A terça-feira

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Dois dias após aquela punição extrema, Scarlett chama Josias e questiona a ele:

- Como está aquela escrava, já está pronta para outra punição? Não vejo a hora de castigá-la de novo.

- Sinhá, ela ainda está muito mal e com muita febre. Não conseguiu nem levantar ainda depois daquele castigo. O sal grosso aumentou a velocidade da cicatrização, mas como ela não tem comido direito nesses últimos dias devido a febre, ela não tem reagido bem.

- Será que eu vou ter que obrigar essa escrava a comer de novo? Questiona Scarlett como se pensasse alto naquele momento.

- Eu não sei não senhora. Eu sei que ela não tá comendo. E que tem ficado fraca, delirando a noite inteira, como se estivesse ainda a apanhar e não consegue se levantar.

- Essa fraca ainda fica me afrontando. Ela ainda não percebeu que a força está em minhas mãos. Uma pena que é tão ignorante. Mas, eu mostro pra ela. Ainda não mostrei nem um décimo do que sou capaz. Diz Scarlett em tom direto.

Josias naquele momento tudo que faz é engolir seco, sentindo um frio na barriga de tanto medo da fala daquela senhora. Quando ele diz:

- A senhora quer que eu pergunte a curandeira o que fazer para melhorar o tratamento dela.

- Não Josias, não precisa. Eu não vou gastar mais nenhum centavo com essa escrava insolente. Com o tempo ela vai melhorar. E eu a castigo de novo. Estou ansiosa, mas dá pra esperar mais um pouco. É bom que eu consigo descansar um pouco o meu braço. Bater as vezes cansa. Diz aquela senhora de forma tranquila como se causar tamanho sofrimento aos escravos fosse a ação mais normal do mundo.

O que faz novamente Josias engolir seco, arregalar os olhos, ficando ainda mais intensamente desesperado.

- Agora pode ir escravo. Cuide de Justina. Se ela morrer antes da hora, farei questão de usar toda a minha força contra você. E olha que os meus braços são fortes. Dá pra fazer riscos bem intensos nas costas de escravos que não respeitam as minhas ordens.

Aquela fala atinge Josias em cheio que responde de forma completamente desesperada, já pálido de tanto medo:

- Eu sei sinhá. A senhora é forte demais. Eu vi as marcas nas costas de Justina. É impressionante a sua força. Ela não vai morrer não. Ela só vai morrer na hora que a senhora quiser.

- Assim espero! Diz ela ao sentir um prazer imenso naquele momento ao ver o semblante de pavor e palidez daquele escravo. Scarlett sentia um poder impressionante a todo momento em que agia para pressionar aqueles escravos a agir de acordo com as suas vontades.

Josias então vê os movimentos da mão daquela senhora o mandando ir embora e parte imediatamente apavorado daquele local, indo para o porão daquela casa, para continuar a vigiar e cuidar de Justina, rezando para que ela não viesse a morrer antes da hora em que a sua senhora desejava.

Naquela noite, Scarlett chama novamente Artur para jantar. Aquele menino recebe aquela senhora desesperado em seu quarto, quando ela ordena que ele se prepare para comer com ela na copa daquela casa.

Artur vai então no horário do jantar, tremendo de medo e se senta naquela mesa. Ao pegar um copo de barro que estava com suco, enquanto jantava, ele estava a tremer tanto, que o deixa cair, quebrando aquele copo na frente da sua senhora, o que o faz ficar ainda mais desesperado.

Scarlett grita com ele de forma intensa:

- Menino insolente, está fazendo isso só para chamar a minha atenção?

- Não sinhá, eu estava com medo e de tanto tremer o copo acabou caindo. Responde Artur pálido de tanto pavor.

- E está com medo de que? Questiona Scarlett de forma irônica.

- Eu estou com medo da senhora. Depois daquele dia eu fiquei muito apavorado com os castigos que vi e estou com muito medo da senhora.

Scarlett fica intensamente feliz com aquela fala. Ao ver o desespero daquele menino ela tinha certeza que ele estava completamente dominado psicologicamente e que jamais ousaria a contrariar novamente.

- Se fizer tudo direitinho, não precisa ter medo Artur. Eu só te castigarei quando merecer.

- Mas e se eu errar quando não quiser fazer nada de errado sinhá? Agora mesmo, eu não tinha a intenção de que esse copo caísse. Questiona Artur com os olhos arregalados.

- Se tiver atenção não cometerá erros. E não será castigado. Isso que aconteceu agora foi uma falta de atenção da sua parte. Esse eu vou relevar, mas, no próximo será sim castigado. Eu não tenho dinheiro para comprar copos todas as vezes que você quebrar. Estamos entendidos?

- Sim sinhá, peço perdão. Terei mais atenção e isso não vai mais acontecer. Responde Artur a tremer de medo.

- Assim espero. Diz aquela senhora em tom seco. Quando questiona: - E como está a mucama?

- Ela ainda está com febres e sentindo muitas dores. Hoje ela conseguiu levantar um pouco pela primeira vez agora anoite. Mas, as suas feridas ainda estão muito intensas. Ela não melhorou totalmente não. A senhora podia trocar aquele chicote sinhá. Ele corta muito profundamente a pele dos escravos e demora muito para ela cicatrizar. Pede Artur com um olhar de compaixão.

- Mas, é isso que faz aquele chicote ser tão bom! Eu comprei exatamente para isso. Quanto pior um chicote melhor ele é para os donos de escravos. Assim todos os escravos ficarão com medo de ser chicoteados e farão o trabalho melhor e sem erros.

Naquele momento Artur engole seco e prefere não dizer mais nada.

Então aqueles dois comem naquela mesa. E quanto ele acaba com toda a sua comida, aquela senhora diz:

- Hoje comeu tudo sem me contrariar não é?

- Eu nunca mais vou contrariar a senhora. Eu já entendi que não devo fazer isso.

- É assim que eu gosto menino. Agora pode ir para o seu quarto se quiser.

Artur então desce daquela cadeira novamente de forma rápida e sai correndo em direção ao seu quarto novamente sem olhar para trás.

Scarlett novamente abre um sorriso, pela reação desesperada daquele menino. Ela adorava sentir esse poder que conseguia exercer sobre todos, inclusive sobre crianças que, normalmente, costumam agir por impulso. Ela realmente conseguia fazer coisas impressionantes com todos que a rodeavam.  

Miss Scarlett e a escrava brancaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora