**Capítulo 93**

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São Paulo, dia 22 de setembro, de 2016.
11 hrs da manhã.

Estava na cela de boa ali. Tinha acabado de tomar o café da manhã, e só esperando o dia passar logo.

Magrão estava na cama dele, dormindo por uma cota já. Só tinha comido e voltado a dormir mesmo.

Alguns manos daqui da cela já tinham saído para ir trabalhar nas áreas daqui do presídio. A maioria era da área da cozinha e da lavanderia mermo.

Eu até tinha a opção de trabalhar pra diminuir minha pena, mas na moral? Era afim não.

Estava quase dormindo ali outra vez, quando ouvi baterem nas grades, me fazendo olhar na direção.

Os guardas estavam me olhando, e assim que olhei para eles, os caras fizeram um sinal pra mim, e eu já entendi.

Me levantei indo na direção, coloquei meus braços pra fora em um espaço ali das grades, e eles me algemaram. Abriram a cela e foram me levantando pra tal lugar.

Tava nem entendendo o porquê disso. Único motivo deles me tirarem da cela antes, era as consultas com a Jade.

Ih, tava estranhão isso. Ala.

Mas quando percebi que estávamos indo na mesma direção da sala das consultas, aí já fiquei cabreiro mesmo.

Os caras abriram um pouco a porta e me mandaram entrar. Mesmo ainda meio assim, eu entrei.

Quando vi ela ali dentro, estranhei maneiro, nem entendendo nada.

Sinistro: Ala, tá fazendo o que aqui?

Jade: Vim ver como você estava. - suspirou alto, se levantando.

Sinistro: Conseguiu entrar aqui como? Pensei que iria...sei lá, pô.

Jade: Conheço o diretor daqui. - olhei estranho pra ela. - É marido de uma amiga minha. Confio nele!

Sinistro: Você é tonta e confia em todo mundo. - neguei com a cabeça, e ela respirou fundo.

Jade: Conheço o cara a anos, sei que ele é honesto, então menos, Sinistro. - veio se aproximando de mim.

Ela tirou as chaves do bolso daquele macacão, e veio abrindo minhas algemas. Deixou as mesma em cima da mesa, e veio segurando meu rosto, sem apertar.

Aproximou o rosto do meu, olhando no meu olho, e me deu um selinho demorado.

Jade: Tava com saudades...- falou baixinho, assim que se afastou um pouco de mim.

Sinistro: Também tava pô, serin mesmo.

Na mesma hora que eu disse, ela sorriu de lado, me beijando outra vez.

Nem menti não, tava sentindo a falta dela pra caralho aqui dentro, pô, que isso...!

Jade: Vou continua te atendendo, até você ser transferido. - suspirou. - Sua transferência será em novembro.

Sinistro: Tem tempo ainda, pô. - ela balançou a cabeça.

Jade: Mas e aí? Você tá bem? - se afastou, indo sentar em sua cadeira.

Me sentei na outra cadeira, apoiando minhas mãos na mesa. Encarei ela serinho, reparando naquela mulher, que sei lá pô...tava diferente!

Sua expressão não tava das melhores, mas mesmo assim mantia o sorriso no rosto.

Sinistro: Eu tô de boa, e tu?

Jade: Tô bem...

Cruzei os braços negando com a cabeça, mas nem disse nada. Percebia que estava acontecendo alguma coisa, mas não ia forçar ela a falar não. Ala.

Jade: José me falou que no final desse mês já começa um campeonato de futebol aqui na presídio. Tu vai participar?

Sinistro: Sei não. Magrão me chamou, mas sei lá, pô. - fiz careta, e ela apoiou o rosto na mão.

Jade: Acho que vai ser bom você participar. - deu de ombros.

Ficamos outra vez em um silêncio ali, eu me segurando pra não perguntar as paradas de uma vez, e ela simplesmente moscando, olhando pra mim que nem tonta.

Sinistro: Qual foi? Tá toda estranha aí...rolou alguma parada?

Jade: É que...eu só tô com medo do Leandro vir atrás da gente outra vez. - suspirou alto, e eu neguei com a cabeça.

Sinistro: Ih pô, relaxa! Os caras já estão atrás dele, já já o filho da puta tá morto!

Jade: Não sei...eu meio que tô sentindo que ele vai voltar, e fazer mais alguma coisa contra nós dois.

Sinistro: Ó, nem começa com essas paradas aí, pô, na moral. Bagulho de doido, caralho! - bufei, negando com na cabeça outra vez.

Jade sempre vem com essas porra de estar sentindo que vai rolar alguma parada, e que não sei o que. Maior bagulho de louco isso! Serin...

Jade: Eu só tô com medo, euem.

Sinistro: Tá. E a minha família? Como que tá? - já fui mudando de assunto mesmo, e me encostei na cadeira, olhando pra ela.

Jade: Rafaelly já saiu da UTI, não corre mais tanto risco, e sua mãe tá péssima, né?! Um filho preso e a outra internada. - fez careta.

Balancei a cabeça, ficando calado. Só queria estar lá fora com a minha mãe, pô. Mas fui burro mesmo e cai aqui outra vez. Maior parada, na moral.

Depois de mais um tempo, os guardas bateram na porta, e a Jade falou que já iria abrir.

Jade: Olha só, fica bem, pelo amor de Deus, Sinistro. Não arruma briga, fica de boa pra não dar mais merda pro teu lado. - se aproximou de mim, me abraçando.

Sinistro: Vou ficar na paz, pô. Quero mais caô pra minha vida não.

Jade: Eu te amo! - me deu um selinho, e eu fiquei quieto. Jade suspirou alto, colocando as algemas em mim outra vez. - Acho que o dia que você assumir que me ama, o mundo pra nós dois vai acabar!

Ela deu uma risada baixa, e eu apenas sorri de lado.

Até tentava falar que amava ela também, só que era maior burocracia pra sair essa porra da minha boca. Ala, entendia não.

Antes de sair dali da salinha, ela pegou um outro caderno e deu para os guardas, falando que era meu novo diário e pá, já que eu tinha rasgado o outro.

Sai daquela porra, depois de piscar para aquela mulher, chamando a mesma de gostosa apenas mexendo os lábios, sem som algum para os guardas não acabarem escutando.

Diário de um DetentoOnde histórias criam vida. Descubra agora