Capítulo 60-Nathan-O perdão é uma das características do forte.

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Em certos momentos de nossa vidas, uma harmonia que existia se rompe. É como um quebra-cabeças no qual uma peça não se encaixa bem e os pilares fortes e seguros da vida se tornam fracos e cheios de rachaduras. A gente sofre. Sente uma faca afiada acertando o peito, acha que perdeu a capacidade de respirar. Nota o corpo enfraquecendo, as forças esvaindo.
O mundo parece estar desabando.

“ A culpa nos faz conhecer e sentir a dor, Nathan. No seu ápice, na sua forma mais clara. Mas também nos dá o prazer de reaprender, de se refazer, e assim devagar, ser feliz de novo. ”

Essas foram as últimas palavras de Veronica antes dela cometer suicídio. E hoje eu compreendo cada verso. Sem perceber, a dor, a culpa, foi diminuindo. Sendo retirada aos pouquinhos do meu coração, como se estivesse de mudança. Como se percebesse que sua presença não fazia mais sentido.

Ela foi embora.

E eu devia isso a garota de olhos azuis encantadores e sorriso intenso. Que se o tempo estivesse fechado o céu abriria só pra ver ela sorrir. Devia a mulher que conseguiu encontrar o caminho para meu coração sem se perder. Ao meu anjo que me deu uma chance, que eu nem sequer merecia. Ela que me presenteou com abraços sinceros e beijos de perdão. Que entregou a mim o coração, a chave, o cadeado e a sua paixão. Com certeza, eu não queria perder ela. E agora, olhando ela caída no chão sujo de sangue fez meu coração parar e eu quase caí de joelhos. Eu não podia me mover, não no início.

Eles a tinham torturado.

Seu belo cabelo outrora loiros e comprido, está curto, sujo e emaranhado em sangue. Metade do seu rosto estava inchado. Sua garganta estava vermelha, e seus braços e pernas tinham muitos hematomas.

— Emilly... —Sussurei e lentamente ela vira a cabeça e levanta os olhos para mim.

Senti toda a adrenalina e agitação simplesmente me deixar. Eu sabia que era ela, e não era pelo simples fato de estar usando o colar que eu dei, mas sim pela forma como meu corpo reagiu à sua presença. Assim que coloquei meus olhos nela, uma calma trêmula se apoderou de mim. Ternura como eu nunca tinha experimentado cobriu a minha raiva. Era como uma folha fina, velando a luxúria do sangue.

Eu engoli em seco, forçando minha boca em um sorriso. Ela tinha que me ver sorrir. Ela tinha que saber que tudo ia ficar bem.
— Você... você pode me ouvir?—Perguntei me ajoelhando ao seu lado.

Toquei em seu rosto e as lágrimas brotaram e caíram, deslizando sobre as contusões.

— Não chore, meu amor.

Eu limpei meu polegar sobre seu rosto, esperando por Deus que eu não a tivesse machucado com aquele leve toque.

— Você pode falar? —Perguntei enquanto tirava minha camisa e sua cabeça balançou uma polegada, mal.— Tudo bem meu, amor. Não faça muito esforço, eu vou te tirar daqui.

Pressiono com mais força a minha camisa na sua cabeça. Há sangue por toda parte, e eu ainda não tenho a menor ideia sobre o que diabos aconteceu neste quarto antes de eu chutar a porta. Seu corpo está espancado e fraco. Eu podia ver a dor, a tristeza, e a tempestade em seus olhos.

— Eu...Sophia... —Ela tenta falar mas sua voz sai como um assobio fino.
— Vai ficar tudo bem.

Eu deslizei meus braços e segurei-a apertado.

— Vamos sair daqui e encontrar ela ok?

Ela concordou enfiando a cabeça em meu pescoço. Me levantei com ela em meus braços e segui até a porta atento a qualquer som, e me movi calmamente pelo corredor.

Abri uma porta.

Nada.

Outra.

Nada.

Destinos CruzadosWhere stories live. Discover now