Capítulo 54-Emilly e Sophia-A língua humana é feira de maldade

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»EMILLY«

Não faço de ideia de por quanto tempo permaneci desacordada, nem sei como fui colocada dentro da vam.

Se é que era mesmo uma vam.

Quando abrir meus olhos minha cabeça latejava insistentemente, como se tivesse sido golpeada. Tentei mover minhas mãos, mas elas estavam amarradas contra minhas costas em uma posição desconfortável. Tomando respirações lentas e quietas,   analisei meu estado. Eu estava deitada contra o chão de algo que parecia uma vam ou coisa do tipo. Havia um ponto dolorido em minha testa e também estava molhado. Algumas mechas de cabelo caídas sobre meu rosto e cheiravam a sangue, mas eu não sentia dor em nenhum outro lugar além da minha cabeça. Tentei encarar as janelas ainda deitada no chão, mas minha visão era muito limitada. Pensei em gritar, mas não achava muito prudente. Eu provavelmente não seria ouvida por mais ninguém além dos ocupantes do carro e eles certamente não iriam me ajudar.

― Você é um idiota!―Uma voz gritou do banco da frente.― Sabe que não deveria ter machucado ela.
― E o que você queria que eu fizesse?― Outro esbravejou. ― Que pegasse a garota gritando e se debatendo? Nós estávamos em frente à um evento de pessoas com sobrenomes poderosos!

Engoli em seco sentindo as primeiras lágrimas caírem dos meus olhos.
Eu não conhecia nenhuma das duas vozes, mas sabia que um dos homens, o que provavelmente havia me agredido, era estrangeiro. Ele tinham um sotaque arrastado e quase incompreensível que apenas os estrangeiros tinham.

― Não sei como você vai explicar a garota desmaiada. Você sabe que ela só vale alguma coisa viva. Quero ver como você vai se explicar se a garota morrer.
― Ela não vai morrer ― O estrangeiro disse displicente ― Mas se morrer nos livramos dela.

Continuei chorando por
mais algum tempo sem emitir som algum. Eu não tinha certeza se queria que eles soubessem que eu havia acordado.

― Quanto tempo até chegarmos? ― O estrangeiro perguntou.
― Mais uns vinte ou trinta minutos.

Apertei meu rosto contra o chão de carpete e chorei um pouco mais. Era um sequestro. Não um simples sequestro relâmpago ou coisa assim. Meia hora de carro significava que talvez eu nem estivesse mais em Recife. Talvez ninguém me encontrasse.

Talvez eu realmente acabasse morrendo.

O tempo passa lentamente, enquanto os quilômetros se acumulam e meu
pânico se dissolve. Eu tinha a sensação de que os minutos eram décadas, até que a vam parou. A noite parecia alta lá fora, e assim que o motor parou de girar eu pude ouvir o barulho de grilos e outros insetos, o que indicava que não estávamos em uma cidade.

― Anda, vai lá atrás e tira a garota ― Um dos homens disse― E veja se consegue não matá-la ainda.

Ainda ― Foi o que minha mente processou em aflição.

Eu tinha um prazo para viver.

Uma porta de correr foi aberta e revelou a escuridão do lado de fora. Eu não conseguia enxergar bem, mas podia ver que o homem usava uma máscara. Era uma daquelas toucas escuras com furos nos olhos.

— Ela está acordada— Ele gritou e um moreno musculoso apareceu em meu campo de visão.

Pisquei algumas vezes sem dizer nada. Eu não sabia ao certo como me comportar diante do sequestro. Não queria gritar e esbravejar porque não adiantaria e eu não queria que eles acabassem com raiva de mim porque isso não era uma coisa boa. Eu já havia lido livros e assistido séries de suspenses o suficiente para saber que o pior caminho era ser a refém louca.

Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora