A continuidade daquela investigação

249 25 21
                                    

Muito intrigado, o comandante pensava nas hipóteses possíveis que explicassem uma interrupção tão abrupta da queima daquela roupa íntima, algo que era muito incomum em caso de um incêndio. Ele conversou com um dos seus colegas militares e foram levantadas algumas hipóteses, todas elas bem distantes do que verdadeiramente aconteceu.

Ele analisou por dias aquela roupa, em muitos momentos, para saber se conseguia chegar a alguma conclusão, mas, nada vinha em sua mente com relação a possibilidade de um fogo queimar uma parte do corpo de uma pessoa e parar de forma abrupta em um determinado ponto e não avançar mais. O seu amigo militar, afirmou durante as conversas, que Scarlett pode ter se movimentado e abafado aquele fogo ao virar o seu corpo abruptamente para o outro lado. Mas, aquilo não era uma hipótese plausível para aquele comandante, pois, essa mudança de Scarlett, provavelmente, havia acontecido depois de algum tempo que aquela parte do seu corpo estava a queimar, haja vista que os seus pés foram completamente consumidos pelas chamas assim como suas pernas até a altura dos joelhos.

Era muito difícil achar uma hipótese que explicasse a parte da frente daquela roupa ter queimado apenas até um determinado ponto e a parte das costas ter sido queimada por quase toda a sua extremidade. Por saber que o pano era muito mais inflamável do que a pele de uma pessoa, ele em situação normal, teria que ter queimado de forma uniforme na parte da frente, conforme ocorreu na parte das costas daquela roupa. O jeito que aquela roupa se encontrava não fazia sentido na cabeça daquele comendante. Algo de muito diferente ocorreu naquele quarto no dia do incêndio.

Na percepção daquele comandante é como se tivesse havido uma barreira que impediu que aquele fogo continuasse a seguir sobre o corpo de Scarlett. Mas, ele não entendia como isso foi possível em um incêndio acidental e aquilo o intrigava ainda mais intensamente.

No dia 20 de abril de 1796, no décimo primeiro dia após aquela fuga, Artur, Pérola, Tisa, Maria e Albertina, estavam a descer pelas margens do Rio Jequitinhonha calmamente. Eles andavam felizes a conversar por aquela mata quando são surpreendidos por homens armados e se assustam intensamente.

Aqueles homens eram negros e Artur tinha medo de que eles fossem capturadores de escravos que estavam a caminhar por aquelas matas, pois, alguns homens do mato eram negros e realizavam os trabalhos de busca de escravos fugidos para entregá-los aos seus senhores.

Como o grupo de homens armados era grande, com quatro negros, foi impossível ele pegar a sua arma e tentar qualquer reação. Em cima daquela carroça as mulheres estavam com muito medo, com as mãos para cima. Se aqueles homens fossem mesmo capturadores de escravos, aquela fuga estava acabada. Eles poderiam ser levados de volta para as terras de Scarlett e nem imaginavam qual poderia ser os seus destinos caso isso viesse a acontecer.

Pérola naquele instante já rezava intensamente. Tudo que ela pedia era para não retornar a aquelas terras onde já havia passado por tanto sofrimento. Então calmamente ela começa a descer daquela carroça, enquanto as espingardas estavam apontadas para cada pessoa daquele grupo.

Maria parecia que não iria conseguir nem respirar mais. Ela estava tão feliz com a liberdade que tinha acabado de conquistar e dependendo de quem eram aqueles negros, essa liberdade poderia novamente ser perdida. Tisa era puro desespero em seu semblante, enquanto descia aquela carroça.

Após todas elas descerem ficaram apenas Artur, que controlava aquele cavado e Albertina. Aquela senhora começou a descer calmamente, demonstrando um semblante triste naquele momento, por não saber quem eram aqueles homens. Então as quatro desceram e se afastaram um pouco daquela carroça, conforme foi ordenado por dois daqueles homens, ficando apenas Artur em cima dela com as rédeas do cavalo.

Artur pensava em pegar a sua arma, mas, em meio a aquela desvantagem numérica enorme, ele não teria nenhuma chance de tentar matar aqueles quatro homens, enquanto eles estavam com espingardas a mirar para ele. Ele teria que descer daquela carroça e se entregar. Entretanto, tinha em mente que preferia morrer do que voltar para as terras de sua dona. Se aqueles homens fossem mesmo capturadores, ele teria que tomar alguma iniciativa de ataque. Artur tinha em mente que depois dessa fuga que realizou, não voltaria para as terras de Scarlett para ser novamente maltratado por quem quer que fosse de maneira nenhuma, preferia morrer do que retornar.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now