu já disse: o corpo é da mina.

Ele balançou a cabeça, e eu fiquei quieto.

Mesmo eu não querendo filhos, se uma mina engravidasse de mim, não iria querer abortar, porque na moral, mó pecado fazer isso com a cria que não tem nada haver com o erro.

Mas isso é opinião minha sobre isso mesmo, se as minas quiser abortar, posso impedir não.

Neguinho: Já disse pra maluca que quando a cria nascer vou fazer exame de DNA e tudo mais, pra ter certeza mesmo, vai que...- deixou a frase no ar, e eu ri negando com a cabeça.

Sinistro: Ia ser um barato tu saber depois que o filho não é teu, serin.

Neguinho: Ala, filho da puta tu mesmo, em. - fechei a cara legal pra ele, que deu risada. - Não tô ofendendo a tia não, se liga, pô.

Sinistro: Mas falando na velha, ela tá bem?

Neguinho: De boa, pô. Arranjou um namorado lá que é engenheiro. Cara fino!

Sinistro: Ala, só foi eu sair que a coroa já arranja porra de namorado? Euem. - fechei a cara, negando com a cabeça.

Neguinho: Eles já ficam a uma cota aí. O cara trata ela bem, pô, é rico, mas é de boa, e nem liga dela ser da favela.

Sinistro: O cara sabe que ela tem filho preso?

Neguinho: Sabe, e o mano até já tentou convencer a ela a deixar ele ir atrás de advogado pra ti.

Sinistro: Ih, ala, quero essas paradas não.

Neguinho: Foi isso o que ela disse pra ele. Mas aí, o cara trata ela que nem uma rainha...

Sinistro: Tem que tratar mesmo, ela é uma! - falei, e ele concordou.

Minha mãe sempre mereceu algum cara que fizesse ela feliz pra caralho outra vez. Mesmo com a morte do meu pai, sempre quis que ela achasse alguém, porque ela merece mesmo.

E espero de verdade que esse cara que ela tá agora, faça ela feliz pra caralho, e que não machuque ela, porque se não, acabo com a vida dele rapidinho se duvidar.

Sinistro: E a peste lá?


Neguinho: Rafaelly? - fiz que sim com a cabeça. - Tá bem, pô.

Sinistro: Tu não chegou perto dela na maldade não, né? Rum.

Neguinho: Caralho, já disse que não, Sinistro. Euem maluco, se liga. - ele fechou a cara, e eu ri.

Confio nele nessa parada aí, e sei que o vacilão não vai chegar na maldade na Rafaelly, mas fico com um pé atrás, porque não sei de verdade como fica as coisas lá na favela entre os dois.

O cara tem idade pra ser pai dela já, então nada haver os dois ficarem juntos.

Mas se acabar rolando, amasso o Neguinho na porrada, de verdade mesmo.

Diário de um DetentoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz