O sábado

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 No sábado Scarlett recebe pela primeira vez uma grande quantidade de mercadores e começa a vender uma quantidade imensa de sua produção que estava armazenada. As vendas foram muito positivas para aquela senhora e a sua lucratividade foi muito grande, conforme Antônio havia lhe dito. Ao receber partes daqueles pagamentos, aquela senhora fica muito feliz. Antônio então demonstra os cálculos e explica a ela que o crescimento da produção daquelas terras em comparação a quando Francisco a administrava, foi em torno de 120%, considerando também as terras adquiridas por Scarlett e os seus novos escravos, advindos da herança de seu pai.

O lucro de Scarlett mais do que dobrou em comparação com os recebidos por aquele senhor enquanto administrava aquelas terras, o que era um resultado fantástico, haja vista que ela havia aumentado o seu patrimônio com a herança de seu pai em apenas um terço. Com esses recursos, ela teria condições de expandir as suas terras em pouco tempo, comprar mais inúmeros escravos e aumentar a sua influência naquela região das mais variadas formas possíveis. Tudo aquilo deixou Scarlett imensamente feliz. Ela tinha certeza que os resultados de seu trabalho estavam surtindo efeito e que em pouco tempo teria tanto dinheiro e poder, que seria impossível, qualquer pessoa naquela região atentar contra uma ordem sua.

Ela naquele dia, agradece imensamente Antônio, dizendo a ele que sem as suas ações ela não teria como conseguir uma produtividade tão grande e aquele administrador fica muito feliz com esse reconhecimento de seu trabalho, a agradecendo pela oportunidade. Scarlett diz que lhe daria um bônus após finalizar toda aquela venda, que ele receberia em torno de cinco por cento de lucro líquido pelos bons trabalhos prestados. Antônio fica impressionado com aquela promessa, pois aquilo se tratava de uma fortuna muito grande.

Ele volta para a sua casa irradiante após aquela conversa com a sua patroa, contando essa novidade a sua esposa, que fica irradiante. Com aqueles recursos, ele poderia comprar o seu primeiro pedaço de terra e construir uma casa maior e mais confortável para ele e a sua família. Essa notícia o alegrou intensamente.

Naquela tarde, Scarlett chamou novamente Josias para saber como estava Justina e as notícias dessa vez foram um pouco melhores para ela:

- Senhora, parece que os remédios começaram a fazer efeito e ela está com as feridas um pouco menos inflamadas. O seu corpo está menos quente e ela parou de delirar, mas, mesmo assim, ainda encontra-se muito fraca. Pelo que vejo dela, ainda não consegue se levantar. Parte dessa fraqueza é devido a pouca alimentação que ela tem conseguido comer senhora.

- E porque ela está comendo tão pouco?

- Sempre que vamos dar a ela comida, ela diz que não está conseguindo comer, que o gosto está muito ruim, provavelmente, devido a febre.

- Pois tratem de dar comida para essa escrava Josias. Eu quero ela bem logo. Isso é uma ordem! Se quando eu quiser castigar essa escrava ela não estiver bem, você começará a ser castigado no lugar dela. Diz Scarlett em tom ameaçador.

- Pelo amor de Deus sinhá. Ela vai ficar bem, mas, se não ficar não faz isso comigo não! Diz Josias desesperado.

- Trate de fazer essa escrava comer Josias, nem que seja a força. Ou quem vai apanhar no lugar dela é você! Repete aquela senhora com o tom ameaçador, quando balança as suas mãos para que Josias fosse embora para a senzala.

Aquele escravo sai desesperado a correr. Ao chegar na senzala parecia que ele havia visto um fantasma, quando Justina, mesmo debilitada, fica assustada e questiona:

- O que houve Josias, que está tão desesperado?

- A senhora ordenou que você voltasse a comer!

- Eu já estou comendo melhor, porque isso te assustou tanto?

- Ela disse que você precisa melhorar logo, que se você não melhorar, que ela vai me castigar no seu lugar.

Justina pensa então naquela ameaça e diz:

- Eu não entendo aquela senhora. Qual a necessidade de ficar ameaçando os escravos o tempo todo? Acho que ela gosta de ver as pessoas em desespero. Eu vou me alimentar direito e vou ficar bem como ela deseja. Não é o meu interesse que você seja castigado em meu lugar Josias, mesmo você tendo merecido passar por um severo castigo pelo que me fez no passado. Diz Justina em tom severo.

- Que isso Justina, eu nunca fiz nada de mal pra você!

- Fez sim. Você foi o responsável por parte dos castigos da minha senhora quando disse a ela que eu não queria comer da última vez, por isso não me recuperava. Eu poderia me vingar de você por isso, ficando sem comer agora não é Josias? Questiona Justina em tom direto e ameaçador, sendo ao mesmo tempo irônica em sua fala.

- Não Justina, por favor, faz isso comigo não. Eu sou fraco. Eu não sou forte como você. Eu não aguento um castigo daqueles de Scarlett. Responde Josias ainda mais desesperado.

- Aguenta sim. Não é homem não escravo? Deveria aguentar mais do que eu.

- Aguento não. Por favor coma direitinho e faça tudo que aquela senhora deseja, pois se não ela vai me castigar severamente.

- Eu vou comer se eu tiver apetite. Reze para que eu tenha. Eu não quero que ela te castigue, mas não vou fazer nada também para que isso não aconteça, porque, de certa forma, você é o culpado por ela estar a querer castigar a você mesmo. Se não tivesse dito a ela que eu não estava a me alimentar, não teria sofrido essa ameaça. Portanto, se você for castigado a culpa é sua mesmo. Responde novamente Justina em tom direto.

- Não Justina, por favor, não seja mal comigo.

- Vai parar de contar para a senhora tudo que passa aqui?

- Sim. Se você comer a partir de agora eu prometo que não falo mais nada com a senhora Scarlett do que passa aqui. Responde Josias em meio ao desespero, prometendo qualquer coisa que Justina quisesse naquele momento.

- Temos um acordo? Questiona Justina ao levantar as mãos para aquele escravo.

- Temos sim. Responde ele enquanto aperta as mãos daquela escrava.

- Pode deixar, eu vou fazer o possível para me alimentar direito e ficar bem logo para que você não precise ser castigado. Eu já estou acostumada com as maldades de Scarlett, tem três meses que tudo que vivo é sofrimento, com o tempo a gente acostuma. Ser castigado por ela, para quem nunca foi como é o seu caso, realmente será algo terrível. Diz Justina com um semblante mais ameno.

- Muito obrigado Justina, muito obrigado mesmo. Diz aquele escravo extremamente agradecido naquele momento.

Justina, naquela fase de sua vida, estava com um coração muito bom e pensava muito nos seus irmãos de cor. Ela não guardava mais rancor de ninguém e queria viver o resto de seus dias com sentimentos bons em seu coração. Isso na sua mente trazia uma certa sensação de liberdade, que era o que ela mais desejava naquele momento. Mesmo sendo castigada por Scarlett como era, ela não conseguia guardar rancor, ódio ou mágoa daquela senhora. Ela parecia estar se preparando para mudar para um plano superior. O seu coração estava a ficar leve. Tudo que ela queria era paz, paz que só é possível para aqueles que estão leves de coração!

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now