**Capítulo 75**

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São Paulo, dia 3 de Agosto, de 2016.
10 hrs da manhã.

O dia da outra visita já tinha chegado, e eu só estava querendo que o Neguinho chegasse logo, pra eu desenrolar com ele a parada toda da fuga que eu estava planejando pra sair desse inferno de uma vez.

Passei essa semana toda no ódio mesmo, planejando cada passo da fuga pra não dar errado.

Sabia que com aquela parada da Jade, e com os áudios da escuta que tinha na sala, eu ia pegar mais uns 10 anos de cadeia, ou até mais. E eu sinceramente não quero ficar nem mais um ano aqui. Não aguento mais!

Pra falar verdade só comecei a suportar essa porra toda, por conta da Jade. Porque me sentia bem com aquela filha da puta me atendendo.

Meu ódio por ela não passou, muito menos diminuiu, ao contrário pô, só foi aumentando a cada dia que passava.

Magrão estava ali do meu lado, sentado enquanto batia os dedos na mesa de concreto. Hoje e nas próximas visitas que eu passaria aqui, ele ficaria comigo, já que não tem mais ninguém pra vir ver ele.

O cara essa semana só ficou na pior também. Ficava calado o tempo todo deitado na cama dele, ou se vinha trocar uma ideia comigo, era pra distrair a cabeça e não chorar pensando na mina dele.

Maior barra que esse moleque tá passando, pô. Tenho meus problemas, mas sempre tô deixando de lado pra apoiar o cara.

Assim que vi o Neguinho entrando ali no pátio cheio de sacolas, esperei ele vir até a gente, pra fazer um toque com ele.

O cara olhou para o Magrão com uma cara estranha, acho que não entendendo o porquê dele estar ali com a gente, já que o mano nunca tinha ficado.

Sinistro: Cara vai passar as visitas com a gente agora pô. Tem mais ninguém que venha aqui ver ele não. - falei, e ele concordou com a cabeça.

Neguinho: Meus pêsames pra tu, pô. Sei como é foda perder uma pessoa que tu ama pra caralho.

Magrão balançou a cabeça pra ele, e ficou de boa ali do meu lado. Peguei as sacolas e já fui abrindo, tirando os bagulhos com as comidas ali.

Neguinho: Mas aí, Sinistro...o que rolou naquele dia, cara?

Peguei a parada do gravador no meu bolso e joguei na direção dele. O mano me olhou sem entender na hora e eu só pedi pra ele apertar o botão ali.

Assim que começou a sair as paradas, Neguinho colocou o bagulho perto do ouvido, já que ali no pátio estava a maior barulheira.

Neguinho: É a Jade? - me olhou sem entender, e eu só balancei a cabeça confirmando. - Caralho...

Ele ficou ouvindo ela, enquanto eu e o Magrão comia as paradas que minha mãe tinha preparado pra hoje. Magrão até tinha ficado mais feliz assim que viu as bolachas de água e sal que ele tanto gosta.

Pelo menos ver um sorriso, mesmo que pequeno saindo dele, já era bom pra caralho!

Neguinho: Não, pô... não! Não é a Jade, conheço a mina pô, ela não seria capaz de falar tudo assim não. - me olhou, negando com a cabeça e desligou o bagulho lá. - Obrigaram ela falar tudo essas paradas...

Sinistro: Não quero saber, Neguinho. Ela falou essas porra e ainda debochou das paradas na maior naturalidade.

Neguinho: Naturalidade aonde, Sinistro? Mulher toda hora tava gaguejando e rindo que nem uma tonta, devia estar drogada e sendo ameaçada. - negou com a cabeça, virando o rosto.

Sinistro: Tu escutou essas paradas aí direito? Ela disse sobre tudo, até de você caralho, sei nem como os caras não foram atrás de você ainda...

Neguinho: Tem prova contra mim não, pô.

Sinistro: Ainda! - cruzei os braços. - Tinha escuta na sala, e ela sabia. Se estava dopada ou não, ela disse que sabia da escuta, e com essa porra mostrando tudo o que eu falei lá dentro, para a justiça, eu pego mais 10 ou 20 anos de cadeia.

Magrão: Ela querendo ou não, fodeu mais ainda com a vida do Sinistro, pô. - fez careta, e eu concordei com ele.

Sinistro: Eu só quero sair daqui Neguinho, ir atrás dela e saber em que porra ela tava pensando quando começou com essa palhaçada. E se tudo o que eu fiquei sabendo for verdade, eu vou cobrar ela sim!

Ele bufou negando com a cabeça outra vez, e eu fiquei esperando ele parar de graça logo pra nós começar a montar o plano.

Queria sair até o final dessa semana que estava entrando agora. O mais rápido possível, pô.

Já estava a bastante tempo aqui, então já sabia quem era os guardas que são comprados, em que horário o resto deles fica mais de boa, e não fica fazendo a ronda total.

Já tinha tudo na minha cabeça, então já comecei a montar tudo certo ali com o Neguinho e com o Magrão.

Tinha que dar tudo certo mesmo, porque se eu vacilasse e no final desse tudo errado, eu ficaria aqui até o resto da minha vida.

Mas eu só quero encontrar a Jade e tentar entender porque ela foi tão filha da puta comigo do jeito que foi.

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now