Os acontecimentos do passado

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Na manhã do dia seguinte, Pérola foi novamente conversar com Gertrudes sobre as histórias daquela fazenda, para conhecer um pouco mais sobre as maldades já realizadas por sua dona. Com muito medo de Scarlett, após o encontro com Artur no dia anterior, ela queria descobrir do que aquela senhora era capaz. Então ela questiona:

- Qual foi a maior maldade que Scarlett já fez nessa fazenda?

- Ela já fez muita coisa de ruim Pérola. Você nem queira imaginar. Ela já matou muitas pessoas naquele tronco. Ela já matou muitas pessoas após castigos, deixando-os por dias sem água e sem comida e os escravos iam definhando até que não suportavam mais. Ela já mutilou escravos que ficaram sangrando por muitas horas antes de morrer. Nessa fazenda Scarlett já fez quase tudo de ruim que você possa imaginar. Diz aquela senhora em tom de desolação ao lembrar daquelas situações.

A cada uma daquelas falas, Pérola colocava as mãos em sua boca, demonstrando estar muito assustada com as situações apresentadas por aquela senhora. Ela agora tinha certeza que Scarlett não tinha nenhum limite para a maldade, ficando ainda mais aterrorizada com a crueldade de sua dona.

Naquele mesmo instante em Salvador, Scarlett estava a dar uma palestra para um grupo de 40 fazendeiros, alguns deles que tinham fazenda de pequeno, médio e grande porte. Após ela apresentar o seu modelo de atuação e definir a sua forma de tratamento aos escravos, como fator essencial para a sua produtividade, mesmo escondendo daqueles fazendeiros, que há cinco anos nenhum escravo era castigado na sua fazenda por não ter cumprido a meta de grupo, aquela senhora é questionada por um deles:

- Mas, senhora Scarlett, sabemos que a senhora é uma das mulheres mais ricas dessa província e provavelmente é a fazendeira com maior número de escravos de toda a região, talvez, quase que do Brasil. Isso torna mais fácil a senhora castigar escravos até a morte, como tem demonstrado em sua palestra. Mas, eu tenho apenas 10 escravos trabalhando em minha propriedade, eu não posso fazer isso. Se eu matar um escravo eu perco 10% da minha força de trabalho. Qual a recomendação que a senhora daria pra mim.

- Eu desde que cheguei aqui e iniciei a minha palestra, coloquei para vocês que a única forma de fazer esses escravos produzirem ao máximo é fazendo eles sentirem medo. Quanto mais medo eles sentirem, em maior quantidade eles irão produzir. As metas de produtividade e os castigos futuros acrescentaram o medo que eles precisavam para cumpri-las. Uma das formas de conseguir esse medo é ser severo nos seus castigos e colocar os outros para verem essas punições. Quando eles veem os demais escravos sendo castigados, obviamente, eles conseguem se ver no lugar do outro e tentam evitar de qualquer forma a serem os próximos a passarem por todo aquele sofrimento. E se tiver que matar um dos seus escravos para poder demonstrar que não está brincando, que mate. Tenho certeza que os outros nove vão produzir para eles e para esse que foi morto. Na minha fazenda foi assim. Hoje os meus escravos produzem duas vezes mais do que quando comecei a administrá-la. Tive que matar alguns escravos pra isso. Não hesitei em mostrar a minha força para eles e hoje todos me respeitam. Diz Scarlett com um tom sombrio.

- Entendo senhora. Diz aquele senhor que havia feito a questão demonstrando-se satisfeito.

Então um outro senhor levanta a mão e questiona:

- A senhora não tem medo deles se rebelarem? Já houve rebelião na sua fazenda?

Scarlett então tenta ocultar que chegou a perder o controle daqueles escravos após a morte de Justina e vai para a segunda rebelião que ocorreu naquela fazenda para demonstrar exito em sua ação:

- Não devemos demonstrar medo aos escravos. Mas, apenas força. Se demonstrarmos que estamos com medo é que eles não vão nos respeitar e perderemos o controle que temos sobre eles completamente. Eu tive algumas rebeliões, mas venci todas elas e castiguei a morte todos aqueles que usaram me afrontar. É assim que se constrói um imaginário na cabeça desses escravos de que somos invencíveis e que não adianta lutar contra o nosso poder. Os meus escravos hoje tem certeza disso.

- E como foi essa rebelião senhora? Questiona aquele senhor.

- Essa rebelião contou com a ajuda inclusive de fazendeiros vizinhos que não gostavam da minha posição de destaque naquele vilarejo. Os escravos vieram para invadir a minha casa, mas eu recebi essa informação antes de uma escrava e preparei a retaguarda. É importante vocês terem sempre escravos infiltrados para obterem informações privilegiadas em momentos oportunos. Um bom dinheiro e a promessa de alforria pode ajudar nesse sentido. Então com essa informação montei um exército de defesa. Quando os escravos chegaram, eram mais de 100, nós estávamos preparados na casa grande, conseguimos matar a maioria deles. Os que sobraram foram para o tronco, lhe apliquei 80 chibatadas, mutilei alguns e depois os coloquei no tronco para morrer sem água e sem comida. Por muito tempo jamais ousaram me contrariar novamente. Afirma Scarlett com um sorriso maléfico, assustando alguns daqueles senhores que estavam naquele pequeno auditório.

Aqueles homens ficaram impressionados com a fala daquela senhora. A sua maldade era realmente impressionante para todos que presenciavam aquelas palestras.

Ainda na fazenda, na conversa de Pérola e Gertrudes, a escrava branca questiona:

- Quando foi que ela matou mais escravos aqui que a senhora se recorda?

- Que eu me recordo foi quando teve a segunda revolta dos escravos. Ela estava querendo tomar o poder depois da morte de Justina e os escravos perceberam isso. Então eles prepararam uma revolta para matá-la, mas antes disso ela preparou um exército para enfrentá-los. Muitos escravos morreram na batalha, os que ficaram vivos tiveram uma morte muito cruel.

- O que ela fez? Questiona Pérola, logo após, engolir seco, demonstrando medo ao fazer aquele questionamento.

- Você quer mesmo saber Pérola? Não vai ficar impressionada?

- Não senhora. Eu preciso saber do que a minha dona é capaz.

- Ela colocou esses escravos vivos no tronco e lhes deu 80 chibatadas. Alguns deles morreram durante o castigo. Os que ficaram vivos, ela na frente dos outros escravos, os mutilou, retirando partes inteiras dos seus corpos, aterrorizando a todos os presentes e depois os colocou para morrer sem água e sem comida na frente da casa grande.

- Meu Deus! Diz Pérola, surpresa, impressionada naquele momento. Scarlett é realmente terrível em seus castigos quanto está com ódio. Pensa aquela jovem escrava aterrorizada ao pensar no que ela seria capaz, caso a encontrasse junto a Artur.

Durante aquela noite ela fica a pensar em tudo que escutou sobre as maldades daquela senhora e nem consegue pensar em Artur. Aquele jovem coloca a rosa em seu quarto como estava a fazer nos dias anteriores e ela ao perceber, nem movimenta para pegá-la, tamanho o medo que se encontrava naquele momento. Então, depois de muito tempo a pensar, ela pega no sono. Durante a madrugada ela tinha pesadelos terríveis com escravos a serem mortos cruelmente por aquela senhora conforme Gertrudes havia descrito. Em um último pesadelo que teve ela sonhava beijando Artur e Scarlett a pegando em meio a aquele ato. Imediatamente ela acorda desesperada e não consegue mais dormir durante aquela noite. Pérola estava a ficar mesmo impressionada com as histórias de maldade que havia escutado da sua dona. A sua fama, de ser a pior senhora que já pisou nessas terras, não era mesmo por acaso, na concepção daquela escrava.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now