PRIMEIRA SEMANA: Nova Orleans, Louisiana

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PRIMEIRA SEMANA: Nova Orleans, Louisiana - 1 - TIPO COELHOS

("Rodeo" - Motley Crue)

Enquanto os outros levavam a bagagem para o ônibus e se perguntavam de quem eram as calcinhas, sapatos, sutiãs, eu tinha uma única mala com: três camisetas, uma calça jeans e uma calcinha esquecida ou um anel. Ao contrário dos caras, eu sabia a quem pertenciam. Nem me importava com isso, era uma constatação engraçada.

— Quem é você, o que tá fazendo aqui? — O Razzle me zoando quando passou, enquanto me sentava na frente da janela.

E eu me importava? Tava pouco me fodendo. Não fazia diferença pra mim. Ele e os outros dois, Tony e Jack sempre estavam em bares de strip comparando peitos, quem era mais bonita ou apenas "comível". Eu estava sempre tão trincado que não via nada. Enfiava o pau sem ver em quem. Quando ainda estava em condições de fazer alguma escolha, sempre me identificava com aquela que estava entre o "comível" e "inaceitável". Alguma bartender, groupie ou coisa do tipo.

Eu sabia que estava fodido - que era um fodido, e não aceitava mais que isso. Mas isso foi antes. A Mave era um lance pra valer. Pensava em comprar cachorrinhos juntos, sabe?

Mesmo assim, ela ia no ônibus da Venomous e eu, no ônibus da Dazzle. Isso estava fora de questão: cada um com a sua banda.

Em Nova Orleans, começamos a criar problemas. Enquanto estava com os caras, eles procuravam garotas e eu procurava drogas,e é incrível como as duas coisas sempre estavam no mesmo lugar.

Como sempre, reservamos um quarto a mais no hotel, levamos algumas das garotas para lá. Tudo que um rockstar precisa: comida, bebida aos montes, garotas em excesso e para mim, um balão de cocaína e um balãozinho de heroína. Perfeito. Um dos caras que trazia drogas comentou que era melhor levarmos as garotas de volta para o bar depois que a noite acabasse.

— Está em todos os jornais. Duas garotas desapareceram, uma era daqui e foi encontrada na margem do rio.

— Caralho...por isso que eu não leio jornais.

— Mesmo assim, avisa os caras: é melhor não levantar suspeitas por aí. Tem crente pentelho o suficiente para jogarem tudo nos ombros de vocês.

Fazia sentido, e avisei para os caras, não acreditava que eles levariam a sério, mas a minha parte estava feita. Um suspeito a menos, pelo menos.. Cada um levou as garotas que escolheram para seus quartos e eu, como de costume (pré-Mave, inclusive) fiquei com a parte dispensável, a comida. E a parte indispensável: música alta, drogas e bebidas.

Estava completamente trincado quando ouvi a maçaneta da porta abrindo, e podia jurar que era a polícia...não, não, era um assassino pensando que eu era uma garota...não, era o FBI...não...traficantes querendo a minha cabeça.

Acredita que tudo isso passou na minha cabeça enquanto uma porra de maçaneta abria a porta? Jesus, em dois segundos! Pulei para atrás da cama e peguei uma garrafa vazia que encontrei no chão e fiquei à espreita olhando por baixo da cama.

— Querida, cheguei...

Idiota...Eram mais de 22h e o show da Venomous acabou. Imbecil neurótico do caralho!

— Spark?

Eu deitei pra cima e fiquei olhando pro teto. Era melhor que ela pensasse que eu era um drogado letárgico do que um neurótico passando ridículo!

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Foi o maior susto que ele me deu, pensei que ele teve uma overdose ou coisa do tipo, mas só estava doidão. De qualquer forma, não chegou nem perto de ser o pior susto que eu levei nessa turnê, mas não vou tirar a sequência dos fatos.

Todo aquele lance que estávamos criando era muito recente, então transávamos como coelhos. Eu sabia das strippers e não esperava nada diferente. Os caras saírem para festa e deixarem um deles para trás? Hahaha! Só lamentava não poder ir junto, mas a gente também sabia se divertir sem eles, apenas em uma escala mais branda.

Nessa situação em específico, eu dava tapas no rosto dele tentando acordá-lo, e ele não se mexia. Subi em cima dele para alcançar uma garrafa de água que estava na mesinha de cabeceira ( tinha uma calcinha fio-dental amarela em volta da garrafa), que ia jogar na cara dele para acordá-lo, quando senti um puxão nos meus dois braços e o meu coração quase saiu pela boca.

— Filho de uma puta! Quase morri de susto!

Ele gargalhava de um jeito ridículo, como um palhaço monstruoso e me puxou para me beijar.

— Você é um cretino escroto de merda, sabia?

— Como foi o dia no escritório? — ele esperava que eu respondesse, mas como poderia com ele mordendo meu lábio?

Eu lembro que comentei com o Sparky que estava ficando cada vez mais estranho; um cara de casaco azul, com o cabelo loiro preso e óculos estacionou o carro duas vezes do lado do ônibus quando paramos na estrada. quando chegamos no hotel, não deixei de perceber que o carro dele estava no estacionamento, bem na vaga ao lado do ônibus.

Durante o nosso show, ele estava na primeira fila. Com um copo de refrigerante do Piggly Wiggly. As pessoas se acotovelavam e bangueavam no gargalo do palco, e ele continuava lá como se não estivesse acontecendo nada!

Eu tinha calafrios quando via ele lá, e ele estava lá o tempo todo. Quando terminamos e fui agradecer o público, ele não estava mais. Devia ter ficado mais calma, mas era impossível. Era como se simplesmente saber que aquele cara existia fosse mais que o suficiente para mudar o mundo inteiro ao meu redor.

O Sparky não levou muito a sério, e ele estava certo pelo menos na perspectiva dele. Se tem uma coisa que chovia nos shows da Dazzle eram fãs esquisitos. Então, voltamos o foco para o que eu realmente fui buscar naquele quarto. A mesma coisa que ele estava esperando. E em questão de segundos, todas as roupas estavam espalhadas pelo chão, eu estava deitada na cama com as pernas abertas e os pés no chão. O Sparky dormia com a cara afundada entre as minhas coxas, ajoelhado na beirada da cama.

Acho que ele tentava queimar a energia acumulada com a cocaína e depois tentava descarregar o resto da energia sexual em mim. Não que me importasse, mas era uma teoria interessante.

Na manhã seguinte, mais uma vez eu estava na piscina com a Cherry e a Vanity. Estávamos bebendo em paz, era cedo o suficiente para todos os caras estarem desmaiados como vampiros em catacumbas.

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Não tenho certeza se foi nesse hotel, estávamos eu, a Mavie, se não me engano os caras da Slaughter e, lógico, a Vanity e a Cherry. Fazíamos todos os tipos de apostas mais imbecis. Eu e a Mavie colocamos em cada andar um copo cheio de vodca pura e um copo com água na frente do elevador de cada andar, descemos para o térreo e a aposta era: ela e a Vanity iriam correndo pelas escadas e tinham que alcançar os copos e virá-los antes da porta do elevador abrir. Eu e o Mark estávamos no elevador. Quando elas chegavam primeiro, a gente trocava de lugar, e tinha que subir correndo e virar os dois copos no andar de cima se não quiséssemos ter que correr mais um lance de escadas.

O problema é: numa corrida maluca dessas, não tem como saber qual copo tem água ou vodca. Dar um gole para experimentar quebrava as regras. Quem ganhou a aposta? Acho que ninguém. Todos nós em algum momento caiu escada abaixo. A Cherry se perdeu de tão bêbada e o Mark, por mais que fosse o mais saudável (ou menos estragado) entre nós, simplesmente desistiu uma hora e se deitou na frente do elevador, e a única vez que se levantou foi para vomitar.

E nem foi a pior que aprontamos. Nosso produtor, o Phil, por algum motivo tinha assumido com o Doc e estavam dividindo a responsabilidade de produzir tanto a Venomous quanto nós. Era como dividir uma professora de primeira série pelo meio e deixar cada metade com uma turma.

STARRY EYESUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum