**Capítulo 47**

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São Paulo, dia 27 de março de 2016.
10 hrs da manhã.

Eu olhava pra Jade, sem saber o que falar, e ela nem se quer me olhava, como nas outras duas consultas que tivemos desde que eu voltei pra cá.

Ela tava estranha pra caralho, e eu até imaginava o porque. A mina não me olhava mais, e nem se quer fazia questão de falar comigo.

Antes ela vivia enchendo o saco para eu abrir a boca, mas hoje quem não abre, é ela!

Tava ali naquela sala acho que a quase 20 minutos, e até agora nada dessa porra rolar alguma coisa. Já tava ficando puto mesmo!

Sinistro: Ala, qual foi, Jadeane? Tá rolando o que porra? Tá toda estranha aí, mermã. - falei de uma vez, bufando.

Jade: Eu tô de boa, resolvendo alguns negócios aqui. - respondeu baixa, com a cara enfiada naquele maldito caderno dela.

Eu bufei outra vez, me controlando pra não soltar as paradas que eu queria falar pra ela. Na moral, já tava me estressando essa garota.

Fiquei mais uma cota em silêncio, olhando pra ela serinho, esperando pra ver alguma reação dessa porra, mas nada!

Sinistro: Vi meu pai ser morto na minha frente quando eu tinha 6 anos na cara. - falei baixo, do nada mermo.

Queria cumprir logo o bagulho que falei pra ela com a condição da minha saída. Ela conseguiu cumprir a dela, agora era minha vez de cumprir a minha.

Sinistro: Falo pra todo mundo, e até pra mim mesmo que ele foi embora, que abandonou eu e meu irmão com a minha mãe, acho que desse jeito eu lido de uma outra forma com o luto, tá ligada?

Ela finalmente estava me olhando, e agora sua atenção era pra mim, e não para aquele caderno.

Jade: Tá me falando isso do nada, porque?

Sinistro: Tô cumprindo minha parte do acordo lá, pô. - suspirei, me encostando na cadeira. - Nunca falei essa parada pra ninguém, até porque não gosto de ficar lembrando disso.

Jade: Eu sinto muito, sei como é essa dor que você sente ao saber que teu pai foi morto e que não vai voltar mais.

Sinistro: Eu já meio que me acostumei, já faz tanto tempo e eu ainda era uma criança quando aconteceu essa parada, então não dói tanto. Mas as vezes sinto falta dele.

Jade: Uma hora a gente sempre se acostuma com essa dor. Ela fica com a gente, pra vida toda até porque foi uma pessoa importante que você perdeu, mas você vai aprendendo a conviver com ela, e acaba que só fica as lembranças boas do que vivemos com essa pessoa, e não a parte do luto. - ela tirou o óculos, passando a mão nos olhos. - Sim, as vezes vamos sentir uma falta do caralho dessas pessoas, mas dá um alívio em saber que ela pode sim estar em um lugar melhor, mesmo com os diversos pecados que cometeu aqui na terra.

Eu balancei a cabeça concordando, e fiquei pensando em altas paradas ali.

Era uma parada foda esse bagulho que acabei de falar com ela, porque é um negócio que por mais de tantos anos, ainda me abala.

Meu pai era um homem foda pra caralho, mesmo na vida do crime, ele fazia de tudo por mim e pelo meu irmão, mesmo separado da minha mãe e rodiado pela maldade. Sempre admirei ele, mesmo com a vida errada que ele levava, e foi nele que me espelhei pra entrar nessa vida que eu tinha lá fora.

Não me arrependo, mesmo sabendo que não era essa vida que ele queria pra mim. Mas depois que vi ele sendo morto por um fardado, minha cabeça mudou completamente, e me fez se tornar essa pessoa que sou hoje.

Diário de um DetentoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon