Miss Scarlett e a escrava branca

A visita do padre

O fim de semana passa e Scarlett fica esses dias preocupada com o que seria de seu futuro. Na segunda-feira, logo pela manhã, o padre, depois de muita pressão dos moradores daquele vilarejo, foi até a fazenda daquela senhora para lhe fazer uma visita e conversar a respeito do que se passa naquelas terras.

Ao chegar na casa daquela senhora ele é muito bem recebido e Scarlett pede que o padre se sente em uma das cadeiras de sua copa para uma conversa:

- A benção seu padre!

- Deus te abençoe minha filha.

- A que devo a honra de sua visita padre? Questiona Scarlett ao se sentar em uma cadeira e ver que o padre se sentava em uma cadeira ao lado da sua.

- Eu vim conversar com a senhora sobre o que andam dizendo no vilarejo com relação a sua pessoa. Estou muito preocupado com o que estão a dizer a seu respeito.

- O que estão dizendo sobre mim seu padre? Questiona Scarlett como se não estivesse sabendo de nada até aquele momento.

- Estão te acusando de ser severa demais com os seus escravos, dizendo que você está a cometer atos de bruxaria contra eles. Diz o padre de uma forma passiva, sem demonstrar muita credibilidade a aquelas acusações.

- Não pode ser seu padre. O senhor sabe o quanto sempre fui religiosa. Eu jamais faria alguma coisa nesse sentido. Eu tenho muito temor a Deus e respeito todas as regras religiosas. Eu fiquei mesmo sabendo que as pessoas estavam me acusando na cidade. Por isso, fiquei até com medo de ir a missa essa semana. Diz Scarlett se mostrando surpresa com a acusação das pessoas daquela comunidade.

- As acusações estão mesmo muito fortes, acho bom que você evite mesmo ir até o vilarejo nesse momento. A sua punição a uma de suas escravas foi muito comentado. Porque você castigou a escrava tão severamente? Questiona o padre.

- Ela me fez passar muito mal enquanto o meu marido estava nesse mundo seu padre. O meu marido preferia ela do que eu e ela começou a me maltratar tentando evidenciar ainda mais o seu poder. Eu fiquei a sofrer durante os meus oito anos de casa por causa dessa escrava.

- Mas o seu marido não poderia ter feito isso. Como pôde preferir uma escrava do que a sua esposa legítima? Questiona o padre.

- Era exatamente o que eu não entendia meu senhor. Mas, eu perdoei o meu marido pelo que aconteceu. Eu só não consigo perdoar essa escrava.

- Você tem que perdoá-la senhora. Não se pode ficar guardando rancor, nem contra uma escrava. Eu sei que ela é seu objeto, mas não é bom ficar guardando energias negativas em seu coração. A senhora precisa resolver isso logo. Porque a senhora não vende essa escrava? Questiona o padre.

- Eu vou pensar nisso senhor. Eu já estava pensando nisso no decorrer dessa semana. Agora que a minha ação deu toda essa repercussão estou mesmo pensando seriamente em me livrar logo dessa escrava. Eu pensarei nisso nos próximos dias. Eu já não tenho mais nada contra ela. Diz Scarlett quando complementa: - Acho que ela já sofreu o suficiente para pagar tudo que fez contra mim.

- Vejo que tem um coração bom. Diz o padre, quando completa a sua fala: - Fico feliz que esteja pensando assim. Isso demonstra que tem compaixão e sabe perdoar. Diz o Padre a finalizar a sua fala.

- Sim seu padre. Eu já a perdoei. Reponde Scarlett tentando demonstrar credibilidade em sua fala.

- Assim que a poeira baixar, volte a ir mais a igreja. Estou vendo a senhora um pouco distante da igreja após a morte do seu marido.

- Claro que voltarei senhor. No primeiro mês estava de luto, não saí para nada. No decorrer do mês seguinte estava resolvendo muitas coisas nessa fazenda. Por isso estava com dificuldade de comparecer a igreja. Mas, agora que tudo está mais tranquilo, eu poderei trabalhar melhor com as causas da igreja. Eu estou até pensando, agora que administro a minha fortuna,posso até fazer algumas doações para as causas religiosas. Tenho aumentado a minha produtividade e acho que isso é devido a uma ajuda do senhor. Eu preciso retribuir de alguma forma as bençãos que do magnifico tem me concedido.

- Eu fico muito feliz pela sua generosidade senhora. Eu tenho certeza que o magnifico está a iluminar as suas propriedades. Certamente você terá muita prosperidade daqui pra frente.

- Muito obrigado seu padre. Assim que as coisas acalmarem, eu vou retornar a igreja e participar das celebrações todas as semanas como fazia antes de meu marido infelizmente falecer.

- Eu sei que tem um coração muito bom senhora Scarlett e que todas essas acusações são infundadas. Diz o padre.

- Que bom que o senhor me conhece senhor padre! Eu também admiro muito o trabalho do senhor a frente dessa comunidade.

- Eu só vim aqui porque eu tinha que dar uma satisfação a comunidade. Mas, direi a todos que não há nenhum indício de que as suas ações tenham ligação com casos de bruxaria. Que estava a castigar a escrava porque ela não estava a atender as suas ordens. Sei que alguém generosa com as causas da igreja não pode cometer nenhum equívoco contra a fé, como aqueles que lhe acusam injustamente, dizem. Diz o padre dando uma deixa sobre a necessidade de que Scarllet continue a doar para as causas religiosas para que continue tendo o seu apoio.

- Muito obrigado pelo reconhecimento senhor padre. Certamente, o magnifico me dará as condições necessárias para que tenha mais prosperidade na produção e assim possa doar cada vez mais recursos para as causas religiosas.

- Eu tenho certeza disso também senhora Scarlett. Deixo aqui como dica para a senhora. Que não castigue os seus escravos tão severamente no decorrer dos próximos dias e que evite ir a igreja nas próximas semanas. Assim que estiver tudo esclarecido, volte a ir a igreja e demonstre estar participando das ações religiosas e que está a doar recursos virtuosos para a igreja. Uma pessoa que está a trabalhar em bruxaria não iria doar recursos para quem combate essas ações. Fazendo doações a igreja, ninguém poderá desconfiar mais da senhora. Todas as suas doações serão destacadas por mim ao final de todas as celebrações. Assim, certamente conseguiremos melhorar a sua imagem perante a sociedade.

- Sim senhor. Eu farei isso. Muito obrigado pelos conselhos. Nos próximos meses tratarei os meus escravos de forma mais tranquila, evitando que ações como essas possam ocorrer novamente. Diz Scarlett.

- Agora preciso ir. Diz o padre.

- Está cedo senhor padre. Responde Scarlett.

- Eu preciso fazer outras visitas na região. Mas, foi um prazer conversar com a senhora Scarlett. Espero que possa ficar bem!

- Eu estou bem senhor padre. Eu estou conseguindo lidar melhor nos últimos tempos com a perda do meu marido, mesmo sentindo muita falta dele.

- Com o tempo Deus confortará o seu coração senhora. Responde o padre, enquanto se levanta.

- Certamente que sim senhor padre. Deus não dá a gente uma dor maior do que somos capazes de suportar.

- Certamente que não. Responde o padre, enquanto eles caminham em direção a porta. Para se despedir, Scarlett pede novamente a benção ao padre:

- A benção senhor padre!

- Deus te abençoe senhora!

Depois de se despedir o padre sobe em sua carroça e vai em direção a saída da fazenda, onde se encontrava a estrada que ligava ao vilarejo em que ficava aquela paróquia.

Após aquele encontro Scarlett entrou para casa mais tranquila. Ela sabia que enquanto estivesse a doar recursos para a igreja, ela teria o apoio do padre. E com o apoio dele, ela jamais seria investigada pela inquisição, pois era o padre que poderia enviar o comunicado a aquele tribunal da possibilidade de haver alguém naquela comunidade a realizar atos de bruxaria. Aquela senhora estava muito mais calma naquele momento.