Miss Scarlett e a escrava branca

A mudança de ares

Os meses foram passando e já era setembro de 1794, quase dois meses após aquelas máquinas estarem em funcionamento e um mês depois da retomada do regime de produtividade. Aquela região estava passando por uma seca enorme naquele período, algo que não acontecia há muitos anos. Em uma noite, em meio a aquele tempo seco, ocorreu uma queimada na região e ela invadiu as terras de Scarlett, começando a queimar toda a plantação de cana de sua fazenda.

Imediatamente ao perceber os estragos daquela queimada, todos os escravos foram liberados dos seus galpões e foi lhes ordenado que eles corressem para tentar apagar aquele fogo. Os escravos, com muito medo das reações de Scarlett, tentaram de toda a forma apagar aquele incêndio, mas, o fogo estava muito intenso e com o tempo passando, eles não estavam a conseguir. Durante o tempo em que tentavam apagar aquelas chamas, os capatazes diziam por vários momentos, em tom ameaçador, que Scarlett não iria os perdoar caso não conseguissem acabar com aquele incêndio, os deixando ainda mais desesperados.

Depois de horas tentando combater aquelas chamas, faltou água nos reservatórios e os escravos começaram a tentar apagar aquele fogo, de forma descontrolada, com terra, jogando-as sobre as chamas, para abafar os pequenos focos, tamanha a situação de desespero que se encontravam. Aquilo era muito pouco efetivo, mas, eles não estavam encontrando nenhuma alternativa e no desespero, agiam daquela forma.

Em meio a uma vontade incontrolável de salvar aquelas plantações, alguns escravos chegaram a entrar em meio ao fogo para tentar apagá-lo, em uma tentativa desesperada. Alguns deles, se intoxicaram e acabaram morrendo em meio a aquelas chamas. Ao final daquela madrugada, os escravos, exaustos, finalmente conseguiram apagar os últimos focos de incêndio, mas, ele já havia consumido mais da metade das plantações daquela senhora. Na contagem dos escravos, percebeu-se que seis deles haviam sido mortos pela intoxicação da fumaça ou em meio a aquelas chamas, enquanto tentavam apagar aquele incêndio que veio claramente de terras vizinhas.

Logo pela manhã, Scarlett foi acordada e Antônio a esperava no escritório para conversar sobre o ocorrido:

- Bom dia senhora Scarlett! Diz Antônio.

- E o que tem de bom Antônio? Minha plantação foi muito queimada e você vem me dar bom dia a essa hora da manhã? Questiona Scarlett demonstrando ira em sua fala.

- Senhora, foi inevitável, não se tinha o que fazer.

- Tudo é evitável Antônio. A culpa de tudo é desses escravos que não fizeram o serviço direito. Se não foi eles que colocaram fogo na minha plantação. Afirma Scarlett em tom desconfiado, quando complementa a sua linha de raciocínio: - Eles viram o quanto eu estava a ficar rica com a venda do açúcar e estão querendo frear o meu poder, me sabotando. Diz aquela senhora demonstrando convicção em sua fala e um tom irado.

- Senhora, isso não é possível, estavam todos em suas senzalas quando as chamas atingiram as suas terras. A contagem foi realizada, os escravos estavam todos reclusos quando isso aconteceu. Tenta justificar Antônio, demonstrando preocupação com a reação que Scarlett poderia ter contra os negros.

- Algum deles deve ter conseguido sair daquele lugar e começado esse incêndio. Esses escravos sempre arrumam uma forma de confabular contra os seus donos.

- Senhora, eles tentaram de tudo para apagar essas chamas, seis escravos morreram enquanto tentava apagar o incendio, tamanha a vontade que eles estavam de salvar a sua propriedade.

- Não fizeram mais do que a obrigação deles. São meus escravos, tinham mesmo que morrer pela minha propriedade!

Antônio fica impressionado com a maldade daquela senhora. Ele não estava mais conseguindo lidar com Scarlett. Claramente aquela senhora não tinha nenhum apreço pelos escravos e por mais que eles faziam por ela, mais ela parecia os desvalorizar e ter pensamentos cruéis. Os pensamentos dos dois, com relação a essa questão, estavam cada vez mais conflitantes. A distância de pensamento, estava começando a ficar intransponível depois de tantos anos de trabalho.