• tentação •

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S/N:

    Após alguns copos de saquê, já me sinto mais solta do que o normal. Tobirama não parece estar sentindo o efeito da bebida, provavelmente por ser mais acostumado a beber do que eu. Conversávamos sobre nossas experiências enquanto estivemos fora, bem como falávamos quando éramos apenas mestre e aluna. Bons tempos.

— Soube que você matou um homem. -ele diz. Engasgo rapidamente com a bebida. — Hashirama me contou.

— Sim, foi um acidente. Ele quem se enfiou na minha espada. -respondi.

— Eu soube, mas acontece. -deu de ombros. — Ele era o inimigo. Se você for para mais batalhas, vai acabar matando mais deles. É normal.

— É, mas a minha função é ser a médica do pelotão, e não atuar na linha de frente do combate. -respirei fundo. — Tudo foi um acidente.

— Mas você salvou um homem que estava bastante ferido, não é? -perguntou e eu balancei a cabeça positivamente. — Não precisava nem ter salvo aquele Uchiha. -revirou os olhos.

— Por que essa cisma, hein? -cerro o cenho. — Eles são pessoas normais, só têm habilidades diferentes.

— São amaldiçoados! -protestou. — E aqueles olhos...

— São apenas olhos poderosos. -o interrompi.

— Não gosto de clãs amaldiçoados e com aquele tipo de kekkei genkai. -cruzou os braços.

    Decido não continuar nesse assunto. Não vou me ofender pelo gosto pessoal dele, afinal, ele não sabe que eu também possuo um poder ocular semelhante ao sharingan, e nunca vai saber.

— Tanto faz. Eu gosto deles. -dou de ombros.

— Não deveria. -sua expressão se torna mais séria e levemente zangada.

— Você também não deveria julgar as pessoas por algo que elas não pediram para ter. -rebati.

— Pode passar anos, você nunca vai deixar de ser petulante. -ele bufa.

    Olho no relógio de parede e me assusto ao ver que estamos há duas horas aqui conversando. Tobirama percebe isso, mas não parece se importar muito.

— Tem algum compromisso? -ele pergunta.

— Não. -respondi, bebendo um gole do saquê.

— Você não tem ninguém? -questionou de repente.

    Arregalo automaticamente os olhos, mas disfarço e deixo delicadamente o meu copo sobre a mesa. Engulo a bebida que parece descer rasgando a minha garganta. Sinto minhas pernas formigarem.

— Como assim? -perguntei.

— Um homem, ou algo assim. -desvia o olhar, batendo as pontas dos dedos na mesa. — Não conheceu ninguém enquanto esteve fora?

— Eu estava treinando e não procurando um marido. -reviro os olhos. — Você fica se envolvendo com mulheres durante a guerra? -ironizei.

— Se der vontade e tiver alguém que me atrai, não vejo problema nenhum. -ele me encarou com certa malícia no olhar.

    Não deixo de imaginar Tobirama em algum acampamento tendo relações com uma mulher qualquer. Essa idéia me deixa um pouco desconfortável, mas isso definitivamente não é da minha conta.

— Não sou assim. -desvio o olhar.

— Seu tom ficou rude. -arqueou uma sobrancelha.

— É impressão sua. -me mantenho firme, sem esboçar nenhuma reação.

— Hum. -ele ajeita a postura na cadeira. — Mas desde a última vez que nos falamos, não me envolvi com ninguém.

— Claro, vocês não mandam mulheres para as missões. Deve ser por isso que não se envolveu com ninguém. -ironizei novamente, rindo.

— Está enganada, levamos uma equipe feminina desta vez. -ele encara as próprias unhas num ar despreocupado. — Mas nenhuma chamou a minha atenção.

    Sinto o clima entre nós mudar, quase como aconteceu da última vez em que estivemos juntos. Pressiono um joelho contra o outro e sinto as borboletas tomarem espaço no meu estômago.
    Pensei que elas tivessem morrido.

— Por quê? -decidi perguntar.

    Tobirama se esparramou na cadeira, erguendo o maxilar e me olhando de cima, como um verdadeiro chefe. Prendo a respiração sob essa cena tão provocativa, mas me contenho, afinal, não sou uma mulher tão fácil.
    Pelo menos eu acho que não.

— Estive obcecado por uma só mulher, não tive tempo para outras. -respondeu.

    Sua resposta me atinge em cheio, pois eu sei que ele está falando sobre mim. Eu nunca passei por uma situação assim, só consigo encarar as suas íris naturalmente vermelhas enquanto as suas palavras ecoam na minha cabeça.

— Mas acho que só eu fiquei assim. -ele concluiu.

— Não. -a palavra sai tão automática que eu só percebi depois que já falei.

— Não? -seus lábios se curvaram em um sorriso unilateral.

— Quer dizer... -me enrolo. Tento dar várias desculpas mas acabo não falando nada.

— Eu já entendi. -ele ri divertido. — Eu tentei deixar você com vontade e curiosa, mas quem ficou assim foi eu.

— Por que está fazendo isso? -perguntei finalmente.

    Tobirama parece ponderar a sua resposta. Sinceramente, não entendo o que ele vê em mim, mas parece que gosta. É como se eu o deixasse louco, mas eu nem ao menos tentei fazer isso.

— Você não enxerga o poder que tem, não é? -ele respira fundo. — Qualquer homem ficaria atraído por uma garota como você, S/n, você tem algo que me instiga e talvez eu não seja o único.

    Realmente.

— Não sei o que dizer. -confessei, baixando o olhar.

— Não precisa. -ele percebe que as nossas garrafas de saquê já estão vazias. — Já passamos muito tempo aqui, tenho tarefas a fazer. Vamos?

    Balanço a cabeça positivamente e Tobirama levanta para pagar a conta. Eu o sigo e saímos do restaurante sob um clima estranho que eu ainda não consegui decifrar.

   

feiticeira • entre uchihas e senjusOnde histórias criam vida. Descubra agora