A quarta-feira

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Durante boa parte daquela quarta-feira Artur fica pelos cantos daquela casa a pensar. Depois do almoço ele foi para o quarto e a sua mucama estava um pouco melhor. Quando ele a viu arrumando alguns lençóis, ele pela primeira vez, depois daquela punição resolveu dialogar com ela:

- Peço perdão pelo que fiz. Eu não sabia que aquilo iria gerar consequências tão pesadas para você e minha mãe.

- Tudo bem Artur não se preocupe com isso. Eu já estou melhorando, responde aquela mucama, tentando tranquilizar aquele menino.

- Ainda sente muitas dores?

- Sim. Ainda dói muito, ainda não melhorei completamente e como não posso andar sem cobrir as minhas costas, quando a roupa pega em algumas partes que ainda não cicatrizaram, dói muito ainda.

- Eu sinto muito, eu não consegui me controlar ao ver a minha mãe. Eu que deveria ser castigado e não vocês duas. Diz aquele menino com um semblante triste, ainda se sentindo culpado.

Naquele momento a mucama olhou para aquele menino e sentiu pureza em sua fala e seu olhar. Ela então lhe deu um abraço e disse:

- Eu entendo porque agiu daquela forma.

- Jura. Mesmo depois de ser castigada como foi você ainda me entende e me perdoa? Questiona Artur com um olhar esperançoso.

- Sim. Eu entendo e te perdoo, se estivesse no seu lugar, provavelmente, teria feito a mesma coisa.

- Sério mesmo? Questiona Artur muito impressionado com a fala daquela mucama.

- Sim. Se pudesse ver a minha mãe de novo, tenho certeza que não perderia essa oportunidade. Infelizmente hoje não sei onde ela está, se está viva ou já morreu. Eu convivi com a minha mãe até quando acabei de completar cinco anos de idade. Assim que fiz cinco anos o meu senhor me vendeu.

- Nossa! Que pena. Diz Artur demonstrando tristeza em seu semblante.

- No dia de separar de minha mãe foi horrível. Eu não vou me esquecer nunca desse dia. Eles disseram que iriam me levar porque eu fui vendida. A minha mãe estava na senzala. Ela então me segurou nos braços e me agarrou. Aqueles homens tentaram me arrancar dos braços dela, mas ela não deixava de forma nenhuma. Ela, desesperada, me segurava em seus braços com toda a força e eu também desesperada a segurava. Tiveram que juntar três homens para me tirar dos braços dela e demoraram muito tempo para isso. Ela gritava a se movimentava de forma que eles não conseguiam me tirar dos seus braços. Depois de muito insistir, eles a jogaram no chão e começaram a chicoteá-la de forma intensa, mas ela estava deitada de costas comigo em seus braços e não me soltava, mesmo em meio a aquelas intensas agressões. Depois de uns 10 minutos de chicotadas intensas em suas costas e aqueles homens tentando me puxar, um deles amarrou o chicote em seu pescoço e ela sufocada começou a perder as suas forças. Foi quando eles finalmente me tiraram dos seus braços e me levaram para fora daquela casa. Tudo que eu fazia nesse momento era chorar, desesperada, sem saber para onde estavam me levando, até que fui parar na fazenda do pai de Scarlett. Diz aquela mucama quando lágrimas escorriam de seus olhos ao relembrar aquela cena do passado.

Artur naquele momento sente uma compaixão enorme por aquela escrava e se imagina dentro daquela história contada, quando diz:

- Que triste tudo isso ter acontecido. Porque temos que ser escravos heim?

- Dizem que é porque nascemos assim. Dizem que o mundo é dessa forma, uns nascem donos outros escravos. Pelo fato de isso ter acontecido comigo eu entendo porque reagiu daquela forma. E tenho certeza que se estivesse no seu lugar eu teria feito o mesmo para abraçar a minha mãe de novo. Essa marca aqui oh. Diz aquela mucama ao demonstrar uma marca intensa em seu braço, quando continua a sua fala: - Foi a marca de uma das chicotadas que eles deram em minha mãe naquele dia, e que a ponta do chicote pegou em mim. O corte foi imediato e a dor foi terrível, mas, isso ocorreu depois de eles já terem surrado a minha mãe por muitos minutos. Ela fez de tudo para me manter com ela o quanto pôde. Diz aquela escrava, quando lágrimas começam a escorrer de seus olhos de forma ainda mais intensa, quando ela limpa os seus olhos com as mãos.

Artur ao ver a emoção daquela jovem ao lembrar de sua mãe, a abraça, de forma cuidadosa para não tocar em suas costas, ficando também muito emocionado com aquele relato.

- Infelizmente eu fui vendida Artur e perdi completamente o contato com a minha mãe. Aproveite enquanto tem a sua e desfrute, mesmo que de forma singela, as possibilidades que a vida lhe dá de ter algum contato com ela, enquanto pode. Se eu estivesse no seu lugar, eu tenho certeza que teria feito a mesma coisa, custe o que custar. Por isso não precisa pedir desculpas Artur, você não tem culpa de nada.

Aquela fala deixou Artur um pouco mais confortável, depois de ter se sentido por dias, extremamente culpado pelo castigo daquelas escravas, após as falas de Scarlett o dando conta de que ele era o responsável por aquelas punições.

Um pouco mais tranquilo, aquele menino começa a ajudar aquela mucama a arrumar aquele quarto, que depois de muito tempo sem arrumação, já que era ela que arrumava e estava debilitada naqueles últimos dias, estava bastante bagunçado.

Depois que arrumam aquele espaço os dois deitam para descansar um pouco, ambos mais tranquilos após aquela conversa emocionada.

Miss Scarlett e a escrava brancaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora