MAYDAY

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Porra! Você tem ideia de quanto os homens são lerdos? Tá, eu estava hesitando demais, estava mesmo.

Sabe por quê? Por que eu não sabia de onde veio aquela atração toda. Estava bem feliz em satisfeita por ter passado aquele tempo todo com ele sendo como "um dos caras". E agora, de repente, estávamos virando o que? Um casalzinho?

Era só uma atração barata, não devia importar, devia ser algo físico que ia começar e acabar naquela noite. E uma voz falava bem baixinho no lado esquerdo do cérebro: "não é nada disso. Mayday! Mayday!". Eu não costumava ignorar essa voz, mas puta merda...ela devia falar só um pouquinho mais alto. Se eu tivesse escutado com mais atenção, pelo menos...

Ele estava deitado parecendo um Nosferatu, com as duas mãos cruzadas no peito e os olhos chapados arregalados. A gente era muito, muito jovem. Eu devia ter uns...23 anos na época. Ele tinha 24 anos só por um mês de diferença.

Que merda, por que eu tô enrolando tanto? Até hoje é tão difícil admitir? Preciso mesmo de terapia...Sabe quando os cavalos no jóquei estão esperando o tiro de largada dentro da baia? Eu estava assim, mas com certeza o tiro já havia sido disparado. Eu que não queria correr para a pista.

Orgulho? Um pouco. Medo? Não se você ignorou a parte que respondi sobre o orgulho. Deve ter sido um momento digno de Hitchcock para ele, enquanto eu pensava se devia continuar falando, se devia agir, levantar e sair dali ou apenas me deitar e dormir.

Afinal, eu estava mesmo morta de cansaço.

— Se eu fizer alguma coisa, eu não sei agora se é por que estou chapada demais ou se é vontade própria.

— Hm. Tudo bem... — era ridículo! Ele estava completamente alheio, ou era muito bom em se fazer de idiota. Ele ainda estava com os olhos abertos, menos arregalados. Estavam verdes, agora que o efeito tóxico passava e as pupilas voltavam ao normal.

— Que se foda...
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Se eu disser que não queria, pode jogar o bom e velho raio na minha cabeça, que seria uma mentira descarada. Mas eu não esperava. Já estava bem conformado que ela seria sempre "um dos caras". Sabe, aquela mina que está sempre por perto, mas que derruba qualquer macho no balcão do bar?

Já via ela mesmo como uma espécie de irmã mais velha, nunca uma irmã mais nova. Irmãzinha a gente sempre tem uma coisa meio paternal, ainda que tosca. Imagina alguém bancar o "irmão mais velho" dela?

Sei lá porque diabos estou enrolando tanto pra falar de vez o que aconteceu.

Basicamente, antes que eu pudesse pensar que aquele "que se foda" não era para mim, ela já estava metade em cima de mim. Mas eu curti, curti muito mesmo. Quer uma coisa mais bizarra? Juro, ela estava com a boca colada na minha, meio que voou pra minha cara, sabe? A minha mente meio que apagou na hora, só estava curtindo o beijo. De repente parecia que o diabo no meu ombro esquerdo me espetou com o tridente e berrou: "ACORDA, PORRA! A MAVIE ESTÁ EM CIMA DE VOCÊ, ELA TE QUER, VAI PRA CIMA!".

Por que até então, estávamos nos beijando, ela estava com uma mão na minha nuca e com a outra, os dedos fechados no meu cabelo igual um reflexo de bebê. Onde eu estava com as minhas mãos? Parado feito uma múmia, paralítico. Foi como se um choque me acordasse de repente e então eu a abracei, apertei ela contra o meu corpo. "É por isso que você devia tomar um banho de vez em quando, suíno estúpido!". Mas ela não parecia ligar.

Quanto tempo ficamos só beijando assim? Não tenho ideia. Ela se esfregava com a coxa entre as minhas pernas, eu segurava ela com toda força, não sei se para evitar que ela parasse a qualquer momento (o que era uma espécie de ameaça real - quem sabe o que passava na cabeça dela?) ou porque estava doido de tesão e queria entrar dentro dela de qualquer jeito.

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