Capítulo 71-Sophia -Aprenda com o passado, mas não viva dele.

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» SOPHIA «

Na manhã seguinte, cheguei cedo ao escritório. Entrei direto em minha sala e fiquei lá boa parte do tempo.
Eu não estava para muitos assuntos. A manhã custou a passar e quanto mais eu olhava para o relógio, mais lento ele insistia em ficar. ​Passei o resto da tarde e começo da noite debruçada em cima da minha mesa tentando ler os casos mais difíceis e pesquisando casos parecidos na internet.

Tentei.

Meu pensamento girando em torno de Júnior. Suas mãos. Seu toque. Seu cheiro. A maneira como seus lábios bem feitos clamavam pelos meus.

Deus eu estava perdida! Perdida em Júnior.

— Idiota! Idiota! Idiota! —Grunhi.

Eu estava lá. Cara de nada olhando para o vazio da parede, parecendo um vegetal. Computador ligado. Revirando meu chocolate quente com a colher e pensando em desabotoar os botões da camisa de Junior mentalmente, quando o toque do meu celular quase me faz cair da cadeira.

— Alô?—Eu atendo.
— Ainda está no escritório? —A voz de Junior me fez repensar o impulso de atender ao telefone sem olhar.
— Sim.—Minha nuca dói enquanto giro a cabeça, tentando acalmar os músculos.
— Você vai demorar muito para ir embora?
— Não sei.—Respondi mordendo o lábio — Por que?

Estico meu corpo dolorido. Horas sentada na mesma posição me deixavam totalmente necessitada de uma aula de pilat.

— Estou parado na frente do escritório.— Disse simplesmente.
— O que?!

Saltei da cadeira e caminhei até a janela.

— Onde?

Abri as persianas.

— Na esquina. —Ele responde e deixo meus olhos vagarem até lá.

Meu coração deu um salto tão grande que quase tropecei no tapete. Junior estava lá. Com toda a sua classe e magnitude, postado em frente ao sedan escuro. E mesmo de longe, a visão dele faz meus nervos se debaterem, agitados e destruidores
do meu corpo e mente como se eu estivesse dentro de um liquidificador.

— O que você está fazendo aqui?
— Preciso conversar com você.
— Você ainda não me disse tudo?
— Não. — Ele respondeu. — Faltou algo importante. Muito importante, algo que talvez defina o futuro da nossa história.

Seus olhos pararam na janela e senti tudo dentro de mim se aquecer.

— Tudo bem. Estou te esperando na minha sala, você sabe onde fica?
— Sim. — Disse e pude perceber que sorria do outro lado da rua. — Mas preciso te avisar que não estou sozinho.
— Quem está com você ?
— Só um minuto.

Júnior se desencosta do carro e abre a porta do motorista.

— Vamos lá, garoto. — Ouço sussurrar e alguns segundos depois, avisto uma bola preta saltar de dentro do carro.
— Nero! — Grito enquanto observo o cachorro balançando a cauda para Junior que alisa sua cabeça peluda.
— Mesmo que você o tenha esquecido, achei bom trazê-lo comigo. — Junior diz antes de encaixar a corrente na coleira do cachorro.

Meu estômago está apertado e sinto um peso no peito, como aquela sensação de quando você passa tempo demais nadando.

Como pude esquecer de meu neném?

— Em alguns minutos chego aí.—Foi tudo o que Junior disse antes de desligar o telefone.

Não demorou mais que cinco minuto para que Junior entrasse em minha sala. Assim que me viu, ele sorriu e começou a andar em minha direção. Nero se manteve ao seu lado, seus olhos enormes observando tudo ao seu redor.

— Hey, garotão ! — Chamei e ele virou a cabeça, olhando em minha direção. — Vem com a mamãe, vem

Ele obedece e chega até mim em uma velocidade impressionante.

— Você engordou um bocado! —Eu disse coçando sua cabeça. — Ainda se lembra de mim, não é amorzinho?

Nero abanou o rabo peludo para um lado e para o outro me mostrando que sua memória estava melhor que sua condição física.

— Ele não está gordo. —Júnior tirou a corrente e deixou Nero apenas com a coleira.
— Está gordo sim. O que você está dando à ele? —Esfrego a mão nas costas do animal.
— Uma ração rencomenda pelo veterinário. — Júnior dá de ombros. — E ele não está gordo! Só... só tem ossos largos!

Revirei os olhos.

— Como vai no hotelzinho? Ele tem se comportado?
— Ficou de castigo onze vezes no último três meses.
— Por que?
— Por destruir o ambiente de aula.

Eu ri, abraçando o animal.

— Seu rebelde.

Eu brinquei mais um pouco com Nero, e então Junior é eu decidimos iniciar o assunto sério. Os olhos dele se fecham por alguns segundos e seus músculos ficam tensos.

— Você lembra daquela noite em que você me disse que em algum momento, eu precisaria enfrentar meu passado?

Assenti incapaz de responder verbalmente. Um nó formado na minha garganta.

— Chegou o momento, e eu espero que você esteja preparada. —Sua voz é instável.

Uma sombra escura passa no seu rosto e minha garganta incha. Um arrepio percorre minha espinha e eu  pisco.

Pela primeira vez, desde que estou viva, fico muda. Eu olho para o homem agora, tão diferente do cara arrogante e confiante que estou acostumada que sinto meus olhos queimarem. Suas mãos em punho no seu cabelo tão forte que juro que ele estava puxando-o de seu couro cabeludo.

— Júnior?— Chamei com cautela.— Você não tem que falar sobre isso se não se sentir a vontade. — Eu tento soar firme, tento forçar uma voz mais forte apesar da minha ansiedade.

Eu sabia o quanto seria doloroso para ele, e mesmo instigada e ansiosa em saber sobre o seu passado, eu não queria machucá-lo.

— Eu tenho certeza.— Seus ombros estão tensos e ele respira com dificuldade enquanto suas narinas estão dilatadas.— Eu quero derramar até o pequeno pedaço de mim, purgá-lo do meu sistema e me sentir mais leve.

A dor em sua voz era insuportável. E era desesperador saber que seu passado trazia tanta dor a ele. Mas eu sabia que ele precisava colocar para fora. Isso não era apenas um obstáculo para nosso relacionamento; era um passo monumental para sua cura. E eu queria isso mais do que qualquer coisa.

— Se sinta a vontade, eu estou aqui com você.

Eu apertei sua mão e lhe dei um pequeno aceno de cabeça, esperando até que ele esteja pronto.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now