A promessa

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Antônio passeava por aquelas fazendas e um senhor Genivaldo, escravo, de aproximadamente 40 anos, o parou no meio do caminho, muito feliz da vida e lhe disse:

- Senhor, eu estou prestes a chegar a minha alforria! Eu estou muito feliz por isso!

- Como assim Genilvaldo?

- A senhora Scarlett, disse após a morte do seu marido que quando completássemos 100 meses completando a produtividade conseguiríamos a nossa liberdade e um dinheiro para poder continuarmos as nossas vidas. Pelos meus cálculos eu já consegui atingir a meta por 96 meses, faltando apenas 4 para conseguir a minha liberdade e o dinheiro prometido pela nossa dona. O senhor poderia confirmar pra mim se as minhas contas estão certas?

- Claro. Eu vou verificar nas minhas anotações. Inclusive, tenho que verificar se há outros escravos na mesma situação que a sua.

- Daquele tempo, senhor, que trabalhavam na lavoura temos poucos, a maioria já morreu na lavoura de tanto trabalhar ou morreu nos conflitos que foram realizados contra a nossa dona nas revoltas de Scarlett. De acordo com as minhas contas, se tiver mais gente daquela época que já está tão perto quanto eu, não passam de 20 escravos.

- Eu farei essa conta e levarei imediatamente para a apreciação da senhora Scarlett. Ela autorizando a alforria de vocês temos que fazer uma festa de comemoração.

- Agora fiquei preocupado senhor. O senhor acha que ela pode não cumprir com o prometido?

- A senhora Scarlett é uma mulher de palavras, tudo que ela disse até hoje, cumpriu. Por isso é tão respeitada. Eu acho que não há a mínima chance dela não cumprir com aquilo que foi prometido.

- Assim fico mais tranquilo e feliz meu senhor. Aguardo notícias. Muito obrigado por tudo!

- Eu que agradeço Genivaldo. Diz Antônio ao se despedir daquele senhor e ir imediatamente ao seu escritório para fazer os cálculos de quantos escravos estavam próximos de completar os 100 meses com a meta cumprida.

Aquela era uma chance que eles teriam de motivar novamente aqueles escravos que estavam totalmente sem ânimo para o trabalho depois do retorno da senhora Scarlett, alguns deles, tamanha era a sua vontade de desistir da vida, que estavam até mesmo a se suicidar.

Depois que ele realizou os cálculos, vai até a senhora Scarlett que estava a tomar o seu café da tarde e diz:

- Boa tarde senhora!

- Boa tarde Antônio, está tudo bem pela fazenda?

- Sim senhora. Eu tenho uma boa notícia.

- Eu adoro boas notícias, pode dizer.

- Um dos escravos me lembrou de uma proposta da senhora que pode trazer motivação a todos os escravos.

Scarlett se assusta e questiona:

- Que proposta é essa?

- Assim que a senhora assumiu o controle da fazenda, há 13 anos atrás, a senhora disse para os escravos que iniciaria o regime de produtividade e que a análise seria realizada por grupo. A senhora se lembra?

- Claro que sim. Esse é o regime aplicado até hoje.

- Pois é. Naquele dia a senhora disse que o escravo que conseguisse completar por 100 meses a produtividade solicitada, teria direito a liberdade e alguns recursos que a senhora disponibilizaria para que eles continuassem a vida. A senhora se lembra?

- Sim. Eu já havia até me esquecido desse compromisso depois de todos esses anos. E alguém chegou nesse ponto de ter a liberdade de acordo com a minha proposta?

- Não senhora. Eu fiz os cálculos e ninguém chegou ainda. Mas, hoje pela manhã o escravo Genivaldo me disse que pra ele faltavam apenas 4 meses para atingir os 100 meses da produtividade solicitada, caso o grupo dele consiga bater as próximas metas.

- Minha nossa. É muita produtividade! Diz Scarlett espantada.

- Esse é um dos melhores escravos que temos senhora. Mas, ele já está a ficar velho e muito debilitado pelo trabalho contínuo realizado intensamente no decorrer dos últimos anos. Nos últimos meses ele tem ficado muito doente.

- Que pena. Bem, se eu fiz um compromisso é claro que vou cumprir com ele. Ainda mais se isso me ajudar a deixar os meus escravos mais motivados. Como estão os seus cálculos com relação as alforrias que tenho que providenciar nos próximos meses? Questiona aquela senhora de forma tranquila.

- Eu trouxe aqui o relatório senhora. Desde que a meta foi estabelecida há quase 13 anos atrás, muitos escravos daquela época morreram, ou no trabalho, de doenças ou nos conflitos que tivemos na fazenda. Portanto, não temos muitas pessoas a receber a alforria nos próximos meses pelo seu compromisso.

- Fico feliz que não irei perder tantos escravos de uma vez! Responde Scarlett.

- Se o grupo de Genivaldo conseguir bater a meta nos próximos quatro meses, junto a ele serão libertados mais dois escravos, Cortez e Gustavo. Todos eles são daquele tempo e não participaram de nenhuma revolta que teve na nossa fazenda. São escravos extremamente leais a senhora.

- Que bom! Esses eu liberto com muito gosto. E se quiserem continuar trabalhando na fazenda em algum serviço mais leve, eu autorizo.

- Direi isso a eles senhora. Isso vai motivar muito o restante dos escravos. Se precisávamos de algo para animá-los, nada melhor do que a esperança pela liberdade.

- Essa foi a minha ideia quanto fiz essa proposta na época Antônio.

- Foi muito inteligente a sua proposta senhora.

- Eu quero saber quantos mais eu preciso libertar no decorrer do ano que vem. Eu preciso me programar para comprar escravos e substituí-los em caso de necessidade. E quero que no dia em que esses escravos forem libertos, que façamos uma festa para comemorar a liberdade deles. Quero que todos os escravos vejam que sou uma mulher de palavra e que se atenderem as minhas ordens, um dia, terão a liberdade.

- Faremos isso senhora. Se conseguirem cumprir as metas daqui pra frente, daqui 6 meses, teremos mais 2 escravos libertos. Com 8 meses, teremos mais 5. E com 12 meses teremos mais 9. No total dos próximos 12 meses, temos a previsão, se cumprirem todas as metas, de disponibilizar a alforria para 19 escravos, mas todos eles com uma idade mais avançada e com valores menores do que os escravos novos tem no mercado.

- Isso corresponde a menos de 5% do número de escravos que tenho. Não é muito para mim. Se for para motivar os demais, acho que vai ser muito bom pra nós. Prepare também algumas moedas de ouro para cada um deles, para que possam conseguir comprar um pedaço de terra se desejarem e seguir a vida. Esses escravos já fizeram muito por mim. 100 meses de produtividade alta, valem muitas moedas de ouro. Eles merecem alguma retribuição.

- Farei isso senhora. E quando chegar o dia prepararei também a festa para que eles recebam a carta de Alforria.

- Muito obrigado Antônio. Fico feliz que tenhamos arrumado uma saída para motivar esses escravos, eu estava preocupada com a quantidade deles que estavam a suicidar.

- Eu também senhora. Eu imagino que depois dessa ação, nenhum deles irá mais cometer tal ação, pois terão como perspectiva uma vida melhor no longo prazo.

- Eu também acho que vai reduzir muito. Diz Scarlett ao ver aquele administrador de sua fazenda a se despedir.

Miss Scarlett e a escrava brancaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora