— Eu era muito pequeno quando meu pai faleceu, tinha três anos. — Junior começou. — Não lembro exatamente dessa época, muitas das minhas memórias se confundem, talvez por autoproteção, não sei dizer. Mas sei que minha mãe entrou em uma depressão.
Ele inspirou o ar devagar, soltando na mesma velocidade.
— Ela foi se desfiando aos poucos, parecia não ter mais força para viver. Até que encontrou a porra do mal encarnado.— Sua voz profunda é áspera, como se as palavras estivessem sendo puxadas de sua garganta sobre o vidro quebrado.— Que diabos minha mãe viu em Marcelo, eu nunca vou saber. Acho que ela pensou que ele poderia salvá-la.
Riu mas seu riso não era, nem de longe, alegre.
— Mas ele só acabou arrastando ela ainda mais para dentro do abismo.
Ele e limpa sua garganta, mas eu não ouso olhar para cima, continuando focada no cachorro aos meus pés, esperando que ele continue sua confissão.
— Nos primeiros anos Marcelo até que parecia ser um cara normal. Somente mais tarde ele começou a demonstrar sua verdadeira face e deixou sua máscara cair. E quando isso aconteceu, ele levou toda a pureza de Emma.
Eu engulo, minha garganta de repente seca e entupida com lágrimas.
— O que ele fez?— Medo rola através de mim e tão desesperada como estou para as próximas palavras rolarem de seus lábios, ouvir o que eu já sei, estou tremendo.
— Emma era apenas uma criança. Tão indefesa, esperançosa, frágil...Algumas batidas de silêncio se acumulam entre nós.
— E aquele desgraçado a tocou. Ele tirou o melhor dela. Tirou sua inocência.
Levei minhas mãos para o meu rosto e cobri minha boca enquanto balançava a cabeça em consternação.
— Ele expôs Emma à maldade do ser humano, abusou de uma menina que devia ter sido cuidada e protegida. — Junior continua e eu tento me segurar, mas um gemido sai dos meus lábios.
Porra, ninguém merecia tanta dor, tanta maldade!
— Emma devia estar rindo em sua ingenuidade e não estar sendo esmagada pela imundície de um depravado.
Enjoada, deixei cair uma mão para meu abdômen, sentindo o estômago agitado.
— Talvez eu pudesse ter evitado, mas descobri a merda tarde demais. Você imagina como aquilo destruiu meu mundo infantil?
Sacudo a cabeça, incapaz de falar, tudo enquanto minha alma está gritando por sua dor.
— Foi em um dia chuvoso, faltou luz em minha escola e todos os alunos largaram cedo. Quando cheguei em casa ouvi barulhos no andar superior. A porta do quarto de Emma estava aberta, e quando entrei desejei morrer — Ele pisca, então franze o cenho, como se tudo estivesse acontecendo.— Marcelo estava forçando a cabeça de Emma sobre o seu maldito pau—Ele bate a têmpora com o punho— Os gritos. Eu nunca vou esquecer o som de seus gritos.
— Oh, Deus... — Eu cubro minha boca novamente quando um soluço rasga meu peito.Meus olhos queimam, mas não só com lágrimas. Queimam com uma possessão furiosa e raiva ardente que eu nunca senti antes. Lembrei do sorriso de Emma e a imaginei pequenininha, com aqueles cabelos longos, com fé nas pessoas que deveriam ter tido cuidado com ela. Imaginei aquele sorriso sendo substituído pelo susto, pela dor, pela confusão. Imaginei-a sozinha e acuada, sem entender, com medo, assustada. E ninguém para olhar por ela
— Era diferente ver no noticiário, repugnar a violência sexual, desejar a morte de quem era capaz de cometer a monstruosidade. Mas ter uma pessoa que se ama vítima daquilo, ver tão de perto uma dor extrema, sentir como se fosse sua, era muito diferente.
![](https://img.wattpad.com/cover/88866014-288-k703169.jpg)
CZYTASZ
Destinos Cruzados
RomanceSeparadas ainda na infância, as gêmeas univitelinas, Emilly e Sophia não imaginavam quão grande o poder do destino. Donas de personalidades totalmente contrárias, elas não estavam preparadas para jogar o jogo da sina. Emilly cresceu rodeada de mord...