A decisão de Maria

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Pérola desesperada no primeiro andar da casa, ao ouvir aqueles gritos extremos, questiona para as escravas que estavam na cozinha, se elas sabiam o porque Scarlett estava a castigar Maria de forma tão extrema:

- Vocês sabem o que está acontecendo?

Catarina que estava na cozinha a escutar todos aqueles gritos diz:

- Eu não sei de nada. Eu só sei que Scarlett chegou da rua muito nervosa e foi logo castigando Maria.

- Eu também não sei. Responderam todas as outras escravas, inclusive Gertrudes.

Pérola então vai em direção as escadas para ver se conseguia descobrir alguma coisa. Mas, tudo que escutava a subir era o choro desesperado de Maria, o que a parte o seu coração. Ela então vai para o seu quarto, se ajoelha, pega um rosário e começa a rezar para que Maria tivesse forças para aguentar a severidade daquela senhora. Ela nem imaginava que era uma das responsáveis por aquele castigo extremo que sua amiga estava a sofrer.

Quando Scarlett questiona novamente:

- Tem certeza que vai querer continuar a ser castigada Maria? Até que é uma escrava forte sabia? Três palavras e pode se livrar de todo o sofrimento, mas prefere sentir uma dor extrema só pra não dizer aquilo que quero ouvir. Confesso que estou impressionada!

- Não senhora. Não é isso. É que sei que se disser algo diferente do que disse, estarei mentindo e provavelmente trocarei o meu sofrimento pelo de Pérola e isso não é justo. Ela não fez nada. Como disse, ele é virgem e nunca beijou ninguém nessa vida.

Scarlett imediatamente se senta na cama a frente daquela escrava e pede para que ela olhe dentro dos seus olhos novamente:

- Maria, eu sei quando está dizendo a verdade escrava. Quando diz a verdade, fala sem gaguejar, não desvia o olhar pra mim. Não treme. Diz de forma firme. Quando mentes fazes tudo isso que disse. Eu sei que estava mentindo da primeira vez que lhe questionei. Mas, vou confirmar agora. Me diga o que sabe sobre os relacionamentos de Pérola com Artur. Diga, agora escrava. Eu não lhe darei outra chance para isso.

- Senhora, eu estou com medo, desesperada. Em prantos aqui a chorar. Sei o quanto a senhora é severa em seus castigos. Quando me questiona algo dessa forma eu me desespero e não consigo falar sem gaguejar. Ainda mais agora em meio a tamanho sofrimento.

- Não adianta se justificar Maria. Eu sei quando fala a verdade pelos seus olhos. Você está a tentar me enrolar agora. Diz aquela senhora olhando fixamente nos olhos de Maria.

Maria estava completamente desesperada naquele instante. Aquela senhora parecia conseguir ler a sua alma. Todas as suas reações parecia que ela conseguia adivinhar as intenções. Ou ela dizia a verdade ou aguentava aquele castigo. Então ela decide:

- Senhora, eu já lhe disse a verdade. Mesmo que não acredite em mim. Pérola não tem relação com ninguém nessa fazenda que eu saiba. Aquela fala dela saiu o mais firme possível. Mas, o seu olhar tentava desviar do olhar de Scarlett e isso fazia aquela senhora perder a credibilidade no que ela estava a afirmar.

Scarlett então, no fundo de seus sentimentos, tem quase certeza que Maria estava a mentir naquele momento. Ela conhecia aquela jovem escrava desde muito nova. Já havia a castigado muitas vezes. Em outros momentos já havia a forçado dizer a verdade em meio a castigos. Conhecia Maria muito bem! Ela sabia que ela não dizia a verdade, mas não sabia até que ponto aquela hipótese levantada por Catarina era verdadeira. Ela iria até as últimas consequências para tentar descobrir isso:

- Eu tenho certeza que está a mentir pra mim Maria. Como te disse eu te conheço desde muito nova. Eu sei que Pérola está a se relacionar com alguém, que provavelmente é Artur e que você está tentando livrar a pele dela de um castigo. Pois bem, se prefere ser você a castigada no lugar dela. Por mim não tem problema. Aguente as consequências das suas escolhas.

Scarlett se levanta e vê o corpo de Maria a tremer intensamente. Muito nervosa ela mira aquele chicote no meio das costas daquela escrava e acerta um golpe extremamente violento naquele local. Maria se desespera com a dor que estava a sentir. Ela nunca tinha recebido um golpe tão doloroso em sua vida. Aquela sua dona estava incontrolada e começou a bater com fúria sucessivamente contra as costas daquela jovem escrava. Scarlett se sentiu afrontada por ter obrigado aquela escrava a dizer a verdade e ela não ter feito isso. Ela não teria clemencia naquele castigo.

Os golpes se sucedem e o barulho daquelas chicotadas perpassava por toda aquela casa. Gertrudes, de muito bom coração então diz:

- O que deu na nossa dona hoje. Eu nunca a vi tão nervosa! Ela vai matar Maria se continuar batendo assim.

- Eu não sei não. Mas, ela está mesmo fora de controle. Eu também nunca a vi tão nervosa a castigar alguém dentro de casa! Diz Catarina, que sabia o que estava a acontecer, mas tentava ocultar.

Pérola era puro desespero em seu quarto. Em meio as suas orações para que Maria tivesse forças, ela já havia contado mais de 30 golpes severos e com curto espaço de tempo entre um e outro. Scarlett estava mesmo com um ódio sem tamanho durante aquele castigo. Ouvir os gritos de Maria a cada golpe daquele era desesperador para quem a amava como Pérola. Aquela jovem pensou até em ir ao quarto de sua dona para tentar interceder, mas acabou desistindo, imaginando que ela fosse considerar aquilo uma afronta e pudesse aumentar ainda mais os castigos a Maria e depois lhe aplicar um castigo também o que causaria ainda mais sofrimento naquela casa.

Ao chegar no golpe de número 40, Scarlett cansada, depois de usar tanta força, para um pouco e olha para Maria. O corpo daquele escrava estava a tremer descontroladamente, tamanha a dor que ela estava a sentir. Cada vez mais encolhida, tentando se proteger, ela ficava a chorar desesperada, pensando na sua melhor amiga, para ver se criava forças para tentar salvá-la da ira de sua dona.

Quando Scarlett diz:

- Você acha que vou desistir não é Maria?

Em meio a um choro incontrolável, Maria não consegue responder. Não saia palavras de sua boca. As suas costas já estavam tomadas pelo sangue, que já pingava também pelo chão, tamanha a severidade daquele castigo.

- Diga escrava, o que espera que eu faça agora? Questiona Scarlett em tom irônico.

- Eu espero que tenha clemencia senhora. Diz Maria de forma ofegante após recuperar um pouco de ar.

- Clemencia com quem mente e me trai debaixo do meu próprio teto?

- Não senhora. Clemencia com quem está apenas a dizer a verdade.

- Eu sei que não dizes a verdade. E vou te provar isso escrava. Diz Scarlett a aumentar o seu ódio ao pensar em Artur a se deitar com Pérola. Ela então retoma aquela punição contra Maria, com extrema fúria. Depois de mais 5 golpes sucessivos, Maria não conseguia mais gritar. Ela havia perdido a sua voz. Scarlett muito revoltada, não se comovia e continuou a bater com toda a força e com um pequeno espaço entre um e outro golpe, levando Maria ao desespero e Pérola também. Depois de mais 5 golpes, Maria cai sobre o chão, demonstrando estar prestes a desfalecer completamente. Muito nervosa, Scarlett continua aquele castigo e chegando no golpe de número 60, ela percebe que Maria não reagia mais. Havia desmaiado tamanha dor que havia sentido.

Ainda nervosa, Scarlett chama Tenório e diz quando ele chega em seu quarto:

- Essa fraca não aguentou o meu castigo. Estava a me afrontar e não queria me dizer a verdade sobre um assunto que queria saber. Leve ao seu quarto e não deixe que Pérola se encontre com ela. Eu não quero mais nenhum contato entre as duas nessa casa. Peça a Tisa que cuide dos ferimentos dela e caso precise que chame a curandeira. Chame também Catarina, para limpar o meu quarto, eu não quero sangue dessa insolente aqui. Eu vou tomar uma água e volto para descansar um pouco. Esses castigos cansam a gente! Diz aquela senhora, sem demonstrar qualquer compaixão pela situação deplorável que se encontrava Maria, desmaiada no chão daquele quarto.

Até mesmo Tenório que era de coração extremamente frio, acostumado a matar pessoas, ficou com compaixão daquela escrava pela situação terrível em que suas costas estavam.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now