Capítulo XCIII

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KIM JIEUN

Controlei a respiração, soltando levemente durante a ida e principalmente a volta da contração. Comparado a alguns anos atrás, a minha primeira gestação, eu tinha noção que iria ficar mais intensa e precisaria de mais força pra manter a concentração na respiração, usando todas as aulas que tinha feito para me manter o máximo que conseguisse em estado de calma pra que dessa forma tudo encaminhasse da maneira que fora combinado. Não vi quando o carro desceu uma pequena ladeira que levava a segunda entrada do hospital, só fui notar quando parou.

Esperamos um pouco, tempo o suficiente para jungkook surgir com choi e mais duas pessoas que estavam empenhadas em me ajudar a sentar em uma cadeira com rodas. Agradeci a paciência tanto da amiga do jeon, como do seu parceiro que parecia muito aliviado ao vê-la bem, aparentemente bem. Partimos eu e jungkook, seguindo para o elevador.

Só de sentir o cheiro típico de hospital, tudo em mim se arrepiava dos pés a cabeça, sendo inundada por algumas memórias desagradáveis que não me afetavam com tanto impacto como antes. Por meses trabalhei essa ideia de que precisava ser forte o bastante para enfrentar novamente a ideia de entrar em uma sala cirúrgica e confiar que tudo ficaria bem, compartilhando com minha médica que dizia que poderia ser diferente, que tudo ali era diferente e que ela queria que eu estivesse bem comigo mesma, para que a conexão com o bebê fosse única. Durante os últimos momentos, conversamos, sua paciência me deixava seguro e o apoio também, sentia que poderia confiar nela e que ela estaria disposta a confiar em mim para enfrentar tudo o que viesse pela frente; nas nossas conversas ela me mostrou tudo o que eu precisava saber sobre parto cesariana e parto normal, adicionando no final sobre o parto humanizado.

Sua explicação foi de fácil compreensão ao me apresentar o que era um parto humanizado, sendo apenas uma expressão usada para dizer que mãe tem total controle sobre como e em qual posição deseja e se sente confortável para o nascimento do seu bebê. Respeitando a ordem da vida com toda a segurança necessária, com uma equipe apropriada para qualquer emergência, mas que, no entanto, não estaria ali para me forçar a nada, muito pelo contrário, me ajudaria a respeitar meu tempo, minha essência e dar espaço para que me sentisse acolhida.

Aquilo verdadeiramente encheu meu coração de esperança, como se fosse aquilo que eu quisesse tentar, eu queria respeitar meu tempo, meu corpo e minha filha, não queria a pressão que sentir anos atrás, o medo, o pavor que resultou a uma dor que marcou minha vida.

Avistei a médica no corredor, me aguardando com um sorriso no rosto.

— Olá senhor e senhora jeon — Nos cumprimentou, segurando minha mão. — como se sente?  — sua pergunta foi direta.

— Me sinto bem, com alguns contrações, mas ainda bem.

— Que ótimo — seus olhos sorriram. — é isso que precisamos para seguir adiante, vamos? Já conversei com minha equipe e todos já prepararam o quarto onde vão ficar. Se sentirá em casa, então, pense que esse corredor aqui é só um corredor simples e quando entrarmos no quarto, será sua casa, onde ficará confortável e todos nós estaremos lá para respeitar seu tempo, tudo bem?

Concordei e ela assentiu. Desviei o olhar para jungkook que observava tudo atentamente, curioso para saber como estávamos, eu e a bebê. Mais um pouco e entramos no quarto citado antes, não parecia ser nada com um quarto de hospital, tirando a cama que me aguardava. O cômodo tinha uma leve iluminação roxa que cobria todo o quarto e conseguia iluminar tudo, ao lado da cama de hospital, alguns equipamentos me esperavam, do lado contrário, um pouco afastado, uma imensa banheira com luz florecente que também me chamava. No teto, alguns adesivos que brilhavam, assim como as estrelas do céu, o cheiro, diferente do corredor, ajudava a trazer a sensação de conforto, como se eu realmente estivesse em casa.

Troquei de roupa, pondo uma que fosse mais prática, simples e que mantivesse tudo coberto. Deitada, com os dedos entrelaçados aos do meu amor, jungkook, ouvia o coração do bebê em um dos exames para checar se tudo estava bem. 

— Coração forte — comentou e concordei. 

— Forte que nem da mãe — nossos olhos se cruzaram e se eu já tinha esquecido que estava em um hospital, ao me perder nos olhos, no sorriso e em seu beijo, tudo em minha volta sumiu e encontrei o que jurava ser o paraíso dentro de mim, dentro dele, em nós.

Após mais alguns procedimentos médicos, precisei fazer exercícios para facilitar, para que o bebê saísse sem precisar de intervenção médica. Sentada na cama só conseguia sentir uma dor que ultrapassava meu corpo, chegava a tocar minha alma, obrigando-me e chorar e mesmo assim, nem chorando aliviava. Não conseguia contar quantas horas fiquei andando de um lado para o outro, seguindo o conselho da profissional que dizia para respirar lentamente e profundamente durante a concentração, checando em um intervalo de horas para confirmar se tinha a dilatação correta para que o parto fosse prosseguido.

[ ••• ]

Mais horas adiante, já podia admirar o céu e as estrelas, junto com a lua que estava tão iluminada e bonita. Decidir por entrar na imensa banheiro de água morna, na esperança do alívio da dor,  que a pressão no abdômen – na parte inferior – e nas costas cessasse. Mergulhei, jungkook sentou na borda, oferecendo seu colo para que eu pudesse me aconchegar.

— Quer que eu pegue alguma coisa? — sua voz chegou suave em meus ouvidos. Me encontrava inerte, com a cabeça encostada em sua perna e seu carinho em meus cabelos ao passo que meu corpo relaxava sob a água, e minha palma se movimentava em rotação sobre minha barriga.

Oscilei a cabeça de um lado para o outro, indicando minha resposta e foi o suficiente para continuar como estava. Só sua presença me dava confiança para confiar que tudo daria certo, que aquilo dava a impressão de uma dor impossível de passar, no entanto, que passaria e logo chegaria a alegria, assim como decorreu por todos esses anos juntos. Na última checagem após diversas para saber se tudo estava bem, bebê e eu, foi confirmado que já conseguiria ter passagem. Uma equipe de três pessoas juntamente com a médica que me acompanhou toda a gestação, ficaram ao lado, jungkook foi o primeiro a segurar minha mão e fui a primeira a não largar e apertar, e sentir suas palavras de conforto e apóio durante algumas lágrimas entre um intervalo curto da contração. A força parecia diminuir a cada tentativa de empurrar, o calor das mãos de uma das pessoas sobre minhas costas ajudava, todavia, ainda precisava de mais de mim do que eu mesma acreditava ter.

E foi quando tudo escureceu e puxei o ar para o peito, todo o ar que tinha posto para fora.

— Aqui jieun, estou aqui — de olhos abertos o vi chorar distribuindo beijos em minha testa, encarando-me como quem quisesse fazer algo, mas não conseguia.

Mais um pouco, mais uma pausa para que reunisse força, seguindo o conselho de manter a respiração controlada e na última tentativa, na qual fiz o máximo para empurrar sentir…sentir algo escorregar de dentro de mim e logo ser pego de dentro da banheira, o choro era tão forte, escutar meu bebê chorando foi o que me fez desabar em lágrimas ali mesmo…

Eu tinha conseguido, eu conseguir 

— Você conseguiu — no momento que proferiu achei que poderia até lido minha mente, mas não, desde do começo ele confiava que eu iria conseguir, que mesmo com toda aquela imensa onda de sensações que o corpo dava para indicar que estava na hora, mesmo assim, conseguir.


A babá dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora