Os meses seguintes

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Era março de 1789, muitos meses após aquele incidente o qual Scarlett descobriu que Pérola estava a conversar intimamente com Artur e começou a mudar a sua postura perante os escravos. Durante todo aquele tempo, Pérola não se relacionou com Artur e nem sequer trocou uma palavra com ele naquela casa. Ela demonstrava apenas sinais sutis de que estava com saudades daquele belo escravo.

Nesse mês, Scarlett foi até o mercado de escravos e descobriu que um escravo cozinheiro, um dos mais famosos daquela cidade estava a venda, pois a sua dona estava com problemas financeiros. Aquele escravo estava acostumado a fazer enormes banquetes naquele vilarejo. Os seus pratos eram deliciosos! Como uma das cozinheiras de sua fazenda, a senhora Gertrudes já estava a completar 80 anos, uma idade muito incomum para os escravos da época, Scarlett resolveu comprar esse cozinheiro para substituí-la, caso ela viesse a ter problemas de saúde.

Scarlett então paga o preço de dois escravos negros naquele escravo de 32 anos que sabia cozinhar como poucos naquela região. Conhecendo a fama daquela senhora, aquele escravo chegou com um medo terrível naquela casa, mas, muito adorável, logo conquistou o amor de todos. Ele gostava de satisfazer os desejos dos escravos que naquela época comiam muito mal, apenas os restos das comidas deixadas pelos patrões. Como ele era um exímio cozinheiro, mesmo com aqueles restos de comida, conseguia fazer maravilhas e os escravos elogiaram muito a sua comida quando ele chegou.

Pérola que tinha um contato muito agradável com a maioria dos escravos, recebeu elogios deles quanto ao trabalho realizado por Tomaz e ficou muito feliz por isso, o elogiando algumas vezes. Por ela ser extremamente bela, logo aquele lindo escravo cozinheiro começou a se encantar pela delicadeza de Pérola e jogar algum charme para ela, mas Pérola, naquela altura, muito inocente, não entendeu muito bem essas cantadas realizadas por Tomaz.

Quem percebeu os olhares daquele escravo para a sua amada, foi Artur que logo começou a sentir um imenso ciúme daquela relação de amor por parte daquele escravo e de amizade por parte de Pérola. Um dia enquanto ela passava pelo corredor do segundo andar daquela casa, Artur a pegou pelo braço, com toda a força, para tirar satisfação com ela, depois de muito tempo que os dois estavam sem conversar, quando ele notou que Scarlett não estava em casa:

- Pérola, eu estou vendo que aquele escravo cozinheiro novato nessa casa, está a te olhar de uma forma muito estranha.

- Artur, porque está a pegar no meu braço de forma tão rude? Você está me machucando. Diz Pérola a retirar as mãos dele de seus braços.

- Eu não estou gostando nada dessa história sua com aquele escravo.

- Artur, eu não tenho sentimento nenhum por Tomaz. O sentimento que tenho nessa casa é por você, mas você sabe que ele deve ser totalmente ocultado, porque ele é completamente proibido.

- Eu também te amo Pérola e não quero ser trocado por outro escravo. Por favor, corte as liberdades desse escravo com você ou eu vou partir com ele pra briga quando ele olhar pra você com aquele olhar de desejo novamente.

- Está maluco Artur! Se fizeres isso como vai justificar isso para a nossa dona? Aí que ela mata nós dois mesmo, por traição. Diz Pérola assustada.

- Eu não tenho muito a perder Pérola. Tudo que mais vale na minha vida eu já tenho perdido a oportunidade de estar com você. Se ele insistir nisso eu mato esse escravo.

- Artur, Tomaz é meu amigo e mais nada além disso. Não precisa ficar nessa preocupação toda quanto a ele, não tem nada entre nós dois.

- Eu vou indo. Eu estou de olho em vocês! Diz Artur saindo de perto de Pérola em tom ameaçador.

Pérola muito inocente não entendeu muito bem aquelas insinuações de Artur, ficando um pouco chateada com aquelas desconfianças por parte dele, de que ela pudesse estar a se relacionar de alguma forma com Tomaz.

Dois dias depois daquele encontro, Artur foi ao quarto de Pérola, na parte da tarde, quando a sua dona não estava em casa. Ao entrar naquele quarto, ele fecha a porta e se aproxima dela, quando ela assusta intensamente:

- O que está fazendo aqui Artur? Está maluco, se a nossa dona te pega ou alguém estiver as nos vigiar.

- Scarlett não está em casa e Catarina também não, pode ficar tranquila.

- O que foi dessa vez? Diz Pérola demonstrando nervosismo em sua fala, pois ficou muito nervosa com a abordagem realizada por Artur da última vez que se encontraram.

- Eu vim aqui te pedir perdão Pérola. Eu não deveria ter falado com vosmicê daquele forma, eu não tinha o direito de fazer isso. Mas, eu perdi a cabeça e fiquei louco de ciúmes quando vi aquele cozinheiro a olhar para você com tanto desejo e vosmicê o tratar ele de forma tão cordial e inocente.

- Artur, eu não vou me relacionar com pessoas que não gosto e a única pessoa que já tive algum tipo de sentimento nessa casa é você. Eu só não retorno a namorar com você, poque fomos quase descobertos da última vez e o nosso namoro é completamente proibido. Afirma Pérola já mais tranquila naquele momento.

- Eu sei que você me ama Pérola. Eu sei dos riscos, mas não aguento mais ficar sem você! Temos que voltar a nos encontrar em algum lugar dessa fazenda. Nem que seja uma vez a cada mês. Quando não te vejo eu fico maluco. Eu te amo muito! Diz Artur com um semblante demonstrando estar completamente apaixonado.

- Eu também te amo Artur, mas é por isso mesmo que temos que ter prudência. Se Scarlett nos pega juntos eu não sei o que pode ser de nós e eu não quero te ver sofrer. Responde Pérola também com um semblante demonstrando paixão.

- Sofrimento maior do que te ver e não te ter Pérola, acho que não existe, por todos esses meses eu desejo um beijo seu novamente, todos os dias. Quando vai realizar esse desejo que está tão represado?

- Você precisa conquistar a sua alforria para que continuemos o plano de fuga. Sem isso não teremos a sonhada liberdade para podermos viver juntos.

- Mas, essa senhora não engravida Pérola. Estamos tentando isso há meses e nada. Afirma Artur demonstrando impaciência.

- Deus proverá Artur. Uma hora tudo vai se ajeitar e poderemos ficar juntos novamente e de forma definitiva, mas no momento não podemos arriscar. Só de você estar aqui no meu quarto a conversar comigo, já estamos a correr um risco enorme.

- Diga pra mim que me ama e que jamais me trocará por outro homem?

- Eu te amo Artur e nunca te trocarei por outro homem. Você é e sempre será o meu homem, aquele que quero casar um dia e ter uma família. Jamais duvide disso.

- Agora eu tenho certeza Pérola, saiba que o seu sentimento por mim é o mesmo que sinto por você, eu sou capaz de qualquer coisa para te ter junto a mim.

- Um dia isso vai acontecer. Deus proverá! Afirma Pérola. Quando Artur, dessa vez toca em sua mão de forma delicada e diz:

- Eu te amo! Você foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida!

- Você também foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida! Diz Pérola em retribuição, quando Artur sai daquele quarto indo para o corredor e entrando imediatamente no seu quarto.

Depois daquela conversa é que o sentimento de Pérola se despertou de forma mais extrema. Nas noites ela pensava o tempo todo no seu primeiro beijo, no encontro com Artur naquela cachoeira, onde fizeram amor. Aquelas cenas não saiam mais da cabeça daquela escrava. Ela sonhou com aquelas maravilhosas sensações por algumas vezes, no decorrer das semanas seguintes. Aquele amor no coração dela também estava a se tornar arrebatador, como era no coração de Artur.

Artur ficou da mesma forma, nas semanas seguintes a aquela conversa com declaração de amor, ele não conseguia mais se controlar de vontade de se encontrar com Pérola novamente. Ele sabia dos riscos, mas entendia que não estava mais a suportar ficar dentro de um mesmo espaço e ao mesmo tempo não poder ter uma relação mais próxima com alguém que amava tanto.

Então, no mês de abril de 1789, Artur não aguentou mais e decidiu que iria tentar um novo encontro com Pérola. Ele estava tão apaixonado que não conseguia mais controlar a necessidade de a ver e sentir aquele amor novamente. Ele era capaz de suportar todas as consequências para poder ter Pérola, pelo menos, mais uma vez em seus braços e não mediria esforços para isso.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now