CONSCIÊNCIA

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It's so painful, oh God, I am so weak
I don't love you, I just want you beneath my sheets
And when it's all over
Just get up - and say goodbye
I'll see you around again sometime

laro que eu precisava de uma carreira! Imagina, você sozinho com uma gata daquela deitada na sua cama e você consciente o tempo todo que podia acabar arranhado (no pior sentido)? Ela botava medo, quando queria, e botava pra valer!

Ela acabou cheirando mais um pouco comigo, mas nem com toda a droga do mundo conseguiria manter os olhos abertos; eu não estava muito melhor. Nessa época, eu precisava de cocaína e uísque pra tudo: pra acordar, pra dormir, conversar, sair, ficar em casa...tudo era desculpa, mas eram desculpas muito bem disfarçadas de necessidade. Acabamos conversando por uma ou duas horas, como dois soldados em vigília. Ela deitava e eu ficava sentado na beira do colchão, depois eu deitava e ela levantava e ficava sentada no meu lugar.

Tem um elemento bem ridículo: por segurança, eu estava coberto com um lençol fino, mesmo que estivesse um calor do caralho,mesmo que eu sequer tivesse tirado a roupa, sem eletricidade para ligar um ventilador (e mesmo assim, arriscar ligar um ventilador para voar todo o pó pelo quarto todo? Sem chance!). E para não mais nenhum tipo de mal-entendido, ela também estava de roupa e com um outro lençol. Não era um lençol limpo, só o menos sujo que eu tinha.

— Você não...olha só, não me leva a mal, mas essa fama de badass não te incomoda não? quer dizer...

— Eu não sou nada disso...

— Exatamente o que eu ia dizer. Pelo menos por hoje, parece que você é mais uma lady do que uma cretina encrenqueira.

— Mas eu não sou encrenqueira...mas se quiser sobreviver nessa cena, não tem outra escolha. O rock'n roll é uma cena só, mas muda muito dependendo de quem você é.

— Isso eu concordo...Quer dizer, não é que eu concordo, que acho certo, o que eu q..

— Eu entendi, relaxa!

Ela cheirou mais uma carreira e passou o prato para mim.

— Só mais essa, e chega.

— Ainda tem mais? Puta merda...

— Precisa sobrar para amanhã. Ou hoje, sei lá.

Como a droga era dela, não quis insistir. Quase um cavalheiro, não é? Ela continuou sentada olhando para a parede, parecia um monge zen. Eu tinha colocado dois travesseiros na diagonal apoiados na parede, para não deitar e acabar ferrando no sono.

— Sabe...eu sempre insisto com a Cherry, a ponto de sair briga, que nesse meio em que a gente vive, não é muito diferente de qualquer outro. Vocês, homens, sempre tem o "sim", e se a gente quiser ter algum respeito, é melhor saber dizer "não" quantas vezes precisar.

— Faz sentido...mas aí...

— Ah, eu sei, além de encrenqueira, púdica, lésbica, frígida...que se foda. Pelo menos eu consigo me dar o direito de escolha, mesmo que seja uma má escolha.

— O Raz?

— Serve como exemplo. — ela balançou a cabeça afastando o Razzle da conversa para manter a linha de raciocínio. — O que eu ia falar é: eu nunca dou qualquer liberdade quando estou nesse estado. Sei lá, com a consciência alterada, a gente nunca sabe se acabou se deixando levar por querer de verdade, ou se estava só chapada.

— Acontece com os caras também. Muita ressaca moral.

— Então... — ela ainda estava olhando para a porra da parede! Estava falando comigo ou com a parede?

— ...então...?

— Mas às vezes as duas coisas acontecem juntas.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now