• esclarecimentos •

2.6K 398 123
                                    

S/N:

    Tobirama e eu sentamo-nos na margem do rio com os pés na água enquanto bebemos o chá que ele havia trazido para o seu treino. Ainda não é a hora do café, então só vamos voltar à aldeia no fim da tarde.

— Como tem ido a sua vida desde que paramos de nos falar? -decidi perguntar, para puxar assunto.

— Tenho treinado e feito missões. -deu de ombros. — Ajudo o meu irmão com os assuntos referentes à vila. Está muito puxado para ele cuidar do escritório e da esposa grávida.

— Ela está linda, não é? A barriga de grávida é linda. -comentei, sorrindo em direção ao lago.

— Sim. É admirável ver uma mulher gerando uma vida daquela forma. -concordou, fazendo uma pausa rápida. Sinto o seu olhar pesando sobre mim. — Você não pensa em ser mãe, S/n?

— Não. -respondo decidida, sem hesitar. — Eu acho lindo a gravidez, gosto de crianças pois são seres muito fofos, mas não me vejo como mãe.

— Por quê? -questionou.

— É uma responsabilidade maior do que tudo, basicamente. Não poderei descansar o quanto quiser, nem viajar caso queira. -penso um pouco. — É uma época de guerra. Posso me contentar ajudando Mito a cuidar da filha dela, e só.

— É um pensamento inteligente. -ele se apoiou nos cotovelos, encarando o horizonte.

— E você? -o olhei de soslaio. — Não pretende ter uma família?

— Eu perdi uma mulher incrível, que era a única que eu via como uma possível esposa. -ele deu de ombros, sem tirar os olhos do lago. — Então, no momento, nem penso em construir uma família. Ainda preciso conhecer alguém especial para isso.

— Concordo. -sorri fraco. — Uma família tem que ser formada por duas pessoas que se amam, caso contrário, seria um casamento maldito.

    Ele não responde, apenas me olha com o canto do olho. Desvio do seu olhar, pois tenho a leve impressão de que a "mulher" que ele citou pode ser eu, mas vou fingir que não percebi nada. O seu olhar pesa sobre mim e eu não posso evitar um estado interno de nervosismo.

— Vejo que você não se importou muito com a minha partida quando brigamos. -ele comentou.

— Fiquei triste. -confessei. — Mas o que você queria que eu fizesse? Saísse correndo e gritando "não vá"? -ironizei, rindo.

— Isso seria ridículo. -ele retribuiu o riso. — Mas você seguiu em frente. -afirmou.

— Por que diz isso?

— Suponho que essas marcas no seu pescoço não tenham aparecido aí devido à uma missão ou treino. -disparou.

    Meu corpo congelou completamente. Não estou acostumada a andar escondendo o pescoço, e muito menos a estar cheia de chupões. Aquele Uchiha fez de propósito. Ele me marcou em lugares onde nem a gola do meu casaco cobre.

— Eu não vou me meter na sua vida. -Tobirama completou, rindo da minha expressão. — Eu já imagino quem fez isso, mas não quero ter certeza, então não precisamos falar sobre.

— Mas quem tocou no assunto foi você. -dei um risinho nervoso, tremendo um olho por conta disso.

— Eu só queria saber se algum dia você já gostou de mim. -ele voltou a encarar o horizonte, agindo como se aquela pergunta não o importasse, mas eu sei que ele quer ouvir a minha resposta.

    Se eu tivesse tempo à perder aqui, com certeza inventaria um milhão de desculpas e não responderia nada. Eu consigo enrolar o Senju com as palavras, mas não acho que teremos outra oportunidade de falar sobre isso. Logo, não vejo momento melhor para esclarecer as coisas.

— Antes de eu partir para o treino com Mito, no dia em que você me beijou, eu pensei muito em você. -iniciei, tendo a sua atenção. — Mas tirei você dos meus pensamentos para me concentrar no meu treino. Não como se você não fosse importante, mas sim, porque eu precisava focar na minha evolução pessoal.

— Não estava errada. -concordou.

— Quando voltei, já não pensava em você quase nunca. -continuei. — Mas quando nos encontramos de novo, foi como se tudo aquilo tivesse acontecido há apenas algumas horas. Eu lembrei do beijo e de todas as sensações que vieram com ele. -suspirei.

    Tobirama me olha com muita atenção, como se as minhas palavras fossem tudo o que ele precisa para viver. É estranho ter ele assim nas mãos, mas deve ser mais uma impressão minha do que, de fato, realidade.

— Quando fomos para o hotel, desde antes eu já sentia que você seria o homem certo para ser o meu primeiro. -prossegui. — Eu estava criando esperanças irracionais sobre a nossa relação e sobre você. Mas quando nós tomamos banho juntos naquela banheira, você esclareceu as suas intenções comigo. Lembra disso?

    Ele apenas assentiu, desviando do meu olhar. Posso vê-lo forçar o maxilar, algo que ele faz quando fica irritado. Engulo em seco antes de continuar.

— Mas não adiantou você me avisar, eu gostava muito de você. -falei, sorrindo. — Eu sou teimosa, você sabe.

— Por que não me disse? -perguntou com a voz um pouco baixa.

— Não deu nem tempo. Nós chegamos em Konoha, eu fui para casa dormir, acordei e fui no escritório do hokage. -respirei fundo. — E você já estava lá, bastante irritado.

— Se eu pudesse voltar naquele dia, não teria feito a metade do que fiz. -lamentou, me olhando com certa ternura. — Mas já passou. Eu não me sinto mais tão culpado como antes e não acho que nós dois ainda nutrimos uma relação além de amizade.

— Concordo. -não evitei de sorrir. — Depois daquilo eu superei você e me libertei de qualquer rancor, afinal, nós não tinhamos nada.

— Agora eu queria te dizer umas coisas que não tive a oportunidade ainda. -ele ajeita a postura e senta de frente para mim, segurando ambas as minhas mãos. Olho em seus olhos, curiosa.

— O quê? -minha voz saiu quase como um sussurro.

— Eu não me importo se você é de um clã amaldiçoado, se possui um doujutsu, se gosta dos Uchihas ou algo assim. -disse com firmeza. — Se eu soubesse disso quando te conheci, gostaria de você da mesmíssima forma. Eu só não soube controlar a minha frustração naquele dia pois foi a primeira vez que fui o último a saber de algo.

— É por isso, ou porque você ficou magoado comigo pelo fato de eu ter dormido com você sem ter te contado tudo sobre mim antes? -arqueei uma sobrancelha, sorrindo travessa.

— É, você está certa. -riu, soltando as minhas mãos. — Mas quero que saiba que eu não julgo você e nem seria capaz de te odiar. Seus olhos são lindos e únicos, você escapou de uma possível maldição sanguínea e é uma mulher muito forte. Bem no fundo, admiro você.

    Suas palavras me fazem querer chorar. Não só pelas palavras, mas pelo meu segredo sobre ir embora daqui. Eu sei que estou fazendo o certo em estar esclarecendo tudo antes de partir, mas de qualquer forma, todo esse lance emocional me deixa triste.

— Assim eu vou chorar. -dou um sorriso para disfarçar e o empurro, fazendo o Senju cair com as costas no chão.

    Fico de pé enquanto ele me encara num ar divertido.

— Vamos treinar um pouco? -convidei.

feiticeira • entre uchihas e senjusOnde histórias criam vida. Descubra agora