O destino de Scarlett

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 Ao acordar no dia 07 de junho de 1796, Scarlett estava com uma febre ainda mais alta e sentindo calafrios intensos. A aquela altura, Antônio já havia ido há um bom tempo para Salvador buscar o melhor médico que conhecia naquela cidade, que era muito amigo de Scarlett. O problema é que uma viagem para Salvador, quando realizada de forma muito rápida, demorava, no mínimo 5 dias naquela época, o que atrasaria intensamente aquele tratamento.

O doutor estava muito preocupado com a situação daquela senhora que piorava a cada dia, mas preferia cumprir o acordo que havia feito com Antônio, de só realizar algum procedimento quando o outro médico chegasse para dar uma outra opinião quanto a situação de Scarlett.

A aquela altura, Scarlett já não tinha mais nenhuma vontade de viver em meio a todo aquele sofrimento que estava a passar. Ela tinha um desejo muito grande de morrer de uma vez para finalizar aquele sofrimento, mas não tinha como fazer isso, pois não conseguia ninguém que a ajudasse a acabar com a sua própria vida.

Visando abreviar o seu sofrimento, Scarlett ficava sem comer e bebia água com dificuldade, depois de muita insistência daquela assistente e do médico. O problema é que quanto mais ela tomava essa atitude, mais fraca ficava e com o seu corpo debilitado, maior era o sofrimento que sentia.

Naquela terça-feira, Artur e Pérola chegaram na região próxima a cidade de São Paulo. Eles ficaram impressionados com o desenvolvimento daquela região e as belas fazendas que tinham em volta daquela cidade, que até aquele momento, não estava entre as maiores da Colônia, sendo uma cidade de porte médio naquele período histórico.

Mesmo não sendo uma cidade com uma população muito grande, a aquela altura, São Paulo era um ponto estratégico muito importante da Colônia, por onde boa parte da produção do interior passava para chegar ao porto de Santos, um dos mais importantes naquele período.

Pela grande circulação de pessoas e de riquezas, São Paulo já era uma cidade imponente naquela época, tendo um comércio muito forte, enormes casas, igrejas importantes, além de outras construções muito modernas para a época, que encantaram aquele casal. Para conhecerem melhor aquela cidade em evolução, eles resolveram descansar por três dias antes de partirem em direção ao extremo sul da Colônia.

Durante aqueles dias que ficaram em São Paulo, Pérola e Artur passearam muito. Foram ao teatro, passearam nos parques da cidade, comeram em bons restaurantes, conheceram pessoas influentes daquela oligarquia em crescimento e quando chegavam no quarto da pousada não perdiam tempo e faziam amor por inúmeras vezes, pois Pérola queria engravidar novamente para apagar um pouco a dor que sentia por ter perdido aquele bebê. Artur a apoiava nessa decisão, pois queria ter logo um filho, já que eles estavam a ficar mais velhos para procriarem, de acordo com o padrão daquele período, em que as pessoas, normalmente, casavam mais jovens e tinham filhos também antes dos 25 anos, idade em que ambos já haviam passado.

Eles estavam muito à vontade naquela viagem. Diferentemente da anterior, que fizeram em fuga, eles tinham convicção que não estavam sendo seguidos pelo fato de terem organizado um plano que forjou a morte dos escravos daquele segundo andar. A tranquilidade deles era ainda maior por entender que Scarlett havia morrido naquele incêndio.

Além de tudo isso, eles aprenderam muito com os erros da fuga anterior que realizaram e dessa vez faziam as ações muito bem pensadas para não levantarem suspeitas no decorrer daquelas viagens, tendo, inclusive, modificado intensamente as suas aparências e as formas de se vestirem.

Naquela altura, ambos já haviam acostumado com os seus novos nomes e suas datas de nascimento e quando estavam em público Artur chamava Pérola de Ana, enquanto ela sempre o chamava de Justino. A felicidade daquele casal com toda aquela liberdade que estavam a viver, sem o temor de estarem sendo perseguidos pela primeira vez em suas vidas, era muito grande.

Miss Scarlett e a escrava brancaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora