**Capítulo 3**

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Acendo o cigarro, e vejo o dia passar. Mato o tempo pra ele não me matar.

Neguinho tava fumando ao meu lado, em silêncio, e eu apenas observava o pátio e as pessoas ali, calado também.

Daqui a uma hora as visitas acabavam, e tudo iria voltar ao "normal".

Eu não via a hora de ir embora dessa desgraça, mas ainda faltava anos pra isso. Foda!

Quando o cigarro acabou, eu fui até a mesa próxima a mim, que estava as paradas que o Neguinho trouxe, e peguei os maços de cigarro, enfiando tudo no bolso da calça.

- Papai. - ouvi uma voz feminina gritando, e me virei, vendo uma menininha correndo na minha direção.

Fiz una careta e eu já fiquei meio cabreiro com isso. Ela estava com um sorrisinho enorme no rosto, e parecia ter uns 11 anos. É, filha minha não era!

Ela passou por mim correndo, e eu fiquei vendo pra onde ela iria. A menina abraçou o GH, e o mano apertou ela.

Cruzei os braços, e fiquei olhando. O cara nunca tinha mandado o papo que tinha filha.

Não demorou nada, ele vir com ela na minha direção. Já me fiz de doido, e comecei a arrumar as paradas ali nas sacolas.

GH: Eae Sinistro. - deu um soquinho no meu ombro, e eu fiz toque com ele. - Essa aqui é minha filhota, Jade.

Olhei pra menina, e ela sorriu toda tímida. Acenei com a cabeça pra ela, e ela escondeu a cabeça atrás do corpo do pai.

Entendi nada não, ala.

GH: Ih, qual foi garota? Tá com vergonha por que? - olhou pra ela, e a menina não respondeu.

Estendi a mão fechada pra ela, e demorou uma cota até ela dar um soquinho, retribuindo o toque.

GH: Onze anos a cria. - sorriu de lado. - Tu tem filhos?

Sinistro: Sai dessa ou. - fiz careta, e ele riu. - Sou maluco pra essas coisas não. Sei cuidar nem de mim, quem dirá de uma criança.

GH: Também falava isso diretão, mas ai veio essa princesona aqui. - bangunçou os cabelos da criança, e ela deu um tapinha na mão dele. - Não vivo sem.

Fiquei mais um tempo trocando uma ideia maneira ali com ele, e depois o menor foi saindo dali com a menina. Ela me olhou dando um sorrisinho, e eu balancei a cabeça outra vez.

Neguinho: Ala, até a criança se encantou por tu, véi. - parou ao meu lado, me gastando.

Eu nem dei moral pra ele, só acendi outro cigarro, e fiquei na minha até acabar o horário das visitas.

Ih pô, foi mó choradeira do povo que veio ver o parente preso. Neguinho só fez um toque comigo, e saiu carregando as sacolas.

Na hora de voltar pras celas, fomos tudo revistados, e só depois subimos. Trancaram nós lá, e eu me sentei no chão.

Marcão: Ouvi os guardinhas falando que mais tarde tem presidiário novo ai.

Sinistro: Que artigo?

Marcão: 213.

Dei um sorrisinho de lado na hora, negando com a cabeça, já vendo que esse cara não passaria da primeira noite.

Homem é homem, mulher é mulher, estuprador é diferente né? Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés, e sangra até morrer na rua 10.

Os manos daqui odeia os caras que estupram, ou batem nas mães. Os guardinhas sempre avisam os caras antes de jogar o mano na cela, e ai mermão, só Deus pra perdoar o vacilão, e os caras que acabaram com ele.

Diário de um DetentoWhere stories live. Discover now