Capítulo 12- Júnior-O que você tem de diferente é o que você tem de mais bonito

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De alguma forma, Emilly e eu conseguimos sobreviver as quatro primeiras horas sozinhos com meus sobrinhos. Minha casa inteira estava revirada e nós tínhamos brinquedos em quase todo chão da sala.
Eu não dormi muito, logo estava com sono, minha secretária estava me ligando constantemente para informar os mais diferentes problemas que pareciam estarem surgindo apenas para me testar. E
descobri que era dez vezes mais difícil cuidar de uma pessoa pequena do que imaginei que seria.

Mas  Ágatha e Arthur estavam vivos e
bem. Isso era o mais importante, certo?

Você quer brincar na neve? Um boneco quer fazer?

A música começou novamente e eu não pude impedir um suspiro de tédio. Era a  quinta vez em que eu assistia aquele maldito filme infantil, e desejava com todas minhas forças que os blocos de gelo se soltassem e esmagassem os miolos dos trabalhadores de neve. Não suportava ouvir aquele boneco idiota falar sobre o desejo do verão. Meus ouvidos estavam sensíveis, e  agora a música “Let it Go” estava na minha lista de piores música de todas. E eu odiava o fato dela está grudada em minha cabeça como um maldito chiclete velho.

— Eu não aguento mais essa merda.— Resmunguei, e inesperadamente um controle acerta meu ombro em uma dor forte.

Busco Emilly e ela me olha com irritação.

— Faça silêncio. — Ela sussurra, indicando
as duas crianças deitadas em seu peito.

Meus sobrinhos ainda têm os olhos na televisão, mas eles estão incrivelmente pequenos, prestes a se fecharam. Aquela visão quase me fez cair de joelhos de alegria.

Jesus, obrigado!

Eu assisto enquanto Emilly alisa os cabelos das crianças, que aos poucos vão se rendendo ao sono.

— Por Deus. — Ela suspira antes de beijar os rostinhos adormecidos.

Com calma, eu me levanto e vou até ela, estuco meus braços para pegar um dos pequenos mas Emilly balança a cabeça.

— Vamos esperar um pouco. Eles acabaram de dormi.
— Eles não vão acordar. Emma me disse que dormem muito bem. — Eu digo enquanto pego Ágatha em meus braços.

Começo a caminhar em direção aos quartos. Mas não dou cinco passos e os pequenos olhos azuis estão abertos me encarando com aborrecimento.

— Mamãe— Ela pede.

Olho para Emilly e ela está completamente parada, olhos acusadores para mim.

— Você acordou ela.
— Eu não fiz por querer — Me defendo.
— Mamãe— Ágatha pede novamente.
— Neném... —Eu começo, e como se soubesse exatamente que eu estava prestes a negar o que ela queria, a pequena garotinha chorou.

Um choro muito parecido com uma sirene. Extremamente alto. E naquele momento eu tive a certeza de que aquela merda sobre gêmeos tinha algum pouco de verdade. Porque mesmo tendo os ouvidos abafados pelas mãos de Emilly, Arthur lentamente abriu os olhos e encarou o rostinho vermelho da irmã.

— Oh, merda. Não. Não. — Emilly se adianta em balançar o pequeno quando ele começa a demonstrar sinais de impaciência.

Mas é tarde demais, a outra sirene é acionada, e agora ficamos parados olhando um para o outro. Completamente perdidos.

— Eu quero mamãe. — Arthur pediu, se contorcendo todo no colo de Emilly.
— A sua mamãe já está chegando querido. — Ela se apressa em ir para a cozinha — Você lembra de como faz a mamadeira deles?

Paro por um momento de tentar acalmar Ágatha, tentando puxar na mente as instruções de Emma sobre como fazer o leite das crianças. Mas nada. Eu não me lembro de exatamente nada.

— Mas que droga. Por que isso tudo? — Ela xingou pegando o arsenal de latas de fórmula infantil que Emma havia trazido.
— Mamãe — As crianças pediram.

Abri minha geladeira e a primeira coisa que vi foi um pote de sorvete. Ágatha também encontrou a sobremesa, e parou com seu choro no mesmo instante.

— Ah, você quer? — Eu peguei um pote.

Minha sobrinha encolhe os ombros, mas eu pego uma sugestão de um sorriso com o canto do meu olho, e sei que ela já está começando a superar sua irritação.

— Apenas um pouco, certo?
— Sim — Ela respondeu, batendo palmas nem traço do choro de segundos atrás.
— Você está louco? — Emilly gritou, mas quando Arthur também desligou sua sirene e sorriu, ela se apressou e pegar o sorvete de mim. — Um pouco não fará mal, né?

Alguns segundos depois, Arthur e Ágatha estão atacando o sorvete. Eles tem tanta sobremesa no cabelo que parece estar fazendo um tratamento capilar. Os dois alternam entre as colheradas e manter um fluxo constante de conversa com Emilly. Eu tento ficar por dentro, mas a conversa deles é tão rápida e tão cheia de referências infantis, coisas que eu não tenho ideia, que mal consigo acompanhar. Ao contrário de mim, Emilly aparentemente viu todos os
filmes da Disney e sabe muito sobre dinossauros. Ela é animada, dinâmica, um turbilhão de energia e entusiasmo infantil que conseguiu cativar Ágatha e Arthur absolutamente. A mim também, se estou sendo honesto. Eu mal gosto do sorvete na minha frente, mesmo que seja uma mistura perfeita de chocolate com creme. Tudo que posso fazer é ficar recostado observando-os, absorvendo tudo. Há algo nos olhos de Emilly que envia uma onda de calor através de mim. Sou golpeado por um sentimento que nunca tive antes, que não posso nem começar a processar. Meu coração está se contorcendo e se transformando em um milhão de pedaços, algo quente, quente e bonito derramando dentro de mim. Não consigo respirar. Sou refém disso, até este momento.

Merda do caralho, isso é aterrorizante.

Pela primeira vez penso em como seria ter minha própria família. Pequenos projetos de Emilly correndo pela casa. Com os cabelos louros e seus olhos azuis cativantes.

Por Deus, o que há comigo?

Três coisas me atingiram simultaneamente. Primeiro é uma pontada de pesar que essa pode ser a única vez que vou passar com meus sobrinhos. Eles só estão aqui para meu casamento, e então estaram viajando de volta para Nova Iorque.  A segunda é a atração inegável por essa mulher magnética que de uma hora para outra tem me encantado. Terceiro, é a certeza de que eu quero mais momentos assim.

Eu quero mais de Emilly.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now