Capítulo 20-Sophia.- É no presente que se escreve o futuro.

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Quando chegamos a entrada do estabelecimento, posso ver que é um lugar chique. Um daqueles que se tem que reservar com um mês de antecedência, no mínimo. Uma mulher alta que esperava na porta, nem mesmo questionou se tínhamos uma reserva ou não, ela nem se dignou a me olhar, estava derretida demais sobre Samuel para perceber a minha presença.

― Sr. Leives, é um prazer recebê-lo novamente!— Ela disse melosa e eu quis vomitar meu cereal do café da manhã.

Samuel sorriu.

— A mesma mesa de sempre? —A mulher perguntou e ele assentiu.

Enquanto caminhávamos, não deixei de notar os olhares femininos para Samuel enquanto ele me guiava pelo salão do restaurante com uma mão pousada delicadamente na parte baixa de minhas costas. Ao chegamos, ele puxa minha cadeira, e quando se assegura de que estou confortável, ele desabotoa o paletó e se
senta à minha frente. O garçom nos apresentou o cardápio e eu escolhi contra filé com molho de frutas vermelhas. Samuel optou por cordeiro, com um acompanhamento de lentilhas

— Toma vinho, Srta. Cooper? — Perguntou, baixando um pouco a carta para me encarar com aqueles olhos profundamente castanhos e expressivos.
— Geralmente, sim — concordei — Mas não quando falo de trabalho.

Os olhos de Samuel permaneceram me estudando como se eu fosse um rato de laboratório, mas nenhuma palavra deixou sua boca.

— Água sem gás para mim, por favor — respondi ao garçom.

Quando ficamos sozinhos novamente, olhei disfarçadamente no relógio e decidi que era hora de iniciar o assunto realmente importante.

— Bem, acho que já podemos iniciar nossa conversa. —Eu disse com um sorriso leve.
— Direto ao ponto! Exatamente como prefiro.

A boca bem-desenhada dele espelhou meu sorriso.

— Então, como eu bem disse mais cedo, estou com um problema judicial. E ouvi falar muito bem do seu trabalho, Emilly...Posso chamá-la de Emilly?
— É claro. Pode me chamar como preferir.
—  Como eu ia dizendo, eu ouvi falar muito bem do seu trabalho, Emilly. E gostaria muito de contratar seus serviços advocatícios.
— Conte-me mais sobre o caso— Eu pedi cruzando as mãos sobre a mesa.
— Já pegou algum caso de guarda?

Ele agora estava incrivelmente sério.

— Não.

Me endireitei na cadeira. Eu estava curiosa, traçando padrões para a vida de Samuel Leives.

— Tem filhos?—Perguntei.
— Sim, uma menina. Ela tem cinco anos.

Ele abriu a carteira e colocou uma foto sobre a mesa.

— Ela foi levada para  Pernambuco contra minha vontade pelos avós maternos. Eu acredito que ela não está bem com eles e quero ela aqui comigo.
— Restituição de guarda—Eu disse correndo os dedos pelo rostinho lindo e delicado.

Olhos amendoados, boquinha em formato de coração, nariz pequeno e achatado no meio, orelhas  também pequenas e ligeiramente dobradas na parte superior. Era impossível não perceber.

Não era uma criança normal, ela era especial.

— Ela é linda. —Sorri e alisei uma mecha do cabelo para trás.
— Sim, é.

Concordou sorrindo de leve com o canto da boca, embora a sua preocupação fosse palpável.

— Ela é portadora de Síndrome de Down.—Disse o que eu já havia percebido e depois de um curto espaço de tempo, ele continuou— O nome dela é Sarah. Meu raio de luz.
— Lindo nome —Elogiei e senti meu coração se aquecer um pouco.— Eu particularmente, gosto muito dele.—Confessei.

Eu realmente gostava muito daquele nome, sempre que ele era mencionado eu sentia uma uma pequena ponta de emoção borbulhando dentro mim.

— A quanto tempo ela foi levada?—Perguntei voltando ao assunto principal.
— Dois meses.
— Você mantém contato com ela?
— As vezes, raramente. Eu tenho o número da babá de Sarah, e ela me deixa falar com ela. Escondido dos avós.
— Posso entrar em contato com o juizado de menores, assim você poderá ver ela enquanto o processo está em andamento.— Assim que terminei de falar, Samuel repousou a mão sobre a minha.
— Isso que dizer que você aceita o caso?

Fiquei em silêncio por um momento, quando me lembrei de tudo que tinha acontecido em minha vida. Muito ainda é tão... nebuloso, tão cheio de buracos, e não sei se são memórias ou sonhos que eu produzi em minha própria mente. Não posso dizer com certeza. Mas de alguma forma, eu ainda podia sentir em minhas veias como era atuar. Podia sentir a vibração subir por meu corpo apenas com o  pensamento de voltar a fazer o que eu sabia que amava. E por mais que alguns sinais de alerta tocassem dentro de mim, decidi me encher de cinco segundos de coragem insana e responder.

— Exatamente, eu estou nisso.
— Obrigado, você não sabe o quanto ficarei feliz em ver minha bonequinha.—Eu podia sentir a agitação dele na voz.
— Imagino que sim.— Eu disse ainda sorrindo.

O vinho chegou e o garçom o apresentou a Samuel que assinalou para que fosse servido. Enquanto degustava a bebida, encarei ele um pouco mais. Samuel era um homem severamente bonito com suas fortes características masculinas. Cabelo castanho dourado revolto, um queixo quadrado, resistente revestido com
barba por fazer de dias na pele beijada pelo sol, um reto nariz proeminente, lábios que pareciam ser feitos à mão, e grandes, sensuais, olhos sonolentos da cor de amêndoa penetrantes. 

— Onde está a mãe de Sarah? — Perguntei qua do o garçom se foi.

Eu estava curiosa, ele não havia falado dela em nenhum momento até agora, e não havia marca alguma de aliança em seu dedo.

— Morreu quando Sarah tinha dois anos.
— Eu sinto muito.
—  Não sinta. Não foi sua culpa.
— Ainda assim, eu sinto muito que isso tenha acontecido com vocês. Principalmente por Sarah, é triste quando um filho cresce sem mãe. Mãe não tem substituto.
— Obrigado, você tem toda razão.

Samuel respirou profundamente e eu pude sentir um pouco do peso que ele carregava. Então mudei um pouco do assunto principal, aliviando a atmosfera.

— Então, me conte um pouco sobre você. Estou curiosa para saber para quem estarei trabalhando— Eu disse.
— Claro, o que você quer saber?
— Eu não sei. Tem algo que você queira me contar? Algum segredo obscuro? Ficha criminal? Vício em drogas? Multa por atravessar fora da faixa de pedestres?

Samuel sorriu e balançou a cabeça.

— Eu sou apenas um menino do interior perdido na cidade grande.
— Hmm, eu posso ver isso. Um inocente na cidade grande e má.
— Bem, eu não diria inocente exatamente. — Ele demorou, seus olhos brilhando com diversão.

E eu podia vê-lo segurando um sorriso enquanto eu sentia o calor subir do estômago e tingir todo o meu rosto de vermelho.

Não, não havia nada inocente sobre Samuel Leives. Ele podia facilmente ser a encarnação do pecado.

Destinos CruzadosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant