Capítulo 9- Sophia- A vida muda, basta se adiantar.

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O sonho termina sempre igual. Bem, isso não é realmente um sonho, e sim um pesadelo. Um pesadelo recorrente que invadiu meu sono todas as noites por não sei quanto tempo. Referindo-se a ele como
um pesadelo é uma fraca tentativa de enganar a mim mesma. Eu não posso chamá-lo de um pesadelo quando na realidade é a minha vida.

Minha solitária e atormentada vida nova.

Ele sempre começa do mesmo jeito, e apesar de eu saber como termina, eu não posso fazer nada para impedir que isso aconteça. Eu sei que não posso mudar o
final, mas a minha mente fervilha com possibilidades quanto ao que poderia ter sido feito de forma diferente. Se eu tivesse saído do carro, levado mais tempo me preparando, então talvez eu não estivesse vendo o meu pesadelo se repetindo como o filme "Feitiço do Tempo" . Não importa o que eu penso, ou tente fazer, simplesmente repete toda vez, e não há nada
que eu possa fazer para impedir.

Nada pode mudar isso.

Desanimada, me levantei e caminhei até o banheiro. Tirei a roupa e entrei na banheira. A água estava morna e abundante, muito, muito agradável. Eu ficaria por um longo tempo, se não tivesse com tanta fome. Quando saí, me sequei e vesti uma calça pantalona de seda preta com elástico na cintura e uma regata. Calcei as havaianas e seguir para o andar de baixo sentindo meus músculos duros. Eles constantemente doem e eu estou achando que eu tenho pouca força, cansando mais facilmente do que eu deveria.

Semanas dormindo em uma cama de hospital não fizeram nada bem para o meu corpo.

Virando a esquina do corredor para a cozinha, eu ouço pedaços de uma conversa entre Regina e Pedro.

— Eu não sei mais o que fazer. —É Regina, e posso dizer, sem sequer vê-la, que ela
está preocupada.
— É complicado...Estamos lidando com mais do que pensávamos. Regina...mas tem medicação.
— Nada de drogas.
— Respeito... no entanto, ela parece está com problemas de saúde mental... sem tratamento...

Chega, eu já escutei o suficiente.

Mesmo que eu ainda esteja sentindo uma raiva descomunal eu entro na cozinha calmamente. Limpando a garganta, eu faço a minha presença conhecida. Ambos olham como se fossem pegos com as mãos no pote de biscoitos. Eu não digo uma palavra. Eu não faço contato visual. Em vez disso, eu passo por eles e ocupo um lugar na mesa.

— Ei, querida, olha quem veio lhe visitar! —Regina diz forçando o que pode de um sorriso.
Perla.—Pedro vem andando em minha direção. — Eu precisava vê-la. —Ele se senta ao meu lado e pega a minha mão e a beija. — Queria ter certeza de que está tudo bem.
— Não estou, mas vou ficar. —Por uns segundos nossos olhos se prendem.

Depois de alguns minutos, Pedro suspira.
— Você e eu precisamos conversar, Emilly.

Olho para ele novamente.

— É só o que as pessoas querem fazer ultimamente. O que há de errado com um pouco de silêncio?
— Você não ficou em silêncio por tempo suficiente? —Ele questiona.— Olha, Emilly, eu te amo, eu já te disse usso. Sei que você já passou por muita coisa. Você está machucada gravemente. Todos nós queremos desesperadamente tentar ajudá-la, mas não podemos fazer nosso trabalho se você não vai falar com a gente.

Não digo nada. O silêncio sempre foi meu melhor amigo, e se tornou o meu mecanismo de defesa favorito.

— Tudo bem então—Ele murmura.

Ignorando o meu silêncio e ausência emocional, ele dirige seu olhar para Regina.

— Emilly tem alguma atividade para hoje?
— Sim, Junior irá levá-la para conhecer a irmã dele. —Ela ocupa o lugar a minha frente.
—Não vou a lugar algum.— Deixo escapar um suspiro irritado.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now