NOT YOUR BABE

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Cherry era a guitarrista e vocal da nossa banda, "Venomous Sins"

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Cherry era a guitarrista e vocal da nossa banda, "Venomous Sins". Ela é um belo desastre, os cabelos cacheados e vermelhos praticamente cobrem os ombros, que são tão pequenos e estreitos como ela. Mas é uma puta guitarrista, soubemos logo no primeiro acorde. Vanity é uma baixista incrível em todos os sentidos, exceto talvez, por ser um pouco menos impulsiva. Quando a conheci, ela tinha os cabelos longos e negros, ah, a bênção da ascendência mexicana. Na verdade, seu nome é Verónica, mas desde sempre a conheço como Vanity.

A rotina? Olha só, o rock'n roll é um Clube do Bolinha. Então, se você é uma mulher e quer participar do jogo, precisa ter culhões. E mais do que os homens, afinal...eles já nasceram "privilegiados" e não sabem se defender porque nunca precisaram, certo?

O dia começa por volta das quatro da tarde. Acordar, engolir meia garrafa de listerine tentando tirar o gosto de cabo de guarda-chuva da boca. Conferir no quarto se estão todas juntas, sãs e salvas. Ligar para quem estiver faltando, na maioria das vezes, a Cherry. Ela bebe mais do que o meu Maverick e tem outras quedas também.

Se estivermos com tempo (e energia), hora de revezar para tomar banho. Três mulheres no mesmo apê é sempre uma roubada. Escolhemos o que vestir, e nos ajudamos a maquiar. E então, hora de pegar os instrumentos e ir para o bar.

Escrevemos em uma folha de caderno (já improvisamos em um papel higiênico uma vez) o set list e bebemos o que estiver disponível e subimos para a adrenalina do show. Desde o primeiro passo para cima do palco até o fim da gig, o coração a mil, uma hora, duas de show que parecem dez minutos, quando estamos suadas, cansadas, sempre tem uma última música e de repente todo o cansaço desaparece. E quando acaba, cai em cima da gente com o dobro do peso. Divertido, não?

A resposta é: não ainda. A diversão mesmo vem depois.

Camarim lotado, a gente se fecha com alguns amigos, até uns caras da próxima banda. Alguém começa a preparar as carreiras em um espelhinho de mão, em uma capa de livro, ou no tampo da mesa mesmo. Aquela cheirada rápida e única levanta a alma que carrega o corpo. E aí sim, a noite começa, e com certeza, perderemos a Cherry em algum momento. Ela é a nossa ovelha desgarrada.

Naquela noite estava bem agitado. Roadies, músicos e groupies por todo o pequeno corredor do Troubadour. Era simplesmente o máximo tocar lá, casa cheia todas as noites. A "Venomous Sins" era uma das principais atrações da casa, a ponto de pagarmos o aluguel com o cachê. Uma semana sem uma moeda sequer até o próximo show, até chegar a próxima gig e gastarmos todo o nosso cachê lá mesmo.

Tínhamos acabado nossa gig, alguns dos caras estavam lá no camarim. Quando vi que não restou nenhuma garrafa cheia, precisei sair para pedir para alguém mais bebidas. Era difícil encontrar algum funcionário do bar, então segui adiante para o bar. Se encontrasse alguém, ótimo, mas infelizmente em todo o trajeto até o balcão só vi groupies e homens com calças de couro, roadies carregando ferragens de bateria e pedestais de microfone. Atravessei o público, pedi para o Dennis, o melhor bartender de toda LA o que precisava. Ele me entendeu mais do que devia, pois junto das cervejas em um balde, passou pelos meus dedos um papelote.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now