Capítulo 28- Emilly- Sem perceber, o meu coração já pertencia a você.

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» EMILLY «

Eu estava atônita, parada ali, como se não fosse dona do meu corpo quando sua boca invadiu a minha com tanta rapidez que eu senti seus dentes batendo contra os meus. Sua língua tocou a minha e eu senti tudo dentro de mim se aquecer e transbordar em uma sensação diferente de qualquer uma que eu havia sentido na vida. Me entreguei totalmente ao beijo, não apenas lábios, língua e gosto, mas meu corpo, minha alma, cada célula e pensamento ali presente.

Não havia passado, nem futuro, apenas o que acontecia ali.

O beijo me deixa sem fôlego e sem vontade, como nenhum outro beijo fez
antes. Uma voz diz que eu deveria me afastar, acabar com isso, mas não posso. Eu fisicamente não posso. Meu corpo não me deixa se afastar, não me deixa colocar um centímetro de espaço entre mim e Nathan. Seu corpo é tão quente e sólido, suas mãos subiram e desceram pelos meus braços, pelas minhas costas. Minha pele, que minutos atrás estava legal, arrepia sob o toque dele.

— Sophia — Ele disse contra meus lábios.

Não me soltou, apenas deixou os lábios nos meus. Consegui abrir minhas pálpebras pesadas e me deparei com dois poços azuis tempestuosos e ardentes, ferozmente fixos nos meus. Pude ler ali suas incertezas, talvez pela primeira vez. Era como um garoto por um momento, perdido, sem saber que rumo tomar.

— Nathan...
— Isso não deveria ter acontecido.— Ele diz, me soltando e dando um passo para trás.
— Por que não?

Eu odeio o quão sem fôlego eu pareço.

— Verônica.
— O que tem ela? —Perguntei sentindo a garganta arder.
— Eu não podia.
— Foi só um beijo.—Falei baixinho, sem tirar meus olhos dele.

Metade do seu rosto era escuridão, mas a outra metade estava mais ou menos clara, denotando sua raiva consigo mesmo, sua indecisão.

— Mesmo assim.
— Já foi.
—Mas não devíamos ter feito. Um beijo pode nos levar à caminhos que não podemos atravessar juntos —Sua voz  dura e seu maxilar cerrado me fez estremecer.
— O que quer dizer?
—Entenda Sophia. É impossível temos algo além do acordo.

Soco no estomago. Direto. Em cheio. Bem na boca do meu estomago.

— Eu estava perturbado e deixei a carne falar mais alto. Eu não poderia ter feito isso.
—Ok— Limitei-me a dizer.
— É melhor esquecermos o que aconteceu aqui.
—OK— Disse novamente.

Eu não estava pensando claramente, então não queria continuar com o assunto.

Verônica . Verônica . Verônica —Era tudo que minha mente conseguia processar.

— Vai me dizer algo além de “Ok”?
— O que quer que eu diga?
— Quero que concorde que o que houve aqui foi um erro.

Outro soco, na boca dessa vez. Eu podia sentir o sangue imaginário escorrendo.

— Não, eu não acredito que tenha sido um erro. Nós queríamos isso. —Ataquei, perto de perder o controle.

Ele ficou ali, parado, analisando o que responder. Seus olhos se estreitaram de um jeito triste  e eu comecei a sentir que meu golpe tinha o atingido em cheio.

— Sim, eu queria te beijar. Porra, eu tenho pensando em fazer muita coisa com você. Mas você não merece o que eu tenho a te oferecer.

Esfregou o rosto com as mãos.

— Quer saber a verdade, Sophia? Eu vim aqui porque essas são as terras que Verônica mais amava. Eu estava com os pensamentos nela antes de te encontrar. Comprei a fazenda por causa dela. Porque meu coração sempre será dela. E se o beijo vier a se repetir ou evoluir, preciso que antes você saiba que é somente isso que eu posso te oferecer. Apenas a satisfação da carne. Eu sempre amarei Veronica. Apenas ela.

As lágrimas estavam começando a se construir, e precisei piscar algumas vezes, puxando elas para dentro com meu nariz, sentindo  a queimadura de sal para baixo em minhas vias nasais. Eu precisava sair de lá. Sentia que meu corpo não era mais meu. Voei para longe. Eu não sentia nada até que Nathan me tocou.

— Sophia, está me ouvindo?

Ele segurou minhas mãos cerradas em punho entre as dele, mas eu me afastei de seu toque.

— Sophia, espere...— Ele pediu, mas eu não estava mais lá.

Corri e não olhei para trás, não me importei. Eu apenas ouvi os gritos dele ficando mais fracos enquanto eu corria em direção em que deixei a égua.

Ótima decisão fugir. Isso definitivamente não tornou essa situação mais complicada do que já é.

Quando chego em casa, subo para meu quarto e choro. Eu consegui aguentar quando deixei Artemis na sua baia, e então eu mantive tudo junto no caminho até aqui, mas agora que estou na privacidade do quarto, as lágrimas correm como água. E minha subida nenhum pouco discreta foi o suficiente para ter alguém batendo na porta poucos minutos depois .

— Querida? — Cármen chama.

Tento parar o choro para responder, mas no lugar de palavras, o que sai é um sufocado som rasgando meu peito e as lágrimas vêm mais rápidas.

— Sophia? Eu posso entrar? —  Sua voz muda de monótona para preocupada.
— S-sim.

Ela abre a porta devagar, e em silêncio caminha até a cama onde eu estou encolhida. Não diz nada, espera até que eu finalmente cosiga me controlar.

— Você pode falar comigo, você sabe.— Ela diz.
— Oh, eu não sei por onde começar.
— Eu sempre achei que o início é um lugar tão bom quanto qualquer um— Diz ela com um sorriso amável, e eu me encontro de
repente derramando tudo isso a ela.

Sobre como Nathan e eu nos encontramos, como ele me beijou, o arrependimento, todo o caminho até minha fuga e como eu estou confusa. Ela senta-se pacientemente, escuta, acenando com a cabeça, e
quando eu acabo com lágrimas rolando pelo meu rosto, ela simplesmente se estica e agarra a minha mão na dela e aperta suavemente.

— Oh, querida, lidar com um homem que já teve uma história não é fácil.— Ela diz com
um sorriso.— Eu e seu pai estamos a vinte anos maravilhosos juntos. Mas no início, convencê-lo de que podia viver um novo amor depois de anos que sua mãe faleceu, foi trabalhoso.

Ela suspira.

— E uma coisa importante que eu aprendi, depois de algumas tentativas muito frustrantes, é que não se pode empurrar um futuro para uma pessoa que ainda está presa no passado.

Concordo com a cabeça enquanto as lágrimas novamente ameaçam quebrar.

— Eu tive que aprender a lidar com o passado de Rogério para encontrar uma maneira de ajudá-lo a seguir em frente. E com o tempo, ele aprendeu por si mesmo.

Suas palavras me fazem respirar profundamente, tentando preencher meus
pulmões sufocantes.

— Escute minha menina, não sei em que momento sua relação com Nathan mudou, mas eu quero dizer-lhe que na outra noite, quando ele veio conversar com você, eu vi vocês dois juntos na varanda, vi uma conexão lá que apenas não acontece todos os dias. Quando ele olhou para você, ele me lembrou da forma como seu pai olha para mim.

Eu sorrio, sentindo o gosto salgados das lágrimas que descem pelas minhas bochechas.

— Tenha paciência com ele, aprenda a lidar com o passado dele e você verá a mágica acontecer.

Concordo mais uma vez, e ela desliza o braço em volta dos meus ombros, me puxando para um abraço. Ficamos assim por longos minutos, em seguida ela se levanta e deixa um beijo carinhoso em minha testa.

— Eu estou tão contente de ver você viver novamente, minha menina. —Diz ela, enxugando uma lágrima de seu rosto.

Eu suspiro quando ela sai do quarto. Eu não tenho certeza se eu realmente estou vivendo, porque eu ainda estou nessa fase inábil onde estou tentando reunir todas as peças. Eu vou precisar de cola em breve, mas eu não sei onde, nem como, encontrá-la. Mas, por agora, todos estão contentes apenas por ter Sophia de volta.

E isso é bom.

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