NA PALMA DA MINHA MÃO

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Todo viciado é um tremendo idiota na maior parte do tempo que resta quando não está pensando em arrumar mais uma dose. Sabia que as garotas - principalmente a Vanity - seria capaz de me enxotar da banda se descobrisse que eu tinha dado um único pico que fosse. Então, quando recebi alta do hospital, aceitei de bom grado o convite-ordem da Vanity e fui direto para o apartamento dela.

Sei que o Sparky ligou uma vez e a Vanity agiu como se fosse um segurança particular e mandou ele tomar no cu e nunca mais ligar. Eu entendia os motivos dela...
... mas na verdade, se havia alguém que eu não queria que se afastasse de mim, era ele.

Afinal, ele sempre arrumava mais drogas e mais rápido que qualquer traficante que eu conhecesse. O resto, bem..eu dizia pra mim mesma que sempre era divertido transar com ele. Enquanto isso, o Bret estava praticamente fora da equação e por isso já estava começando a ficar de saco cheio. Eram muitas drogas, o tempo todo. Ninguém contou onde eu estava quando tive aquela overdose, mas acho que ele nem sequer precisava ouvir para saber.

Assim, durante duas semanas, estava de castigo na casa da Vanity em Hidden Hills. E eu fingi o máximo que podia que estava determinada a me livrar do lixo. Na verdade, esperava até que a confiança estivesse recuperada (a gente sempre acha que é só ficar boazinha por uns dias que a confiança se restaura - !). Acontece que a Vanity, nem ninguém tinha paciência de ficar fechada em casa de babá de uma marmanja de 25 anos que deveria saber se virar. Isso me incomodava, porque eu sempre soube me cuidar, e agora todos agiam como se eu fosse uma criança. Por que eu era tratada como um bebê e todos os outros - inclusive o Sparky - eram apenas casos perdidos e "deixe ele se matar, se ele quer tanto"?

A Vanity e eu brigamos por isso e alguns outro motivos certo dia e ela abriu a porta e disse "Quer saber? Tem razão. Quer se matar, vai fundo. Se mantenha pelo menos semi-viva até voltarmos de Denver, depois a gente se vira sem você!" . Se eu me ofendi? Um pouco. Mas tinha certeza que era sério: eu só ia tocar em Denver e depois estava limada.

Foda-se.
Precisava exorcizar alguns demônios que me atormentavam em segredo, mesmo...ou talvez deixar que um deles me levasse.

Virei a chave do Maverick direto para Van Nuys.

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Então, ela estava na minha porta, e a última vez que ela esteve lá teve uma puta overdose do caralho e fez eu ir parar praticamente seminu num hospital e correndo o risco de acabar preso ou internado, e queria mais heroína?

Bem no único dia que eu consegui passar a manhã sentado na beira da piscina compondo, bebendo café e tomando sol, sem nenhuma droga... mas...já estava de saco cheio de ficar sóbrio e aquele monte de lembranças ruins estavam voltando. Meu avô Tom tinha ligado e eu pensei que estava melhor por ter falado com ele e a Nona, mas na verdade, fiquei sóbrio lutando para manter essa lembrança fresca na memória, mas esse tipo de coisa sempre arrastava um monte de lixo para a superfície. Era difícil escolher entre a saída mais fácil ou fazer a coisa. Nenhuma circunstância ajudava...

Talvez ela fosse uma boa ouvinte ainda, e pudesse me ouvir contar um pouco, mas não consegui falar muito sobre essas coisas. Ela estava feliz porque meus avós tinham ligado, e provavelmente se tocou que não ia ter heroína naquela tarde. Tentando ser pelo menos um pouco mais cavalheiro, chamei ela na cozinha.

— Você já almoçou? Parece um pouco lerda...

— Lerda eu sempre fui, Spark...você que não notou. Mas...

— Vamos ver o que eu tenho aqui...será que isso ainda pode ser usado para um sanduíche?

Tinha um pedaço de presunto com uma crosta gosmenta e esverdeada que eu coloquei em cima da bancada e ela torceu o nariz na hora.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now