ALGO MAIS FORTE

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Can I describe what it's like

To have sex with the lights on?
And would ya feel right if I did ya tonight?
And put the bite on?
All this and more little girl
How bout on the floor little girl

No time to implore ya girlI'm just a dead boy
You know that I'm just a dead boyI wanna be a dead boy
I'll die for you, if you want me to

Estive lembrando das coisas que aconteciam durante a época em que estávamos nas primeiras curvas da espiral descendente. Como as coisas estavam acontecendo antes de eu cometer um erro trágico. Um de vários. A lista de arrependimentos é bem grande; depois de tudo que aconteceu nessa década e chegar ao ponto em que cheguei, não conheço forma melhor de fazer valer a pena do que ser honesto. Mesmo que dificulte as coisas para você que está lendo, a minha honestidade não vai facilitar em nada para decidir o que você sente a meu respeito. Mesmo assim, insisto em ser honesto. Se tem uma coisa que eu sei muito bem a essa altura da vida, é que a ilusão é bem mais dolorida. 

Era estranho como eu me sentia melhor quanto a mim mesmo quando confrontava minha própria mortalidade, mas tinha calafrios quando via que ela fazendo a mesma coisa. Éramos amantes e egoístas. Compartilhávamos segredos e traumas, mas ao mesmo tempo, fingíamos que não tinha importância, cada um protegendo seu orgulho, engajados cada um em uma dança particular com a morte entre pipes, carreiras e seringas. Bem, tínhamos nossos motivos, tínhamos nossos demônios, mas não sabíamos lidar com eles. Às vezes os demônios ganham, e quando perdem, ficam à espreita, esperando uma brecha para uma revanche. 

E então...eles ganham. Mas isso é adiantar demais as coisas. Aqui, vou compartilhar uma história que em um certo ponto do namoro-desnamoro-namoro de novo onde realmente tive medo por ela. E o demônio que causava esse medo e a transformava em junkie assumiu o controle sobre mim poucos meses depois. De certa forma, ele quase levou duas almas pelo preço de uma. 

Às vezes ela aparecia na minha casa do nada, cheirávamos e em algum momento, a nevasca que pegávamos acabava detonando a cabeça de um de nós dois. E então, o outro disparava para o quarto e voltava com toda a parafernália de heroína como se fosse um kit de primeiros socorros.

É aí que mora o perigo: a cocaína é um hábito, vem e vai, tem dias que precisávamos dela, em outros ela era essencial. Quando a heroína veio para "somar", começava bem sutil: primeiro era um pico para cortar a paranóia. Depois, era um pico porque não cortou a brisa direito. Depois, a brisa da heroína passou muito rápido, e por aí vai.

Às vezes, jurávamos nunca mais injetar; ao invés disso, misturávamos as duas para cheirar, ou seja: perseguir o dragão e assim, ficávamos chapados e de consciência tranquila no conforto da mentira: "temos tudo sob controle, essa merda não domina gente como nós".

Outras garotas costumavam vir na minha casa, mas por algum motivo, era o nosso segredinho essa "esperteza". Nas outras visitas, sexo tinha a ver com dominação, do mais forte contra a presa fácil e depois eu só queria que a garota evaporasse da minha casa. Em um estalar de dedos, puf! desapareceu. Então, me fechava no closet e injetava, cheirava, bebia lá dentro até ter certeza que a garota em questão já tivesse ido embora. Hoje em dia penso que era uma insanidade tão absurda: eu me escondia dentro do meu closet, na minha casa, porque outra pessoa estava lá...que porra de sentido faz isso? ficar trancado e escondido esperando a garota se tocar e dar o fora, não era mais fácil dispensá-la? Mas nem com esse trabalho eu estava disposto a me incomodar.

Às vezes a Mavie chegava com um saco de cocaína e misturávamos. Durante uma turnê que passava por NYC, a Vanity e a Cherry (que não estavam tão fundo no poço, mas estavam dentro dele também, principalmente a Cherry) notaram antes de subirem para o palco que tinha um microondas no camarim. E então, a merda estava feita. Bastava a cocaína, algumas outras coisas misturadas, um papel alumínio e tubo de caneta e pronto: elas todas estavam piradas, elétricas e mais agressivas do que de costume depois de fumar aquela merda.

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