Capítulo 3-Emily- O destino baralha as cartas, e nós jogamos.

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Bipes se infiltram em meus ouvidos.
Meus olhos estão pesados, mas eu consigo abri-los. A luz machuca minha visão e sinto minha garganta seca. É preciso piscar algumas vezes para minhas córneas se adaptem a luz que vem do lugar. Sinto minha cabeça lateja, então devagar, respirei fundo e tentei levar a mão à testa.

— Ai!— Choraminguei ao sentir uma dor aguda nas costas da mão.

— Graças a Deus, você está acordada! Jesus, filha. Estava tão assustado.
— Papai? —Minha voz é rouca e minha garganta está seca.

Foco meus olhos no homem a minha frente e descubro não se tratar de meu pai.

— Eu fiquei com tanto medo de algo pior acontecer com você.—Ele continuou. —Eu deveria ter ido com você, talvez não acontecesse o que aconteceu. —Lágrimas escorrem pelo seu rosto enquanto sua mão quente aperta a minha.

Era um paralisante estado de torpor ou eu estava assim em virtude do acidente?

— Acho que  errou de quarto, senhor.—O vento congelante começava a mostrar seus efeitos, recobrando-me a consciência aos poucos.
— Como? —Ele se afasta um pouco e enruga a testa.— Ainda não se lembra de nada?
— Quero minha mãe. —Começo a me desesperar.
— Você precisa ficar calma minha filha. Os médicos disseram que seu cérebro pode ter bloqueado algumas lembranças, mas disseram também que você pode recuperá-las com o tempo.

Um tiro certeiro, fazendo
tudo ao redor perder o foco e meu raciocínio sangrar.

— Não pode ser...—Flashes de lágrimas, de gritos, do cheiro de álcool ataca minha mente frágil.

Assustada, pressiono as palmas das mãos nos dois lados da minha cabeça.
— Eu quero minha mãe.
— Vou chamar o médico.—O homem caminha em direção a porta.
— Não. —Grito. Eu podia sentir minha respiração ficando mais e mais difícil.

Eu me lembrava de tantas coisas ruins da última vez em que estive em uma cama como essa que fosse o que fosse eu não queria conversar com nenhum médico.
— Quero minha mãe, não o médico.
— Tudo bem—Diz antes de sumir de meu campo de visão.

Minutos se passam, a porta se abre e meu coração se acelera com a possibilidade de ver minha mãe.

— Bom dia, menina— Me decepciono quando o médico entra acompanhado do mesmo homem de antes.
— Cadê minha mãe?—Pergunto e os dois olham para baixo.
— Sophia, você já acordou e disse as mesma coisas, então tivemos que  aplicar um sedativo. Foi feito um raio-x e foi encontrado uma lesão indicando que você sofreu uma lesão craniana.—O médico explicou voltando a me olhar.
— Impossível. —Agarro-me aos lençóis da cama.
— Embora haja dificuldade para recordar, a cognição está preservada e, após menos de 24 horas, este episódio termina sozinho, gradualmente.—O médico continua e o terror se espalha por meu corpo. — Isto quer dizer que a amnésia global transitória melhora sozinha, sem necessidade de intervenção, e não deixa sequelas.
— Não! —Eu me enrolo, gritando enquanto empurro minha cabeça tentando acordar desse pesadelo.— Mãe, eu quero minha mãe!—As máquinas ligadas ao meu corpo ficam loucas, e apitam em uma cacofonia alta que só aumenta a minha agitação.
— Afaste-se, por favor. — O médico ordena.
—Eu não vou deixá-la! — O pânico que está na voz do homem que se declara meu pai é óbvio.

Ele também está à beira de se perder.

— Senhor, se você não se afastar, vou ter que chamar osseguranças para removê-lo do local.
— Oh Deus !—O homem deve fazer o que eles pedem, porque vários conjuntos de
mãos me tocam ao mesmo tempo, fazendo-me recuar e soltar um grito
estrangulado.
— Sophia? Você pode se acalmar?—Alguém pergunta.

Destinos CruzadosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant