Capítulo 65-Júnior -Do que adianta chorar pelo leite derramado?

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» Junior«

O fundo do poço.

O maldito fundo do poço é onde me encontro nesse momento.

Quero gritar, mas, em vez disso rosno em frustração.

Como eu consegui fazer uma bagunça tão grande?

Ela era minha, completamente minha e joguei tudo fora. Estou perdendo a mulher da minha vida. Ela está escorregando por entre os meus dedos sem que eu possa fazer
nada.

— Eu quero ficar sozinha.

Os olhos azuis cravados nos meus ostentam uma mágoa palpável. Ela está sofrendo e isso dói pra caralho em mim.

— Por favor... ―Pede baixinho.

Baixei a cabeça e tentei me controlar.

Eu não queria desistir.

— Baby, não desiste assim de nós...— Digo devagar, sentindo meu peito apertar e minha respiração ficar difícil.

Ela me olha longamente. Então, suspira e balança a cabeça.

― Eu sinto muito, Junior...―Murmura, limpando as  lágrimas em sua face.
― Sophia, pelo amor de Deus, deixe o seu maldito orgulho de lado!― Digo me Controlando para não ir até ela e sacudi-la.
— Vá embora, Junior— Ela me encarava como se visse outra pessoa em meu lugar. — Espero que encontre alguém que te faça feliz—  Ela faz um som estrangulado em sua garganta.— Que te faça esquecer que eu existo.

Eu quis dizer que não iria esquecê-la. Que nada me faria mais feliz do que tê-la em minha vida. Quis dizer que estava preparado para ouvir todas as condições que ela pudesse impor. Mas fiquei calado, apenas fitando seus olhos. Antes imaginei que vivia na escuridão, mas nada se compara a isto. Agora estou no mais profundo abismo onde só há dor e desespero. Sophia tinha invadido minha vida e meu pensamento, tinha ultrapassado em muito o desejo físico. Eu não sabia mais respirar se não fosse o mesmo ar que o dela e agora, o seu pedido me sufoca.

— Eu não posso.

Me aproximei e beijei sua testa suavemente.

— Como vou tirar alguém da cabeça, se essa pessoa está no meu coração?— Eu disse próximo ao seu ouvido e senti seu corpo endurecer.

Quando afastei o rosto e a encarei, as lágrimas desciam rápidas. Uma e depois outra, correndo pelo seu rosto e se perdendo em seu colo.

— Vou deixar seus pais entrar agora. Se precisar de mim, estarei lá fora. —Caminhei até a porta e a fechei atrás de mim.

Me sento no banco de metal do corredor e passo as mãos pelos cabelos. Minha cabeça girava tanto que eu quase não conseguia ter um pensamento coerente. Eu podia sentir uma avalanche de sentimentos sendo revirados dentro de mim.

A perdi para sempre?

Ainda há uma chance?

Essas perguntas fervem dentro de mim. Não sabia que existia uma dor tão crua. É quase física, inquietante. Como se alguém estivesse apertando, comprimindo seu coração.

Que porra vou fazer agora?

Minha mente se enche de imagens de nós dois juntos. Cada momento em que a tive em meus braços era o céu. Seu sorriso bonito, seus olhos desafiadores, sua língua espertinha. Os debates bobos que tínhamos que, na verdade, só tornava nossa camaradagem fácil. Eu tive tudo que um homem precisa ter para ser feliz e estupidamente deixei escapar.

O que vou fazer da minha vida sem ela?

De alguma forma, eu deixei ela se tornar minha rocha, sem ser homem o suficiente para fazer o mesmo por ela. O pensamento me enche de uma vergonha sem palavras, e angustiado peguei o celular no bolso e disque o número da única pessoa que poderia me aconselhar.

Nicolas atendeu no terceiro toque.
— Um momento — Ele pediu.

Depois de alguns minutos
voltou a falar.

— Algum problema Junior?
— Eu estraguei tudo— Digo e esperei.

Ele não respondeu de imediato. Ficou respirando contra o telefone e eu esperando para ouvir sua voz.

— O que você fez? — Perguntou depois de um tempo.

Contei tudo a ele que permaneceu em silêncio por mais um tempo. A única coisa que eu ouvia era sua respiração contra o telefone.

— Você a ama não é?
― Muito mais do que eu gostaria ―Confesso.
— Disse isso a ela ?
— Não diretamente.

Suspirei, sentindo minha garganta fechar. Eu não tinha nenhuma dúvida quanto ao meu amor por Sophia. Não mais. Eu amo tudo nela, até quando me xinga. Estou ciente do quanto isso é perigoso. Digo, somos farinha do mesmo saco. Ela sabe, eu sei, todo mundo sabe que a gente não tem muito para dar certo, mas eu não me importo com essa percepção. Há cada minuto que passa sinto as marcas de ter deixado ela entrar em meu coração.

Então porque eu simplesmente não disse isso a ela?

Porque eu simplesmente não disse a ela que eu a amava?

Do que eu tinha tanto medo afinal?

― Se quer um conselho ― Nicolas disse depois de mais um tempo em silêncio.—  Você precisa de ajuda antes de procurá-la. Precisa se entender com seu passado antes de tentar um futuro. Porque ela merece alguém inteiro ao seu lado.

Repassei as palavras em minha mente sem dizer nada. Ele estava certo. Eu precisava começar o meu processo de cura. Uma cura verdadeira, profunda. Eu havia enterrado coisas demais sem que as tivesse deixado morrer primeiro. Elas eram como os
zumbis saídos dos filmes, perseguindo-me por todos os lugares.

Eu precisava deixa-las morrer.

— Se você realmente a quer de volta, vai ter que fazer isso, irmão. Ela não vai te dar outra chance de rasgá-la de novo.—Nicolas continuou e respirei fundo, soltando o ar dos pulmões bem devagar.
― Não posso perdê-la, Nicolas. Mas não faço ideia de como evitar que isso aconteça.
— Comece respeitando o tempo dela, Junior. ― Ele me disse. ― Tente não forçar as coisas. Agora ela está confusa e magoada com você. Também está  sobrecarregada com toda a situação do sequestro. Ela precisa organizar os pensamentos. Obedeça o tempo dela, enquanto você mesmo se entende com os esqueletos no armário.

As palavras entraram por meus ouvidos e trouxeram um turbilhão de emoções. Eu tinha conseguido transformar uma coisa boa em uma merda completa. Era minha especialidade. Cedo ou mais tarde eu sempre estrago tudo. É sempre só uma questão de tempo até que tudo se vá por água abaixo. Coloco as peças uma por uma, a fim de fazer um efeito dominó, afim de fazer um caminho, ter um finalmente, e as peças sempre caem. Elas caem antes de ficar de pé, antes de eu colocar uma atrás da outra, elas caem em cima uma da outra, ou ficam tortas, me deixando incapaz de endireitar.

Cai, tudo cai. Cada peça, em um suicídio coletivo total.

— Você ainda está aí?—  Pergunta Nicolas.
— Ainda estou aqui. Eu só estou pensando.
— Bem, espero que você esteja pensando em como fazer isso direito.
— Eu estou. Tem alguma ideia brilhante para mim, desde que você previu que teríamos essa conversa?

Meu cunhado ri.

— Bem, você está por conta própria para isso. Mas eu acho que quando chegar a hora, se você falar do coração, você pode descobrir.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now