SEGUNDA SEMANA: Jackson, Mississipi

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Leste a Oeste e de volta
Estrada, cansaço, é insano
Trancadas e amontoadas numa lata de sardinhas
A única coisa que queremos é gritar
Não tem saída, não tem como fugir
O mapa indicou o caminho errado
Todo dia parece o Dia da Marmota
Dizemos a nós mesmas que tá ok

Muitas noites longas demais
Perdendo o controle
Mas é o que temos que aceitar
Aceitar como uma banda.

1- Pelos quartos

Chegamos todos no mesmo hotel, com poucos minutos de diferença. Eles ainda estavam tirando os equipamentos do ônibus quando chegamos. Olhei ao redor assim que desci do ônibus, mas nenhum sinal do carro daquele cara. Alívio.

Naquela noite, pudemos dar uma volta, por algum motivo o Razzle não estava a fim de continuar sendo um cuzão e convidou a gente para sair com ele e o Tony.

Era bom demais para ser verdade, e a balada era em um bar de strip. A intenção dele era me ofender de alguma forma, ou talvez forçar o Sparky a fazer alguma besteira, mas não deu muito certo. Acabamos eu, o Sparky e duas delas em uma dança particular em um dos quartos.

Vai lá e pede pra sua namorada te acompanhar também, Raz...

Ele estava bem frustrado quando descemos de volta para o bar. Injetamos de novo algumas vezes lá mesmo, no banheiro do bar e percebi que o Sparky estava muito, muito inquieto enquanto as pessoas tentavam conversar com ele. Era como se ele estivesse sempre procurando uma rota de fuga. Ele foi umas dez vezes a mais para o banheiro, mas eu já não queria mais trincar e acabar dando na cara que estava me picando. Ele sabe disfarçar bem melhor.

Chegamos de volta para o hotel quando estava amanhecendo, estávamos de novo chapados, bêbados e com o tesão nas alturas, e ele demorava muito para gozar quando injetava. Tudo começou com um boquete no elevador e terminamos fazendo um tour pelo hotel, e transamos um pouco em cada um dos quartos que encontrávamos com a porta destrancada. Acho que era o mais perto de uma lua-de-mel que conseguíamos criar? Um hotel em uma ilha do Caribe? Rá.

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2- MEDO NO PALCO

Como comentei, todos nós estávamos em uma comemoração infinita, e ninguém para cuidar das crianças. No próximo show da turnê, éramos a segunda banda do line-up, depois do Slaughter e antes da Dazzle. A fissura da heroína é bem pior que de cocaína. Lembro que a primeira vez que cheirei, não foi a onda que me assustou, mas como foi rápida a sensação de urgência por outro tiro. Durante um mês, não conseguia pensar em outra coisa, todo lugar que ia, precisava de um teco. Isso me assustou na época, e cortei de repente, fiquei alguns meses resistindo à tentação de mandar mais um, de arrumar com alguém um eight ball e bebia como um pirata para calar as vozes. Depois de um tempo, comecei a me permitir de vez em quando. Até então, essa era a diferença entre eu e o Sparky: ele nunca conseguia beber até cair, tinha que esvaziar o bar; não podia cheirar um pouco, tinha que trincar até ficar alucinado.

A heroína...bem, uma coisa que posso afirmar com 100% de certeza é que é a droga mais ridícula de todas. O primeiro baque revira as suas entranhas, você fica imobilizado e parece que vai morrer com o coração acelerado arrebentando o peito. Eu fiquei meio "olha, não sei se gostei disso não". Mas mesmo assim, você precisa de mais. Você repete, so mais um, daqui a uns 15 dias se esforçando para não usar de novo, você quer logo uns 15 baques para compensar a ausência. E aí, sai de controle enquanto você pensa que está se controlando.

Eu ainda estava tentando fingir que não estava nessa, inventando qualquer desculpa para entrar no banheiro enquanto estávamos esperando a nossa vez de subir. Mas toda vez, acho que elas ouviam eu vomitando alucinadamente, mesmo que saísse com uma cara normal. Os olhos tombados nunca eram algo que poderiam estranhar, podia ser qualquer coisa. Eu tinha acabado de dar outro baque (e lógico que estava vomitando em jatos) quando ouvi uma batida na porta que quase minha alma saiu do corpo.

STARRY EYESWhere stories live. Discover now