**Capítulo 76**

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• Neguinho •

Não conseguia entrar na minha cabeça que a Jade tinha falado aquelas paradas todas por vontade própria, por livre e espontânea vontade.

Naqueles áudios ela falava tudo enrolado, gaguejando pra caralho, então na minha cabeça já veio que ela poderia estar drogada, bêbada, não sei, ou sendo ameaçada também, pô.

Sei lá, tava tudo estranhão.

Neguinho: Mas e aí, tu é mó vacilão né?! - olhei sério para o Sinistro, que me olhou sem entender. - Não me contou sobre tu e a Jade, vacilão do caralho, mané.

Sinistro: Tinha prometido para aquela lá que não falaria nada pra ninguém, pô. - fez careta.

Neguinho: Hm...- resmunguei, e ele revirou os olhos. - Mas, na real? Já imaginava que vocês tinham alguma coisa, sei lá pô, do nada tu veio igual doido pedindo pra eu ir atrás dela, que tava preocupado e que não sei o que, sou burro não, logo catei no ar.

Sinistro: Desde aquela saidinha nós dois tava ficando. Pior merda que eu fiz, na moral.

Magrão: Fala isso agora, né?! Mas antes tava igual a um cachorro atrás dela. - olhou para o Sinistro, falando com a boca cheia de bolacha. - Mesmo eu não sabendo quem era a mina que tu tava de rolo, já percebia que tu tava bobão.

Sinistro: Ih, ala, se liga pô. Bobão...- deu uma risada falsa, negando com a cabeça.

Neguinho: Pela decepção que tu me contou essas paradas que aconteceu, tu já tava apaixonado na loira.

Sinistro: Não é mais loira a outra lá. - fez careta, e eu olhei pra ele sem entender. - Ela pintou o cabelo, tá morena agora.

Neguinho: Aí tu se quebrou né, sempre teve mais queda por morena. Já tava apaixonado quando era loira, aí virou morena...tu se fodeu!

Sinistro: Para de ficar falando esses bagulhos pô, quero esquecer se um dia já me envolvi com aquela lá.

Neguei com a cabeça, e nem disse mais nada. Sinistro terminou de comer as paradas ali, e quando a visita acabou, fiz um toque com ele e com o Magrão, logo indo embora de vez dali.

******

Assim que finalmente cheguei na favela, fui direto falar com os caras sobre a fuga do Sinistro e pá.

Passei o plano todo pra eles, e os caras sem nem pensar duas vezes já foram colocando o plano em prática, indo trocar ideia com alguns dos guardinhas que são comprados lá de dentro.

Enquanto eles resolviam aquela parada ali, desci para a casa da tia, encontrando a mesma preparando alguns bolos lá na cozinha.

Neguinho: Aí, na moral, vou querer um pedaço de cada um.

Ana: Preciso que você experimente eles mesmo. É receita nova que estou querendo levar lá para a minha loja. - deu um sorriso, e eu dei um beijo em sua bochecha. - E o Sinistro? Como ele tá?

Neguinho: Tá de boa, pô. Nada demais aconteceu não. - menti, e ela já me olhou desconfiada. - Tá com saudades da senhora, mas disse que logo mais tá aqui.

Ana: Como assim? Ele vai fugir de lá? - arregalou os olhos.

Neguinho: Não pô, ala. Foi o modo dele dizer que os anos vão passar rápido, e logo mais ele vai estar aqui contigo, pô. - deu um sorriso falso, e ela balançou a cabeça. - Cadê a Rafaelly?

Ana: Tá se arrumando pra sair com algumas amigas. Depois do que rolou ontem, ela merece uma paz mesmo.

Balancei a cabeça concordando com a tia, e fiquei na boa ali trocando algumas ideias com ela.

Ontem Rafaelly tinha ido para o desenrolo por conta de ter batido na prima do NK, um dos parentes altas da CDL. Ai tu já viu, né? Maior caô!

Rafaelly foi ameaçada pelo NK pra caralho, mas por conta do Sinistro, não fizeram nada com ela.

Mas também a rapariga da prima do cara, não passou por nada. Ficou lá debochando da cara da Rafaelly, que nem uma tonta.

Nem disse nada sobre essas ameaças para o Sinistro, se não o cara ia surtar de vez, e já tá cheio dos problemas lá dentro pô.

Rafaelly: Olha só, sou gostosa e pá, mas hoje eu tô...mano, hoje eu tô uma delícia. - apareceu ali na cozinha, jogando os cabelos.

Ana: Continua jogando os cabelos, vai. Se cair algum fio nas massas, eu deixo você careca, Rafaelly. - olhou pra ela com a cara fechadona, mas logo sorriu, olhando a menina de cima a baixo. - Tá linda, filha!

Olhei a Rafaelly de cima baixo, e ela tava lindona mesmo. Usava uma saia de couro preta e um top de renda meio transparente, que só tinha uma faixa pequena tampando os peitos.

Menina tinha só 14 anos, mas já tinha um corpo do caralho mesmo. Quem olhava pensava que essas garota já tinha uns 19, apenas por conta do corpo, porque o rosto parece um neném.

Neguinho: Tá lindona mesmo, ala.

Ela sorriu pra mim, e já veio com aquela cara estranha dela. Já até sabia o que era.

Neguinho: Vou dar carona, não pô. Acabei de voltar de Tremembé. Tô mortão.

Rafaelly: Por favor, Wellington! Não quero ir de ônibus até a zona sul, e tenho medo de andar de Uber.

Eu bufei, passando a mão no rosto e me levantei saindo dali da casa da tia. Rafaelly só gritou que ia pegar a bolsa e os bagulhos dela lá.

A garota veio e nós entrou no meu carro. De longe vi a Naysa ali na esquina olhando estranho na minha direção.

Rafaelly: Ah, passa na casa do Fábio pra pegar ele.

Olhei pra ela, mas nem disse nada, só liguei o carro e sai dali sem nem parar pra falar com a outra lá.

Devia tá pensando merda já, e sinceramente não queria dar explicações de nada da minha vida não.

Diário de um DetentoOnde histórias criam vida. Descubra agora