ULTIMO DIA DE ZUMBI

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Estava uma chuva torrencial lá fora, mas a chuva só espalhava o calor acumulado dos últimos dias de verão por toda parte. Eu não sabia ainda o que fazer para convencer ele de vez para a reabilitação. Ele entrou na cozinha e abriu a geladeira, pegou uma garrafa de suco e se sentou na bancada.

- O que vai ter pro almoço hoje, mãe?

- Acho que o seu pau, picado em pedacinhos e frito com bacon, o que acha? - eu respondi apontando a faca pra ele. E ele soltou a primeira gargalhada genuína em todos aqueles dias.

- Sabe o que é foda? Eu tô começando a ficar entediado pra caralho aqui. Não podemos dar uma volta no parque ou coisa assim?

- Nessa chuva? foi só você tomar um banho e já se empolgou...

O que você acha de alguma outra coisa...qualquer coisa mais divertida do que ficar deitado na cama feito um velho comatoso...

Pior que ele tinha razão...estava um puta marasmo. A única coisa que fazia era dopar ele com Paquipax, rejeitar ligações de viciados e traficantes e ocasionalmente, discutíamos. De repente o telefone tocou e ambos reviramos os olhos. O Sparky já tinha sacado a dinâmica da coisa e apontou para o telefone que estava do lado dele, na bancada.

- Tem tanto sofá e poltrona nessa casa, e você vai ficar sentado aí? - eu perguntei enquanto pegava o telefone.

- Mantém meus ovos frescos...

Puxei a orelha dele de novo enquanto atendia o telefone, totalmente indisposta, na verdade.

- Mavs? Como que estão as coisas aí?

- Ah, Tony...que alívio que é você...

- Ele tá bem? o que pegou?

- Está bem...acabou de tomar um banho, sobreviveu...

- Deve ter demorado...liguei algumas vezes, e ninguém atendia.

- Até começar a dissolver o sebo, levou uns 25 minutos...pra começar o cabelo demorou mais...

- Hahaha, posso imaginar, deve ter entupido o ralo e tudo! Escuta...só queria saber, você precisa de alguma coisa, dar uma passada na sua casa, sei lá...?

- Não, T...mas obrigada, mesmo...

- Que eu leve alguma coisa aí pra vocês, que eu fique com o bebê pra você descansar?

- Você quer vir aqui, né...pode falar...

- (glup) sei lá, vai que ainda tá bichado...

- Bom, a casa não é minha, só estou de cão de guarda aqui...ah, que se foda, por que não?

- Mais tarde eu passo aí então...não tô numa condição boa agora.

- Que surpresa...hahaha...até mais então...

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- Mas que...quem era, o Tony?

- Ele mesmo. Disse que vem aqui mais tarde.

O Tony nunca foi só meu parceiro de banda. Ele era mais que um baterista, ele era meu amigo, meu irmão. Não era nenhuma surpresa ele ligar ou vir visitar. A demora, sim era uma surpresa.

- Ele já tinha ligado antes?

- Algumas vezes, mas você estava apagado. Sabe como é, ele gosta muito de você...

- É...como um golden retriever.

Ela passou reto por mim, e eu segurei o braço dela. Bom, imagina você, estávamos pelados debaixo do chuveiro e nada aconteceu. Ela se deitava e dormia do meu lado, e nada...mais um pouco e meu pau ia bater na testa!

STARRY EYESWhere stories live. Discover now